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Filhos são um recomeço
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Não nos damos conta de como a chegada de nossos filhos nos leva a olhar para nossas questões mais doloridas

Tenho me questionado por que a chegada dos filhos provoca tantas transformações e emoções. Alimento algumas teorias sobre o assunto, com base na minha experiência pessoal e na lida diária com pais e mães.

O primeiro ponto é que não fazemos a menor ideia do que significa criar um filho. Somos cobrados para tê-los e não refletimos sobre as demandas emocionais dessa função. Pensamos em dinheiro, espaço, comida, mas o maior comprometimento é intangível. É sobre o quanto somos capazes de nos doarmos para o outro. E, em um momento regido pelo olhar para o próprio umbigo, chegamos a um beco sem saída. Filhos são um reinventar.

A segunda questão está ligada à primeira: o quanto a nossa história e buracos emocionais vão vir à tona com a chegada dos filhos. A gravidez transcorre bem, você se prepara, mas ninguém te conta que leva-se para casa um ser humano. Depois de parir é comum dar tilt, e o que acontece, a partir daí, é um resgate involuntário de dores, histórias e memórias do passado. Dói perceber que somos agentes da própria vida e que, mesmo sem ter recebido o amor que gostaríamos, é preciso dá-lo ao bebê. Durante um período, a clareza sobre tudo isso pode não existir, mas basta uma vontadezinha para iniciar essa jornada. Filhos são um belo e longo caminho de cura.

A terceira é que acreditamos que, como já fomos filhos, trazemos a sabedoria dos pais, e que naturalmente vamos vencer os desafios. Mas não há lógica nessa maneira de encarar a maternidade e a paternidade. Diante de nós, o que se apresenta é um desconhecido, por quem podemos nutrir um amor gigante, mas que teremos de desvendar por conta própria ou com a ajuda de profissionais. Filhos são um recomeço.

Lua Barros é educadora parental e mãe de quatro filhos, mas também consegue ser outras  coisas quando sobra tempo. @luabarrosf

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