O afeto pela própria história como caminho para a felicidade
Na quarta edição do Congresso Internacional de Felicidade, Maria Marta fala sobre ter abraçado a própria história para ter paz
Na quarta edição do Congresso Internacional de Felicidade, Maria Marta fala sobre ter abraçado a própria história para ter paz
Nascida no agreste de Alagoas, Maria Marta está feliz. Mas o caminho para encontrar esse sentimento foi uma árdua construção: mulher, negra e de origem humilde, precisou abraçar a própria história para ter paz. Atualmente, promove, à frente do Instituto Tamo Junto e da Associação de Preservação do Peixe Boi, aquilo que mais prega e acredita, que é ajudar o próximo.
No IV Congresso Internacional de Felicidade, que acontece entre os dias 2 e 3 de novembro, em Curitiba, Maria falará justamente sobre como o empoderamento da própria trajetória é libertador.
A busca pela felicidade é algo, acredito, inerente ao ser humano. E há quem acredite que, para ter isso, é preciso ter muitos bens materiais. Você tem uma história de vida que foi marcada por adversidades. Lá atrás, você conseguia enxergar a felicidade mesmo em situação de fome? Realmente ter uma qualidade de vida melhor facilita na busca pela felicidade?
Lá atrás eu já enxergava a questão da felicidade na minha infância, mesmo tendo sido muito pobre, passado fome. Na minha casa tinha muita felicidade. Minha mãe não encarava essa coisa da felicidade como negativo, mas sim como incentivo para buscar coisas melhores. Não tinha luz elétrica, por exemplo. Mas à noite, quando escurecia, ela juntava todo mundo na frente de casa, fazia uma fogueira e até mais tarde ficava contando história para a gente. E aquilo era fascinante. A gente nunca enxergou infelicidade por não ter algo ou por ter pouco.
Adquirir bens materiais não é adquirir felicidade. Seria bom que fosse assim. Mas é o oposto – em muitas vezes, quanto mais você tem, mais infeliz se torna, porque fica uma busca incessante para ter mais. E parte das pessoas para de enxergar a necessidade do próximo, de ajudar o outro.
Sua palestra é sobre o poder da fala na libertação. Como se empoderar da própria história ajuda a encontrar a felicidade?
Algumas vezes, o ser humano tem que aprender a aceitar a sua condição e a sua história. Foi assim para mim, principalmente, porque passei por coisas muito ruins – fui vítima de violência e me marcou muito. E ao invés de falar e conversar, mesmo perdoando o agressor e resgatando a minha fé, foi muito difícil a aceitação e eu conseguir me expressar. E a gente precisa aprender a valorizar a nossa história, porque é ela que nos trará felicidade.
Porque a busca da felicidade nada mais é do aceitação disso e a gente tentar resgatar e superar as dificuldades para alcançar a felicidade. Buscar o perdão, o amor, a compreensão, a ajuda ao próximo, e isso foi fundamental para mim.
Falar e acolher a história de vida nem sempre é fácil. Como conseguir se libertar e assumir a própria trajetória?
Eu consegui assumir e aceitar quando quebrei os paradigmas de outras pessoas em relação a mim – elas têm a tendência a se referir a quem é mais humilde como coitado. E a pessoa acaba absorvendo isso. Isso foi muito complicado na minha infância, porque as pessoas me tratavam como coitadinha, pobrezinha… E prejudicial porque eu queria me igualar as outras pessoas, me sentir igual, quando na verdade eu já era, porque somos todos iguais. E aceitar que minha trajetória para conquistar coisas, como a educação, foi algo bom, que é algo que faz parte de mim.
Assim como a aceitação pessoal. Por exemplo, eu passei a vida toda usando química no cabelo e quando eu decidi tirar, eu não lembrava como meu cabelo era. E foi chocante para mim na época. Fiquei pensando que aquilo que fazia com o cabelo nada mais era do que me colocar sempre na visão das outras pessoas, do que elas esperavam de mim, querendo me igualar. Isso causa sofrimento para todo mundo, principalmente para uma criança negra, pobre e mulher. Então quando eu aceitei minha história, quem eu era, como eu era, meu corpo, minha cor, foi libertador. Foi uma superação muito grande, foi quando me desenvolvi e cresci mais como pessoa e pude ajudar outros, em especial mulheres, em situações similares.
O que é felicidade para você?
Nada mais é que transformar a vida de outras pessoas, ajudar outras pessoas, espalhar o amor, o perdão, aceitar que nem tudo na vida tem que ser bom, porque a gente tem que passar por dificuldade para acontecer a evolução. Se não chegou o final feliz ainda é porque não chegou o fim. Então, se não estou feliz, é porque tenho que batalhar mais, correr mais atrás.
O amor ao próximo é algo que tive muito vivo dentro de casa. E isso trás muita felicidade. Bem material é uma vitória, uma conquista sua, mas isso não significa ser feliz – felicidade está na essência, vem de dentro. Quando a gente se dá e doa, automaticamente recebemos. É a lei do retorno.
Saiba mais sobre o Congresso Internacional de Felicidade: congressodefelicidade.com.br/
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