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Os benefícios das artes manuais para as pessoas e o coletivo
Artes manuais são conexões com o passado e o presente; um verdadeiro mindfulness (Foto: Tanaphong Toochinda / Unsplash)
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Neste artigo:

Mariana Beneti Gomes, assinante da Vida Simples, enviou para o blog Você + Simples a sua percepção sobre trabalhos manuais com linhas, como crochê, tricô e bordados. Boa leitura!

A pessoa está lá mexendo as agulhinhas e passamos sem dar bola. Quem trabalha com artes manuais vai criando uma tripinha de lã sem graça e sem sal, e nos parece inacreditável que dali saia alguma coisa que tenha alguma serventia.

TV ligada, papo rolando ou mesmo em silêncio, a pessoa continua criando ponto por ponto, como que do nada. Parece coisa de gente mais velha que passou a viver em um mundo seu, à parte daquela realidade de todos nós, com nossos “corres” e posts e prazos e ansiedades.

A pessoa senta na cadeira, puxa uma bolsinha com seus apetrechos e começa a fazer aquela cobrinha que vai saindo dos movimentos das mãos. Aos que vivem no mundo moderno, conectadíssimo, aquela pessoa parece desassociada da realidade.

Os que praticam artes manuais sabem que os trabalhos feitos com as mãos são sim uma conexão direta com o mundo. Cada ponto tem um pouco da energia de quem a cria.

Peças feitas assim estreitam laços, nos conectam de uma forma mais primitiva, uma transmissão de energia etérea. As peças feitas em tricô, crochê, com bordados ou costuras manuais são presentes que transmitem carinho.

É, portanto, um tipo de atenção que uma roupa comprada pronta não consegue entregar. Afinal, peças feitas à mão têm vida.

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Artes manuais conectam pessoas

Nesse mundo agitado, a arte manual é também uma forma de conexão consigo mesmo. Serve de antídoto à correria. É uma terapia, um remédio contra a ansiedade.

Não tem mistério e nem mentira: para fazer a peça tem que cumprir todos os pontos, um a um, pelo tempo que for necessário. Não tem atalho, cupom de bônus, promoção de influencer, dinheiro ou poder que mude isso.

É um processo a ser cumprido, como todas as coisas do mundo são (mas que aceleramos e agora não damos mais conta). O crochê pode te salvar desse excesso de contemporaneidade.

Há comunidades muito interessantes e ativas nas redes sociais que reúnem-se para trocar informações sobre os mais diversos tipos de artes manuais, envolvendo gente de todas as idades, socializando mediante a troca de informações e histórias.

Pesquisando nas redes, vemos cada vez mais comunidades jovens se beneficiando dos processos artesanais para desenvolver relações interpessoais, para ajudar necessitados, para lutar contra preconceitos e expressarem-se por meio de suas criações.

Já visitou uma loja de armarinhos? Veja o lindo leque de cores e texturas de lãs e linhas – é uma experiência maravilhosa para os sentidos. Cores, tamanhos, formas, o toque dos fios e uma enorme possibilidade de produzir peças diversas: blusas, bolsas, tapetes.

Não tem como não estar no tempo presente quando estamos escolhendo os materiais, portanto praticar artes manuais é um mindfulness imediato e delicioso.

Conexão com nossas ancestralidades

Eu acredito, ainda, que a arte manual nos conecta à nossa ancestralidade, a todas aquelas mães, avós, bisavós, tataravós que antes de nós produziam peças em casa.

Sempre havia alguém fazendo alguma coisa: um bordado, um tricô, um ponto cruz, um crochê. E muitos de nós guardamos em casa aqueles trabalhos lindos recebidos de outros tempos. Presentes que são como joias de família, passados a cada geração. Peças, enfim, que que já não se faz mais com essa qualidade e capricho.

Imagino a vida de quantas mulheres entrelaçadas pelos pontos que deram usando lã ou linha. É, sobretudo, lindo pensar que estamos todas ligadas nesse trabalho de aprender a viver dentro do tempo, e que não se pode apressá-lo: as coisas ficam prontas quando prontas, não antes.

Como escreveu Manoel de Barros no poema A Tartaruga:

“A gente só chega ao fim quando o fim chega! Então, pra que atropelar?”

E assim são as artes manuais: uma forma de aprender a lidar com a nossa irrealizável vontade de controlar o tempo.

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Mariana Beneti Gomes (@caminhada_22) gosta de crochê e tricô, fazendo peças coloridas para doação. É mãe da Manuela e do Fernando, a quem ensina que tudo tem o seu processo e leva tempo.


Este texto foi produzido por um membro assinante da Comunidade Vida Simples e publicado no blog Você + Simples. Escolha um de nossos planos e tenha a possibilidade de ter seu texto avaliado e publicado pela Vida Simples.

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