Menopausa não é papo só de mulher 40+
A leitora Aline Rodrigues enviou para o blog Você + Simples um texto sobre os sintomas da menopausa e a necessidade trazer o assunto ao diálogo
Aline Rodrigues, da comunidade Vida Simples, enviou para o blog Você + Simples um texto sobre o equilíbrio como chave para uma relação próxima e saudável com filhos adolescentes. Boa leitura!
Durante a minha experiencia atendendo mulheres, é cada vez mais frequente que, pacientes entre 40 e 53 anos mais ou menos tragam queixas de sintomas como cansaço, esquecimento ou certa confusão mental, alterações do sono, picos de ansiedade e/ou tristeza mas não conseguem identificar a causa.
Já formam a médicos, já fizeram exames e… tudo normal! Nenhuma alteração relevante nos exames. Algumas buscam ajuda psiquiátrica, entendendo que tudo isso é emocional e, nesta hora, por vezes entra um antidepressivo ou ansiolítico. Mas meses depois não há uma melhora significativa do tratamento e continuam frustradas sem saber o que está acontecendo.
O que muitas de nós aprendemos – e que ainda hoje muitos profissionais repetem – é que menopausa é uma onda de calor intensa que nos acomete um pequeno tempo antes de deixarmos de menstruar. Mas menopausa é muito mais que isso e pode não ser isso, inclusive.
Vou explicar melhor!
A pré-menopausa pode começar até dez anos antes de efetivamente entrarmos na menopausa e isso, claro, vai variar de mulher para mulher – a depender de quando iniciou sua menarca e de tantos outros fatores como uso de hormônios, possíveis cirurgias ginecológicas e genética.
Assim como o tempo de pré-menopausa, os sintomas também variam e vão muito além dos famosos fogachos – muitos são confundidos com outras questões físicas e emocionais, como por exemplo se sentir mais triste, mais ansiosa, mais irritada, impaciente, mais esquecida, confusa mentalmente e com cansaço físico além do normal. Algumas mulheres sentem todos, outras apenas alguns e algumas sortudas não sentem nada.
O peso emocional
E por que sintomas, em especial os emocionais, acontecem se estamos de falando de perda hormonal? A neurocientista Lisa Mosconi aponta em seu estudo de junho de 2024 que a perda significativa do hormônio estrogênio, que começa acontecer já no período da pré-menopausa e se acentua até a menopausa, tem um impacto direto em nosso cérebro, uma vez que os receptores continuam ativos e solicitando a chegada deste hormônio no cérebro. Mas, reduzido, ele não chega de forma suficiente e isso causa todos esses sintomas que falo acima: desgaste, estresse, fadiga, ansiedade, aumento da temperatura corporal, etc.
Problemáticas sociais
Além de todas estas questões emocionais e físicas, a mulher no período de pré-menopausa ainda enfrenta questões sociais com profundidade histórica. Por muitos anos, ao passarem por tudo isso, eram tratadas como loucas ou histéricas (a palavra grega hystera significa útero). Eram medicadas, internadas e muitas até interditadas socialmente.
Após o entendimento de que se tratava de um processo fisiológico, quando a mulher entrava na menopausa, passava a usar roupas pretas. Sim, como se fosse um luto dela mesma! E mais recente que isso, em 1969, David Reuben declarou em seu livro “Tudo o que você queria saber sobre sexo” que “quando os ovários deixam de funcionar, a própria essência da mulher desaparece”. E complementa: “Uma mulher na pós-menopausa chega o mais perto possível de ser um homem. Não é bem um homem, mas já não é uma mulher funcional”. Este absurdo foi propagado por anos e, só no final da década de 90, quando consideraram a participação de corpos femininos em pesquisas científicas, é que os cientistas descobriram a relação dos hormônios com o funcional cerebral da mulher.
Faz parte da vida
Não é por acaso que falar sobre menopausa, assumir que estamos no processo e entender que se trata da natureza feminina ainda é difícil e pode gerar vergonha, inseguranças e sentimento de invalidação.
A boa noticia para tudo isso é que temos o poder de reverter, se não total, mas parcialmente todos es sentimentos e sintomas. E como fazemos isso? Começando agora… e não importa se você tem 20, 30 ou 60 anos! Falando sobre isso com as mulheres e homens a nossa volta, entendo que este é um processo inerente à vida e vamos passar por ele inevitavelmente. Por isso é urgente cuidar dos nossos pilares essências: o corpo (alimentação e exercício físico tem um grande impacto nos sintomas); a mente (se conhecer, estabelecer limites, entender seu valor); a espiritualidade (exercitar a fé e a esperança não importa se com religião ou não); e entender que estes sintomas são temporários e irão passar.
A forma como vamos encará-los é fundamental para seguirmos bem a hora que isso acontecer.
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Aline Rodrigues é psicoterapeuta de mulheres, especialista na abordagem Junguiana e está se especializando em Neuropsicologia.
Este texto foi produzido por uma pessoa assinante da Comunidade Vida Simples e publicado no blog Você + Simples. Escolha um de nossos planos e tenha a possibilidade de ter seu texto avaliado e publicado pela Vida Simples.
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