Entre raízes e asas: atravessando a adolescência na era digital
A leitora Gabriela Hostalácio enviou para o blog Você + Simples um texto sobre o equilíbrio como chave para uma relação próxima e saudável com filhos adolescentes
Gabriela Hostalácio, da comunidade Vida Simples, enviou para o blog Você + Simples um texto sobre o equilíbrio como chave para uma relação próxima e saudável com filhos adolescentes. Boa leitura!
Criar um filho sempre foi um ato de equilíbrio. Mas, na contemporaneidade, esse equilíbrio se tornou ainda mais desafiador. Se antes a liberdade era conquistada aos poucos – a primeira ida sozinha à escola, a primeira festa sem os pais –, hoje ela acontece de forma silenciosa, muitas vezes sem marcos visíveis. O adolescente está ali, dentro de casa, no quarto ao lado, mas, ao mesmo tempo, pode estar em qualquer lugar, em qualquer conversa, em qualquer realidade.
As telas encurtaram distâncias, ampliaram possibilidades e tornaram o mundo acessível em poucos cliques. Nunca foi tão fácil se conectar a tudo e a todos. Mas, junto disso, os pais se deparam com uma liberdade sem fronteiras, onde não há portas a serem abertas nem grades a serem puladas. Antes, a preocupação era saber onde os filhos estavam fisicamente; agora, as inquietações são outras: por onde eles andam no mundo virtual? O que consomem? O que os atravessa? Como protegê-los quando as ameaças não são visíveis?
É um paradoxo. Nunca estivemos tão próximos e nunca os jovens se sentiram tão sozinhos.
Eles estão sempre online, mas será que estão realmente em contato? Vivem expostos, mas, ao mesmo tempo, escondidos atrás de filtros e avatares. São bombardeados por informações e expectativas – a escola exige, as redes sociais cobram, os amigos compartilham vidas que parecem sempre melhores. Tudo acontece em tempo real, sem pausas para respirar. E, no meio desse turbilhão, o adolescente sente que precisa ser alguém perfeito, alguém que só pode acertar.
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Raízes para sustentar o voo
Diante dessa avalanche digital, os jovens se veem sem roteiro. Sentem que precisam ser autossuficientes cedo demais e, no fundo, carregam uma ansiedade enorme por não saberem para onde vão. Ao mesmo tempo, os pais oscilam entre dois extremos: alguns tentam controlar cada passo, rastrear, monitorar, vigiar. Outros, temendo o afastamento, soltam, deixando que os filhos descubram tudo sozinhos. Mas talvez a resposta esteja no meio-termo. Nem vigilância, nem abandono, mas presença.
Os pais precisam ser raiz. Não uma raiz que prende, mas que sustenta. Uma base interna que ajude o adolescente a filtrar o que realmente importa, a suportar as pressões, a confiar que tem um espaço seguro para voltar quando precisar.
Ser raiz hoje significa conversar sem invadir, perguntar sem interrogar, estar presente sem sufocar. Significa criar um ambiente onde o filho se sinta confortável para falar sobre os desafios da internet, as comparações, as inseguranças – sem medo de ser julgado ou punido. Significa ensinar que nem tudo que se vê nas redes é real, que o pertencimento não pode ser medido em curtidas e que a solidão, às vezes, pode ser uma oportunidade de conexão consigo mesmo.
Porque, no fim das contas, deixar os filhos voarem nunca foi fácil. Mas, na era digital, esse voo se tornou ainda mais imprevisível. E se não podemos controlar o vento, ao menos podemos garantir que eles saibam onde é o ninho.
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Gabriela Hostalácio é psicóloga e psicanalista formada pela PUC-Campinas, com mais de dez anos de experiência no atendimento a jovens e adultos. Autora de “Pele, Psicossomática e Psicanálise” e “Entre Raízes e Asas”, obras que abordam a psique humana com sensibilidade e profundidade.
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