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A aula de compaixão e generosidade de uma professora de 5 anos
A professora de compaixão gosta de aulas práticas e, de preferência, em cima da bicicleta (Foto: Thomas Park/Unsplash)
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Edi Truzzi, da comunidade Vida Simples, enviou para o blog Você + Simples um texto sobre sua professora preferida em matéria de compaixão e generosidade: sua filha Sofia, de 5 anos. Boa leitura!

Dedico parte do meu tempo para estudar, e sempre vejo questionamentos sobre como é desafiador mudar o que chamamos de “soft skill”. Uma dica que dou é não desistir de mudar algo que julgue importante.

Não aceite pensamentos limitantes como “eu nasci assim”, “eu sou assim mesmo e não consigo mudar”, “não há nada que eu possa fazer sobre isso”. Com uma boa dose de dedicação, autoconhecimento, persistência e generosidade consigo mesmo, é possível que lindas mudanças aconteçam na sua vida.

Antes de compartilhar a aula de compaixão e generosidade, permita-me apresentar a professora de 5 anos. O nome dela é Sofia, minha filha. A Sofia gosta de aulas “práticas”. E a de compaixão e generosidade não foi diferente, fazendo-me refletir profundamente sobre a minha vida. De brinde, ganhei mais um aprendizado para a minha bagagem.

Ela gostava de uma amiguinha no condomínio onde moramos, mas essa amiga só queria brincar com uma outra criança e não dava atenção para ela. Tudo certo e normal: ninguém é obrigado a brincar com ela ou gostar dela (por mais que como mãe, preciso confessar que sinto muita dor quando isso acontece).

Muitas vezes ela chorava, ficava triste e eu tentava ajudá-la. Algumas vezes tentava distraí-la, brincávamos de outra coisa. Então aparecia outra amiga para brincar com ela e tudo isso passava.

Isso já vinha acontecendo há meses e eu percebia que a cada dia, por mais que não devesse ser fácil, ela ia se fortalecendo diante dessa situação. Talvez porque não nutrisse mais expectativas de que a situação pudesse mudar e decidiu seguir a sua jornada.

A compaixão que movimenta as relações

No dia da aula “prática” de compaixão e generosidade, a criança com quem essa amiga gostava de brincar diariamente estava brincando com outra criança e não lhe deu atenção. A Sofia, filha e professora, estava andando de bicicleta. Percebeu que a amiga que costumava ser indiferente estava triste.

Parou de pedalar, desceu da bicicleta e veio na minha direção. Ao chegar perto, falou: “mamãe, minha amiga está muito triste e eu preciso animá-la. Não gosto de vê-la assim”.

De alguma forma fiquei surpresa, talvez não pela reação dela, mas pela referência de um mundo, muitas vezes marcado pela intransigência, pelo rancor e vingança, onde o “normal” é torcer pelo fracasso e sofrimento dos que nos fazem sofrer, pensam ou são diferentes de nós (talvez numa vã tentativa de fortalecer nosso tão frágil ego nesse mundo fluido).

Que orgulho! A pureza realmente vive nas crianças e sou grata por poder mais uma vez presenciar tal atitude. Parabenizei-a pelo ato de compaixão e generosidade. Mas não poderia deixar passar a oportunidade de explorar a situação e lhe dar mais ferramentas para ela guardar na sua ainda pequena bagagem de vida.

Então continuei a conversa dizendo que estava orgulhosa por ela ser empática, de sentir e ficar triste ao ver a amiga triste. Que ela demonstrava compaixão e querer animar a amiga demonstrava o quanto ela estava sendo generosa.

Mas também reforcei que ela não deveria fazer isso esperando algo em troca. Ou seja, que um dia a amiga fizesse o mesmo por ela. Ou que a partir desse momento, a amiga passasse a brincar com ela constantemente. Ela deveria fazer isso porque era o que achava certo para aquele momento, sem esperar retorno, nem retribuição.

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O que podemos aprender com as crianças

Ela me perguntou porque não deveria esperar o mesmo comportamento da amiga se isso acontecesse com ela. Não sei se consegui, mas numa linguagem simples, tentei passar para ela que sua ação deveria ser baseada no amor e não na dependência ou na carência.

O amor liberta, a falta aprisiona. Aparentemente ela entendeu e foi acolher a amiga. Foi lindo ver a felicidade dela ao ajudar, do jeitinho dela, a amiga triste. Brincaram juntas, se divertiram boa parte da tarde.

O dia seguinte? A menina estava brincando novamente com a amiga tradicional, como sempre acontecia, e não deu bola para a Sofia. Mas como a Sofia sabia que não deveria esperar qualquer retribuição à generosidade do dia anterior, ela seguiu em frente: subiu na sua bicicleta e continuou a sua jornada. O que eu aprendi com isso?

1) A criança não guarda mágoas (diferentemente de muitos de nós, adultos);
2) Ao não guardarem mágoas, elas vivem melhor;
3) Ela faz o que a deixa feliz no momento presente – o passado passou e o futuro ainda não existe;
4) Isso não quer dizer que não se deva aprender com experiências passadas e usar a sua história de vida para evitar os mesmos erros ou a busca de melhores resultados. Nem que não se deva pensar e planejar o futuro. Apenas que deve-se viver o presente, ao invés de ficar preso no passado ou no imaginário do futuro.

E tantos outros aprendizados que as nossas crianças nos proporcionam não é mesmo?!

É desafiador mudarmos nossos comportamentos, mas, se nos permitirmos aprender com a “pureza” das crianças, certamente teremos boas reflexões e aprendizados.

Uma dica de livro sobre empatia

A escritora Kim Scott, no seu livro Empatia Assertiva, fala que nascemos com a capacidade inata de nos conectar com outras pessoas, de nos importar pessoalmente (e foi isso que eu comprovei na aula).

Mas, conforme vamos crescendo e entramos no mercado de trabalho, acabamos reprimindo essa capacidade. E, com certeza, não ganhamos nada com isso, pois, no fundo, e em qualquer situação pessoal ou profissional, queremos pessoas que se conectem de fato com a gente, com as nossas histórias, e que genuinamente se importem conosco.

Que sejamos sábios e vulneráveis como as crianças. Possamos, em várias ocasiões, “alegrar” o outro sem esperar nada em troca, apenas a felicidade do outro naquele momento de acolhimento.

Que nós tenhamos compaixão com o próximo e conosco. E, por fim, que sejamos pessoas generosas, porque, quando se der conta, conheceremos uma versão melhorada de nós mesmos, que nos dará muito orgulho. Você vai ver. Muita paz, aprendizado e felicidade ao longo da sua jornada.

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Edi Truzzi é mãe da Sofia, executiva de gente e gestão, mentora de carreira e liderança, e estudante de Psicanálise.


Este texto foi produzido por uma pessoa assinante da Comunidade Vida Simples e publicado no blog Você + SimplesEscolha um de nossos planos e tenha a possibilidade de ter seu texto avaliado e publicado pela Vida Simples.

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