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Ghosting: por que é mais fácil sumir do que conversar?
Foto: unsplash
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Você conhece alguém, seja em um bar, na rua ou por aplicativo. Trocam olhares, trocam likes, trocam contatos. Conversa vai, conversa vem, e os dois começam a flertar, sair, passar mais tempo junto e desenvolver um relacionamento. Ainda sem rótulos ou cobranças, claro. Mas com os sentimentos se formando, porque esses a gente não consegue evitar.

Então, em certo dia, você manda mensagem e a resposta nunca chega. Como um fantasma, a pessoa some. Horas e dias se passam, e ela desaparece sem dizer nem um “tchau”. É preocupante, parece até uma cena de suspense: será que alguma coisa aconteceu? Mas não, a pessoa está bem, vivendo a vida dela. Quem sofreu, na verdade, foi você: mais uma vítima do famoso e temido ghosting.

Mas afinal, o que leva alguém a sumir?

O ghosting nada mais é do que levar uma espécie de vácuo permanente de uma pessoa que estava se relacionando. A palavra deriva do termo ghost, que significa fantasma em inglês e traduz bem o sentimento de passar por essa situação. É como se a outra pessoa virasse um fantasma, assombrando nossas emoções, mas sem nunca, de fato, aparecer.

Diversos motivos podem levar alguém a sumir de um dia para o outro. “E eu acredito que os motivos para isso possam ser algo bastante particular”, explica a psicóloga e psicanalista Eduarda Cury. Mas, para a especialista, algumas motivações podem engatilhar alguém a ter essa atitude.

“Dar uma explicação demanda lidar com o término, com as reações e com a frustração do outro”, aponta Eduarda. Nesse momento, é preciso saber bancar a sua própria escolha e responsabilidade em dizer “eu não quero mais ficar com essa pessoa”. Mas muita gente pode ter medo da consequência disso.

“Há uma escolha que se estabelece e uma perda daquela relação. Também, acho que inúmeros outros fatores que podem levar a isso”, pontua. Segundo a psicologa, por vezes, o ghosting pode ocorrer até mesmo de forma inconsciente.

Em alguns casos, a pessoa pode se envolver em muitas relações e só vai desaparecendo, em vez de lidar com aquilo que se implica em uma relação, como as responsabilidades e demandas da outra pessoa.

Redes sociais podem dificultar comunicação e levar ao ghosting

Para Eduarda, o ghosting pode ter uma relação com as marcas da vida do sujeito e os traumas que ele carrega. “Mas não é uma questão somente pessoal. Acho que tem resquício da cultura também. A gente está em uma época onde as redes sociais trabalham muito com as aparências de pessoas ‘perfeitas’.”

Algumas pessoas buscam manter uma imagem da perfeição, querem manter essa aparência. “E no momento em que se responsabiliza pela sua escolha de não querer mais aquela relação e falar isso para o outro, você sabe que vai cair uma imagem que existia, uma idealização”, explica a psicologa.

Então, para Eduarda, há também nesse desaparecer uma tentativa de sustentar sua imagem e não se ver nesse lugar de decepção, mesmo que elas sejam naturais e parte da vida.

Como lidar com o ghosting?

O ghosting afeta quem foi deixado sem essa explicação de diversas maneiras. “O ponto principal são perguntas. As pessoas se questionam: o que eu fiz? O que essa pessoa quer de mim? Será que eu não fui suficiente? Deveria ter feito mais?”, exemplifica.

O problema é que esses questionamentos abrem espaço para uma fantasia de situações e perspectivas do que poderia ter sido. “Esses pensamentos são muito cruéis, são muito dolorosos, porque ficam sem resposta. E isso abre um campo para sentir-se culpada”.

Além disso, o fim de uma relação dessa maneira pode gerar ansiedade, baixa autoestima e insegurança. Para contornar esses sentimentos, a primeira fase é deixar passar e superar o luto.

“Há um investimento naquela relação e, de repente, essa relação deixa de existir. Então é necessário investir em outras coisas, é necessário restabelecer para onde vai essa energia que estava sendo colocada ali naquela relação”, explica Eduarda.

É preciso entender a perda e colocar um ponto final. “Porque a questão do ghosting é que parece que esse fim não existiu, né? Aí começa aquilo de pensar no que poderia ter sido, mas que nunca foi”, aponta.

A melhor forma de lidar, para a psicologa, talvez seja conseguir efetivamente colocar um ponto final, enxergar um fim para ser possível seguir em frente, aberto para outras relações e para a vida.

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