COMPARTILHE
Dois Capelistas: arte inspirada no amor
Siga-nos no Seguir no Google News

Eles saíram de São Paulo em busca de uma vida mais calma na natureza. E encontraram muito mais do que isso

Esta é uma história que fala de histórias de amor.

A primeira começa em 2010 e acontece em São Paulo, quando e onde Leandro Vilar e Aurélio Hilgenberg dos Santos se conheceram. “Vivemos juntos lá por 3 anos produzindo cenários. Mas estávamos cansados da correria e da poluição. Queríamos uma vida mais calma, perto da natureza”, comenta Leandro.

E assim começa a segunda história de amor, em 2013, quando Leandro e Aurélio se mudaram para um sítio de quase cinco alqueires de Mata Atlântica em Antonina, litoral do Paraná. No começo, a ideia era montar um atelier de artesanato e uma flora onde eles produziriam arte inspirada na Mata Atlântica e orquídeas paranaenses.

Nascia ali a Dois Capelistas. Capelista é a pessoa nascida em Antonina. Esse nome vem do século XVII, quando Antonina era uma pequena vila. Uma pequena capela em homenagem a Nossa Senhora do Pilar foi erguida em um morro, devotos construíram suas casas no entorno dessa capela e os moradores da região começaram a chamar essa pequena população de capelistas.  “Quando chegamos lá achamos esta história linda e decidimos nos intitular dois capelistas”, comenta Aurélio.

[Best_Wordpress_Gallery id=”105″ gal_title=”DOIS CAPELISTAS”]

A mudança aconteceu aos poucos. “No começo não tínhamos nenhuma experiência em morar na zona rural, não foi fácil, mas foi maravilhoso. Hoje, 7 anos passados acreditamos que todo brasileiro deveria ter a oportunidade de passar por isso. Conhecer os bichos, as plantas, ouvir os sons da natureza, perceber Deus nas pequenas e grandes coisas deveria ser um direito constitucional”, revela Leandro.

Lá em Antonina, sozinhos, sem internet ou telefone nos primeiros quatro anos, o casal aprendeu a escolher/ colher/ processar e tecer o cipó Imbé, uma fibra usada pra fazer cestas, bolsas, móveis, utensílios de cozinha, cúpulas e abajures, uma infinidade de coisas.

Leandro conta que eles fizeram curso de artesanato de fibra de bananeira, aprenderam a fazer diversas peças de fibra, até chapéus. “Tivemos barraquinha em feira de artesanato na beira do mar. Vendemos nossas peças na rua. Fizemos uma linda exposição na sala de exposições do acervo público de Antonina. Sempre vivendo na mata e sendo visitados diariamente por aves de diversas espécies”, revela.

Num período de mais escassez de dinheiro. Aurélio foi trabalhar na recepção de uma pousada próxima do sítio. Era um lugar lindo onde muitos observadores de pássaros de hospedavam para registrar as aves em seu habitat natural. Nesse momento começa a terceira história de amor que envolve Leandro e Aurélio.

Aurélio era o mais contemplativo dos dois e tinha muito interesse e curiosidade sobre o reino animal e mineral. Na pousada ele fez amizade com um guia de observação de aves muito famoso e importante, chamado Luciano Breves.

Na mesma época, eles receberam de herança da mãe de Aurélio três caixas de linhas para bordado, algumas comuns, outras eram linhas raras de algodão que eram usadas pra bordar toalhas de tecido de cânhamo.

Leandro diz que o presente comoveu. “Ficamos emocionados, pois a avó, já falecida, e a mãe dele eram exímias bordadeiras, descendentes de alemães que vieram da Rússia para a cidade de Ponta Grossa. Foi uma herança de ouro que abriu um caminho que nem ela nem nós imaginávamos naquela época”.

Foram alguns dias pensando. Eram diversas linhas em tons variados de azuis, marrons, amarelos, vermelhos, rosas e verdes. Como eles já amavam os passarinhos e conheciam observadores de aves, veio a ideia: por que não bordar as aves?

Começaram então, quatro anos depois de se mudarem para Antonina, a bordar as aves nos bastidores, peça redonda usada especialmente para bordados. Dos bastidores vendendo presencialmente e muito lentamente pela internet uma cliente pediu que eles almofadas, e então, surgiram as almofadas aladas.

Depois disso a linha de produtos se diversificou e cresceu bastante. São colares, camisetas, e até móveis. “No momento estamos bordando poltronas e cortinas”, conta Aurélio.

O cuidado com cada detalhe é essencial. Tudo é feito à mão, muito lentamente. ” Bordamos, costuramos à mão, à máquina, pintamos. A mão de obra é 100% feita por mim e pelo Aurélio”.

Em 2018, após Leandro fazer uma grande cirurgia de coluna, a vida no sítio ficou difícil e o casal precisou vender o seu pequeno paraíso em Antonina. A Dois Capelistas se mudou para uma casinha pequena no centro histórico de Ouro Preto. “Estamos reiniciando, reformatando e reformulando nosso atelier e nosso modo de vida. Jamais abandonaremos a divulgação da Mata Atlântica e dos pássaros, mas agora abriremos um mote para a questão patrimonial, para a história do Brasil mineiro, enfim todo esse universo ouro-pretano que passa diante de nossos olhos e coração.”

E assim, os Dois Capelistas, começam a bordar uma nova história de amor.

@doiscapelistas

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário