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Da dor da perda à luta contra o suicídio
Istock Close-up of a support group and their hands during a therapy
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Após a morte do filho, Tania e Fernando fundaram o Espaço Ser, uma casa de acolhimento aos jovens que sofrem com doenças psicológicas


“Não é frescura, nem corpo mole. Não é falta de Deus. Não é resultado de uma família desestruturada. Vamos dar o nome certo às coisas: estamos falando de doença. Depressão é uma doença”, disse Fernando Campos no começo da nossa conversa para essa matéria. No fim deste mês, fará dois anos que ele e Tânia, sua esposa, perderam o filho para o suicídio. Matheus tinha 14 anos.

A Organização Mundial da Saúde estima que, a cada ano, ao menos 800 mil pessoas tiram a própria vida em todo o mundo. O Ministério da Saúde brasileiro aponta que o suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Os números assustam – e revelam a urgente necessidade de falarmos sobre essas questões. 

Fernando conta que, durante um bom tempo, o principal questionamento que afetava sua família era o porquê daquilo ter acontecido. Depois de alguns meses buscando respostas, mudaram a pergunta. Decidiram focar no para que

E foi assim, ressignificando a dor e transformando-a em luta, que fundaram o Espaço Ser, uma organização não governamental que acolhe jovens com sintomas autodestrutivos. “Muitos profissionais da saúde não sabem o que fazer com essas pessoas. Eu não os culpo, porque, realmente, são casos difíceis de lidar. Mas essa é uma discussão urgente e nós precisamos unir esforços para encontrar caminhos”, revela. Ele, engenheiro, e Tania, comunicadora e professora de idiomas, uniram-se a médicos, terapeutas, psicólogos e advogados, todos voluntários. Hoje, são 56 pessoas dedicadas ao acompanhamento dos pacientes. Em setembro, mudarão as instalações para uma casa maior, a fim de conseguir receber mais gente. 

O protocolo terapêutico da ONG é baseado em três pilares: acolhimento, integração e acompanhamento. As atividades desenvolvidas no Espaço são complementares ao tratamento médico com psicólogos e psiquiatras. “Se a pessoa se recusa a ser acompanhada por esses profissionais, não podemos recebê-la aqui, porque sabemos que é fundamental esse olhar multidisciplinar. As terapias alternativas são um complemento às medicações tradicionais”, diz Fernando.

Do cronograma, fazem parte aulas de yoga, sessões de reiki, musicoterapia, aromaterapia, rodas de conversa e meditações dirigidas. Não há qualquer viés religiosos nas abordagens, mas, todos os dias, há uma reflexão sobre gratidão e fraternidade. “Percebemos que esses meninos que estão com a gente têm uma tendência enorme à caridade, a ajudar os outros. Mas, para isso, eles precisam estar bem. Por isso, faz parte do nosso trabalho auxiliá-los a encontrar um propósito de vida. Esses jovens vivem o que eu chamo de presente passado, e esse passado os traz muita culpa. Eles não querem se matar, querem só aliviar a dor que sentem, mesmo que isso custe a própria vida”, finaliza.     

Outra frente de atuação é com as famílias, porque há o entendimento de que, quando um filho adoece, os pais ficam doentes também. E, muitas vezes, não sabem a melhor forma de iniciar uma conversa, não veem espaço para falar sobre o assunto. Tania e Fernando encontraram, no vazio deixado pela partida de Matheus, forças para estender os braços a todos aqueles que enfrentam a mesma situação. Como uma grande corrente, que, quando unida, preza pela sustentação de cada parte dela. 

Espaço Ser – Casa Matheus Campos: http://www.espacoser.org.br/

 

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