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    ‘Tudo que é essencial para construir a felicidade está no presente’
    (Foto: divulgação) A ciência mostra que, na verdade, existem elementos da felicidade que são comuns a todos os seres humanos
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    A felicidade parece um conceito intangível, difícil de caracterizar, mensurar e ser observado pela ciência. Cada um sente o que sente e seguimos assim pelo resto da vida. Mas não apenas esse senso comum está errado, como espiritualidade e ciência mostram que a felicidade pode ser compreendida, desenvolvida e treinada.

    No final de 2024, Gustavo Arns e Monja Coen lançaram um livro com essa exata discussão: “Ser feliz: É possível?: Um diálogo entre ciência e espiritualidade”. Na obra, os conhecimentos milenares do budismo e as descobertas científicas se conversam para entender a visão social do conceito de felicidade e como as pessoas podem alcançá-la.

    Gustavo Arns é professor de psicologia positiva e estuda a ciência da felicidade há mais de dez anos. Segundo ele, a felicidade não é apenas um sentimento individual e subjetivo, mas uma construção cultural, uma forma de transformação e também de autoconhecimento. Tudo muito ligado à gratidão.

    Você tem uma longa carreira estudando a felicidade, idealizou o Congresso Internacional de Felicidade e ensina psicologia positiva na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). De onde surgiu essa paixão pelos estudos sobre felicidade?

    Conheci a Ciência da Felicidade em 2013, quando estava em um evento em São Paulo. Na época, eu trabalhava em um curso preparatório para concurso público. Tudo aconteceu com muita sincronicidade e eu fui assistir uma palestra em um auditório que eu não tinha nem ingresso para entrar, foi um convite que aconteceu de última hora. Logo que eu assisti a palestra foi como se uma peça de quebra-cabeça se encaixasse, fiquei fascinado pelo tema e a Ciência da Felicidade se mostrou como um caminho de autoconhecimento. Para mim, foi isso que realmente me chamou atenção, esse olhar sobre o lado positivo da vida humana como um caminho de autoconhecimento.

    Além do autoconhecimento, quais os impactos que o estudo científico sobre a felicidade pode ter na vida das pessoas?

    Eu sinto, com a minha própria experiência no tema e com a experiência de centenas de milhares de alunos que passaram pelos meus cursos e eventos, que existe um poder muito profundo de transformação na vida das pessoas a partir desse conhecimento da Ciência da Felicidade, que possibilita não só um mergulho de autoconhecimento, mas também a real transformação.

    No livro “Ser feliz: É possível?”, você aponta que a felicidade varia de acordo com fatores culturais. No Brasil, quais aspectos da nossa cultura constroem a felicidade?

    Existe uma ideia do senso comum, e que hoje a ciência vem desmontando, que a felicidade é algo puramente subjetivo – a felicidade para o Gustavo é diferente do que é para Júlia, para o João, para o Marcos – e, assim, não conseguíamos discutir muito sobre isso. Mas hoje a ciência mostra que, na verdade, existem elementos da felicidade que são comuns a todos os seres humanos. Existem algumas dimensões do bem-estar que são importantes para todos nós. Então, é importante, quando falamos de felicidade, se perguntar: que felicidade é essa que estamos falando?

    Eu gosto muito da definição do professor Tal Ben-Shahar, de Harvard, que diz que felicidade é a combinação do bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual. Esses elementos seriam comuns a toda a humanidade. Agora, é claro que tem aspectos dentro desses elementos que são individuais – como é que eu vou cuidar do meu bem-estar físico e como você vai fazê-lo pode diferir. 

    O ranking dos países mais felizes do mundo, que vem a partir do Relatório Mundial da Felicidade, da ONU (Organização das Nações Unidas), é uma pesquisa realizada em 140 países e que todo ano aponta os países nórdicos em primeiro lugar. Há todo um debate em relação a essa questão dos países nórdicos. Inclusive, eu tive um aluno da pós-graduação que uma vez disse: “Professor, eu morei lá um tempo. Não é possível que eles sejam mais felizes que a gente no Brasil. Lá o clima é muito frio, as pessoas não se abraçam, não existe muita proximidade e calor humano.”

    E é por isso que precisamos tomar cuidado com esses atributos culturais de felicidade. Porque abraço e calor humano é algo nosso, dos países latinos. Essas demonstrações de afeto e carinho são formas muito típicas daqui, mas não quer dizer que quem não faça as demonstrações desse tipo sejam infelizes.

    “Apesar das dimensões continentais do nosso país e todas as diferenças entre Norte e Sul, o calor humano, o afeto, os abraços, os laços familiares são aspectos culturais muito importantes e que, de alguma forma, diferem para outros países.”

    (Foto: Papirus Editora/Divulgação) Capa do livro ‘Ser Feliz: É Possível?’

    Um aspecto que chama bastante atenção no livro são os diferentes fatores que interferem no nosso propósito de felicidade. Como as redes sociais podem afetar o nosso olhar sobre a felicidade?

    Em relação ao propósito, essa dimensão da nossa existência tem relação com o sentido e o significado daquilo que fazemos. Esse é um aspecto muito significativo da existência humana e do nosso próprio bem-estar.

    É interessante que, para algumas pessoas, alguns desses elementos são mais importantes do que outros. Para uns, o bem-estar dos relacionamentos é muito prioritário. Outras pessoas não encontram sentido e significado naquilo que fazem. Outras não conseguem se realizar. Isso pode ser diferente um pouco de pessoa para pessoa, mas todos esses elementos são importantes e comuns a todos nós.

    Hoje, pesquisas mostram que as redes sociais podem se tornar grandes vilãs do nosso bem-estar. Primeiro, por conta das questões de recurso de tempo e de quanto dele é perdido nas redes sociais. Mas as pesquisas vão mais além, mostrando, em especial, como na infância e na adolescência, os jovens são submetidos ao viés das comparações, o que pode ter impactos negativos na autoestima pelo excesso de uso. 

    “Os resultados também apontam que no uso das redes sociais o maior tempo de acesso é correlato ao declínio do bem-estar. Por isso, para qualquer faixa etária, é necessário tomar cuidado com o tempo de uso de telas, em geral.”

    A neurociência traz o viés da comparação: inconscientemente e automaticamente, toda a nossa leitura da realidade é feita através de comparações. Quando dizemos que algo é grande ou pequeno, é porque nós estamos partindo de um pressuposto de tamanho na nossa mente. Mesmo que, enquanto adultos, saibamos que a rede social não conta toda a história e que os registros ali, obviamente, são sempre de momentos felizes, recortes da realidade. Inconscientemente, isso nos afeta.

    O que a psicologia afetiva e a visão científica da felicidade podem aprender com o ponto de vista espiritual da felicidade?

    É interessante perceber como existem muitas convergências entre o que a Ciência da Felicidade estuda com o que algumas linhas e tradições espirituais já dizem há alguns milênios. Certamente, nessa convergência temos muitos aprendizados.

    Tem um um estudo muito interessante do professor Richard Davidson, neurocientista que conduziu uma seguinte pesquisa: ele contava para as pessoas determinadas notícias e conseguia mensurar a atividade na área do cérebro responsável pela percepção de felicidade. Por exemplo, ele falava que a pessoa receberia um aumento salarial, uma promoção, a notícia de uma gravidez muito aguardada, e assim Davidson fazia os registros.

    Um monge que participou dessa pesquisa, chamado Matthieu Ricard, ficou conhecido como o homem mais feliz do mundo. Colocaram todos aqueles eletrodos na cabeça dele e ele não precisou de nenhuma notícia, simplesmente fechou os olhos e entrou em meditação. Em alguns minutos a máquina estava marcando um pico de atividade na área do cérebro responsável pela percepção de felicidade que nenhum outro homem conseguiu alcançar com notícia nenhuma.

    O que o homem mais feliz do mundo tem a dizer para nós sobre o tema é aquilo que o budismo afirma enquanto felicidade, que ela é um estado da mente. Temos a tecnologia mais moderna que consegue mensurar as ondas neurais e confirmar aquilo que o budismo já diz há alguns milhares de anos em relação ao que é felicidade.

    O budismo afirma que é um estado da mente, mas que precisa de prática. E o que a Ciência da Felicidade diz é muito parecido: uma habilidade que pode ser aprendida, treinada e desenvolvida.

    Quando olhamos para a felicidade a partir das dimensões que o professor Tal Ben-Shahar traz na sua definição [bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual], nós também estamos treinando os aspectos do nosso bem-estar. Acho que há uma grande entrega de autorresponsabilidade para que possamos realmente fazer as melhores escolhas em prol da construção do nosso bem-estar e da nossa felicidade.

    Ainda no tema do treinamento da felicidade, um trecho do livro cita Santo Agostinho. Ele fala que “a felicidade é seguir desejando aquilo que já se possui”. Como manter o foco nessa afirmativa e continuar desejando o que já temos?

    O budismo também afirma que uma das origens do sofrimento humano é o eterno desejar da nossa mente. A mente está sempre ansiando por algo e se nós não tomarmos consciência desse aspecto, vamos estar sempre frustrados, independente daquilo que a gente já tem alcançado. Então, essa frase do Santo Agostinho traz esse olhar para aquilo que nós já conseguimos realizar, aquilo que nós já conquistamos, aquilo que nós já possuímos.

    Eu vejo essa frase dele com uma conexão muito grande com o próprio conceito de gratidão. Se sentir grato por aquilo que nós já possuímos é uma chave muito importante dentro da Ciência da Felicidade, um exercício bastante relevante que tem capacidade de impactar neuroquimicamente o cérebro e o viés negativo, em que estamos num piloto automático, muitas vezes reclamando das coisas. Enxergar esses motivos para agradecer nos traz para um lugar mais consciente.

    Acho que o grande ponto é se manter consciente de que eu posso almejar uma vida melhor, não tem nenhum problema com isso, inclusive pode nos mover para a construção daquilo que queremos alcançar e realizar, mas eu não posso deixar com que isso seja um caminho de eterna frustração. A autorrealização não é um lugar onde nós vamos chegar depois de muitas batalhas e muito esforço no final da vida. Autorrealização é um estilo de vida e o caminho que podemos construir.

    “Ou seja, eu continuo almejando e construindo aquilo que eu acredito como melhor para minha vida, mas sem perder o foco de que é nesse momento do agora que eu posso encontrar a real felicidade. Tudo que é essencial está no presente.”

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