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Bloqueio criativo: o que fazer quando a mente trava?
(FOTO: UNSPLASH) Tudo bem estar sem criatividade. Às vezes, o silêncio também faz parte do processo criativo
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Você acorda inspirado, pega um café, abre o computador e pensa: “É hoje”. Mas, à medida que as horas passam, você se vê encarando a tela como se fosse um inimigo pessoal, com a página em branco e as ideias que parecem ter evaporado da cabeça. 

E assim o processo vira quase que um looping. Você tenta buscar referências, reorganiza a mesa, levanta para tomar o terceiro café do dia e nada. Nem uma frase para começar a introdução. Esses momentos são mais comuns do que se imagina e têm nome: bloqueio criativo.

No entanto, e se a gente parar de tratar essa dificuldade como um inimigo e começar a entendê-lo como um sinal? Um freio involuntário, um convite à pausa ou, quem sabe, um jeito do cérebro dizer que precisa de descanso?

O que está por trás do bloqueio criativo?

O bloqueio criativo é, conforme explica a psicóloga clínica Anastacia Cristina Macuco Brum, “uma interrupção ou dificuldade na capacidade de acessar ideias, pensamentos ou criações de forma fluida”. Ela afirma que, pela ótica psicanalítica, esse estado pode ser uma manifestação inconsciente de conflitos emocionais não elaborados, como medo de fracasso, perfeccionismo ou repressão de desejos. “Por isso, sim, o bloqueio criativo pode ser considerado um sintoma de questões emocionais mais profundas”, afirma.

Diversos fatores contribuem para esse estado. Para a psicóloga, a ansiedade, o medo da exposição, a autocrítica exacerbada e experiências anteriores de frustração estão entre as causas mais comuns. “Também podemos incluir o cansaço psíquico, o excesso de cobrança interna e, em alguns casos, experiências de crítica ou rejeição no passado que inibem a expressão espontânea.”

Vale lembrar que nem todo bloqueio tem o mesmo peso. Anastacia diferencia os episódios passageiros, geralmente ligados ao estresse ou sobrecarga momentânea, dos bloqueios mais profundos, que persistem mesmo quando o ambiente é favorável à criação.

“Identificamos a profundidade do bloqueio observando sua duração, frequência e o nível de sofrimento emocional envolvido.” Portanto, ela destaca a importância de observar os próprios sinais e, quando necessário, buscar apoio terapêutico para compreender o que está dificultando esse fluxo criativo.

O impacto da autocrítica e da comparação

Em tempos de internet acelerada, onde tudo parece acontecer ao mesmo tempo, é difícil não sentir que estamos ficando para trás. Rolamos o feed, vemos ideias geniais, projetos incríveis e pessoas aparentemente produzindo sem parar.

Essa enxurrada de estímulos, embora pareça inspiradora em um primeiro momento, pode se tornar um dos grandes combustíveis do bloqueio criativo.

Ao comparar nossa própria produção que às vezes está em pausa com o “melhor recorte” da vida alheia, alimentamos a sensação de inadequação e cobrança. O consumo excessivo de conteúdo ocupa o espaço que seria usado para criar, imaginar ou simplesmente permitir que a mente respire.

Além disso, a lógica das redes valoriza a produtividade visível, rápida e constante. Nesse cenário, a pausa criativa que é silenciosa, interna e muitas vezes sem resultado imediato passa a ser vista como falha. Aí que mora o perigo.

Entre os grandes inimigos da criatividade está a autocrítica exagerada. “Ela atua como uma censura interna constante, minando a espontaneidade necessária para a criação”, explica a psicóloga. Na prática, quando o julgamento interno é forte demais, as ideias são descartadas antes mesmo de se desenvolverem.

Outro fator que alimenta o bloqueio é a comparação com outras pessoas. Ao medir nossa produção pela régua dos outros, nos afastamos da autenticidade. “A comparação intensifica a sensação de inadequação. É preciso fortalecer o ego, reduzindo a necessidade de validação externa para que a criação possa fluir”, diz.

Como atravessar esse período com mais leveza

Em vez de tratar o bloqueio como um inimigo, talvez valha a pena olhar para ele como um sinal. Um convite para respirar, observar o que está por trás da paralisação e fazer as pazes com os próprios ritmos. Às vezes, a pausa é uma parte essencial do processo de criar algo novo. 

A psicóloga defende que é possível prevenir bloqueios com uma postura mais acolhedora. “Desenvolver uma relação mais amigável consigo mesmo, aceitar a imperfeição como parte do processo criativo e criar rotinas de descanso mental são formas eficazes”, afirma. Mas ela lembra: “As flutuações criativas fazem parte da vida, não dá para evitá-las totalmente, e está tudo certo.”

Segundo Anastacia, o primeiro passo é acolher esse estado sem intensificar a pressão interna. Algumas estratégias práticas incluem:

  • Mudar o foco por um tempo: sair para caminhar, tomar banho, cozinhar. Pequenas mudanças ajudam a mente a arejar;
  • Associação livre: escrever ou desenhar sem julgamento, apenas deixando as ideias fluírem;
  • Pausas programadas: parar um pouco pode ajudar o inconsciente a trabalhar nos bastidores;
  • Buscar ajuda profissional: caso esses bloqueios persistam, investigue as raízes emocionais com ajuda de um profissional.

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