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Arteterapia: como entender as emoções por meio da técnica
(FOTOS: UNSPLASH) a arteterapia é uma ferramenta para estimular a comunicação dos afetos por meio da expressão artística
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Falar sobre o que se sente nem sempre é simples. Às vezes, as palavras parecem pequenas demais para dar conta daquilo que pulsa por dentro. Uma tristeza que não se explica, uma ansiedade que não se nomeia, uma raiva que não encontra saída. Nessas horas, a arteterapia pode ser a tradução e um refúgio para tudo isso. 

A técnica terapêutica pode ser uma escuta sensível feita com tintas, traços e formas. Sem exigir grandes habilidades artísticas, a arteterapia oferece um espaço seguro para acessar as emoções, reduzir o estresse e cuidar do que muitas vezes fica estagnado no corpo e na mente. “A pintura permite trabalhar com abstrações, manchas e elementos não figurativos. Essa liberdade criativa, facilita o contato com a subjetividade e ajuda a elaborar emoções que, muitas vezes, não conseguimos traduzir em palavras”, explica Tatiana Camargo, especialista em terapias expressivas e mestra em psicologia.

A partir da criação artística, é possível transformar o incômodo em expressão, ressignificar dores antigas e ampliar o olhar para si. Em tempos marcados pela pressa e pelo excesso de estímulos, criar, mesmo que apenas por alguns minutos, já seja um ato de cuidado.

Quando faltarem palavras, invista na arteterapia

A pintura e o desenho são dois dos recursos mais usados na arteterapia. Enquanto o desenho tende a se apoiar em formas reconhecíveis e narrativas visuais, a pintura convida ao abstrato, ao simbólico, ao não verbal. É importante falar dessa diferença porque amplia as formas de expressão e de conexão com o que está lá guardado.

Segundo Tatiana, “as cores também funcionam como símbolos emocionais, capazes de representar diferentes estados de espírito”. Os materiais como o guache, aquarela, tinta acrílica, papel e tela ou tecido são bons companheiros durante esse processo, por tudo o que podem despertar sensorialmente. 

Além de expressar, criar também acalma. Não é de hoje que sabemos que participar de atividades artísticas eleva os níveis de dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à motivação, e reduz o cortisol, hormônio ligado ao estresse.

“Ao mergulhar em uma atividade artística, é possível suspender os assuntos do cotidiano. A arte oferece uma pausa, um respiro.”

É por isso que livros de colorir, como os chamados “boogie goods” ou de antiestresse, vêm ganhando espaço nas prateleiras. Apesar da tendência mais recreativa, essa prática pode ser um primeiro passo para quem quer se reconectar com as próprias emoções, pois a nostalgia de pintar com canetinhas, lápis de cor ou aquarela também é um ótimo caminho para acessar memórias e afetos de forma indireta.

Entre traços e cores vibrantes, sua criatividade na arteterapia pode ir além dos livros de colorir

O papel da arte no emocional

Quando os sentimentos que causam baixa autoestima ou desânimo dominarem, a arte pode funcionar como um mediador entre o sentir e o compreender. “A pintura, por exemplo, enquanto materialidade artística e expressiva, ajuda a explorar questões internas e sentimentos. Ela ressignifica e atribui novos sentidos às emoções”, explica a especialista.

Segundo ela e sob inspiração do filósofo Baruch Spinoza, “as emoções alegres nos impulsionam à ação, enquanto os tristes podem nos levar ao padecimento”. A arteterapia, então, atua como uma ponte: transforma aquilo que paralisa em algo que pode ser olhado, elaborado e, com o tempo, superado. Não exige explicação, apenas entrega: riscar, colorir, colar, moldar.

Tatiana reforça que a técnica também é uma forma de desenvolvimento pessoal. “A arte mobiliza a criatividade e promove mudanças emocionais significativas. Transforma a maneira como nos relacionamos com nós mesmos e com o mundo.”

Indica ainda Tatiana uma citação famosa do poeta Ferreira Gullar, de que “a arte existe porque a vida não basta”. E talvez seja exatamente isso. 

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