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    Mayana Zatz revela avanços nas pesquisas sobre longevidade
    Cecília Bastos/USP Imagem
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    A bióloga geneticista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Mayana Zatz, uma das mais importantes representantes da ciência brasileira no mundo, está à frente de estudos relacionados ao mapeamento genômico da população idosa brasileira e, também, dos xenotransplantes, técnica de transplantar órgãos de animais em humanos.

    Mayana fala sobre as descobertas recentes e os caminhos para a longevidade a partir do mapeamento genômico de pessoas com mais de 80 anos. Nessa entrevista à Vida Simples, a pesquisadora explica caminhos para uma vida mais longa e com qualidade:

     

    Como surgiu a pesquisa com pessoas com mais de 80 anos? Por que fazer e o que se descobriu até agora?

    Começamos este projeto para organizarmos um banco de dados genômico da população brasileira. Escolhemos estudar as pessoas mais idosas porque já sabemos quais as doenças elas já desenvolveram, principalmente aquelas de início tardio, como Parkinson ou hipertensão. Nossa ideia é ter um mapa genômico da nossa população e saber a prevalência dessas doenças de início tardio. Demos início ao projeto que chamamos de 80 Mais em 2008– entrevistamos pessoas com mais de 80 anos e hoje muitos deles já são 90 mais.

    Tivemos uma colaboração extremamente importante com um grupo da saúde pública que desenvolve o trabalho de SABE (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), quem coordenava na época era a professora Maria Lucia Lebrão, que infelizmente já faleceu, a professora Ieda Duarte deu continuidade. Elas nos procuraram e disseram que acompanhavam um grupo de pessoas desde o ano 2000, tinham todos os dados, mas ninguém está fazendo o genoma desse grupo. Juntamos esforços, coletamos material e conseguimos fazer o genoma. Hoje temos umas 1500 pessoas. O resultado da foi publicado na revista Nature Comunication no ano passado (2022) com colaboradores de vários estados do Brasil, inclusive do exterior.

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    Quais foram as principais descobertas desse estudo?

    Nós encontramos 2 milhões de variantes que não estavam nos bancos genômicos internacionais. Sabe uma coisa que eu gostei? Começamos o projeto em 2008 e em 2019 saiu um artigo em uma revista científica dizendo que precisamos sequenciar o genoma de outras populações porque os bancos só têm dados população europeia. Pensei: Que bom. a gente já teve essa ideia.

    A população de São Paulo é extremamente miscigenada e os dados são muito ricos. Tem um projeto novo chamado Pan Genoma, que pretende sequenciar os genomas de grupos isolados, como os índios carajás e os quilombolas. Todos esses esforços juntam dados para os bancos internacionais.

    Nessa pesquisa, a senhora fala em “genes protetores”, poderia explicar melhor o que são esses genes?

    O que a gente sabe é que quanto mais idosa a pessoa vai ficando, maior vai sendo o peso da genética na longevidade. Nos mais jovens, a genética é responsável por 20% e o ambiente 80% na saúde, mas quanto mais idosa, depois dos 90, maior é o peso da genética. Identificamos um grupo com mais de 100 pessoas com mais de 90 anos, coletamos amostras e vimos, por exemplo, que eles resistiram à covid ou tiveram formas assintomáticas. Justamente sobre isso que estamos interessados em estudar agora, entender quais são esses genes e como agem. Além disso, temos uma tecnologia a partir do sangue, onde posso derivar qualquer tecido no laboratório. Inclusive, estamos desenvolvendo organoides, o que chamamos de mini cérebros. Com isso, a gente consegue estudar muito melhor o funcionamento dos genes destes centenários.

    Recentemente, estive em Belo Horizonte e consegui entrevistar uma senhora de 104 anos. Ela começou a nadar aos 70 anos, mora sozinha e está ótima – tanto do ponto de vista cognitivo quanto físico. Ela teve sete filhos, um morreu, mas tem um monte de netos e bisnetos e sabe o aniversário de todos eles. A filha, que estava acompanhando a nossa conversa me disse: “Eu tenho de perguntar para ela as datas”. Ela se lembra de tudo, também contou que teve covid assintomática. Outra coisa interessante: ela disse que adora uma cachacinha. Perguntei: “Socialmente?” E ela respondeu: “Não, gosto de tomar todo dia no almoço. (risos).

    Temos outro centenário fora de série, o Milton. Ele mora em Brasília e toma whisky todos os dias, de manhã. Fomos à casa dele, ele nos ofereceu um bolinho e whisky. Toma todos os dias.

    Não sei dizer se eles têm proteção ao álcool ou se eles podem fazer qualquer coisa que tudo bem. (risos)

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    Não tem uma fórmula pronta, mas existe alguma coisa que permita às pessoas desenvolverem esse gene protetor ou ter uma vida mais longa e saudável?

    Para as pessoas que não têm esses genes protetores, o ambiente é muito importante. Um consenso é a prática de exercício físico. Com relação à dieta, se tem de fazer restrição calórica ou não, ainda é debatido. Ninguém tem dúvida da importância das atividades físicas para ficar bem. O que existe para manter a longevidade? Se a gente achar esses genes protetores, que estamos procurando, o que se pode fazer? Hoje, temos técnicas de edição para alterar os genes. Imagino que no futuro a gente possa dizer: achei tal e tal gene, você não tem esse gene? Então, vamos alterar sua genética para você ter essa longevidade.

    Além disso, temos outras estratégias para viver mais como os transplantes de órgãos e a reconstrução de órgãos, tudo isso deve aumentar a expectativa de vida.

    O transplante desenvolvido pelo professor Silvano Raia é muito interessante, a senhora poderia explicar o que são os xenotransplantes?

    O professor Silvano Raia foi a primeira pessoa no mundo a pegar um pedaço do fígado de uma pessoa viva e transplantar em outra e o fígado regenera do tamanho original. Ele descobriu essa técnica. O professor veio nos procurar dizendo que tinha uma técnica de usar órgãos de porcos para transplantes. Eu nunca tinha trabalhado com isso, foi um desafio. A genética permitiu o isolamento dos genes que causam rejeição aguda e pudemos silenciar esses genes. Brinco com o Silvano, que a grande descoberta dele foi saber que um cirurgião também precisava de pesquisa básica de genética. Essa junção é muito importante. Aliás, ele está com quase 93 anos e está ótimo, superativo, ligado na tomada.

    Manter a mente ativa, faz diferença?

    Faz diferença. Continuar na ativa, interessado e conectado faz toda a diferença.  A gente vê muitas pessoas que se aposentam e começam a cair porque se desconectam de tudo.

    Quais os próximos desafios nesta jornada na pesquisa sobre envelhecimento?

    Nesta história, a gente está isolando células de centenários resistentes e trabalhando in vitro, fazendo as diferentes linhagens celulares: entender como funciona o cérebro, os músculos e os vasos sanguíneos dessas pessoas.

    Após a pandemia, estamos infectando as linhagens com o Sars-Cov-2 para entender como são os mecanismos de resistência ao vírus. Para isso, comparamos esses centenários resistentes com amostras de pessoas que tiveram formas graves de covid, umas inclusive que foram a óbito. Pessoas jovens, com menos de 50 anos.

    A senhora está com 75 anos, continua como pesquisadora na USP e desenvolve uma série de projetos, poderia falar sobre eles?

    Tenho vários projetos, um deles é relacionado ao Zika vírus. O Brasil sofreu com uma epidemia e muitas mães tiveram filhos com microcefalia. Fui ao Nordeste para estudar o mecanismo do Zika, que destrói as células cerebrais. Eu entrevistei quase cem mães que tiveram filhos com microcefalia e foram afetadas durante a gravidez. Perguntava o que elas sentiram durante a infecção e a maioria respondeu que não sentiu nada ou teve um dia de febre, uma situação completamente diferente do coronavírus, mas todas tiveram os bebês com microcefalia. Ficou claro para mim que o vírus da Zika tinha um direcionamento para o cérebro do bebê em formação. Coletamos amostras de sangue de três pares de gêmeos discordantes onde a mãe infectada teve um bebê com microcefalia e outro não.  Levamos essas amostras para o laboratório em São Paulo, derivamos células neuro progenitoras, chamadas de NPC, que são as células que vão dar origem ao cérebro, infectamos no laboratório essas células com vírus da zika. Realmente, o vírus destruía todas essas células neuro progenitoras atingindo muito mais os bebês afetados do que nos bebês normais (nas células dos bebês normais).

    A partir daí, surgiu a ideia: tumores cerebrais são ricos nessas células neuro progenitoras. Como tem um grupo no Genoma que trabalha com câncer, sugeri a eles testar o vírus da zika em linhagem de tumores cerebrais. Eles tinham as linhagens, testamos e vimos que o que a zika destruía essas linhagens de tumor cerebrais. O próximo passo foi injetar esses tumores em camundongos. Os camundongos, após receberem esses tumores morrem depois duas ou três semanas, mas quando injetamos o vírus da zika, observamos que os tumores em um terço dos animais desapareceram totalmente inclusive na fase de metástase. Em dois terços, os tumores diminuíram muito.

    Passamos a pesquisar os cães, eles desenvolvem tumores espontaneamente, não é preciso injetar nada. Observamos que em três cães que estavam doentes e receberam o vírus, tiveram os tumores diminuídos e aumentou a expectativa de vida com qualidade.

    Uma das alunas nossas montou uma startup para fazer o vírus modificado, seguindo as orientações do FDA nos Estados Unidos e da Anvisa aqui no Brasil, que não permitiram o uso do vírus selvagem. A partir do vírus modificado, será possível pensar em um tratamento.

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    *A jornalista viajou a convite do Congress on Brain, Behavior and Emotions, realizado no mês de junho em Florianópolis

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