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    Conheça o komorebi, um convite japonês para viver em plenitude
    Dillą | Pexels
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    Hirayama, um senhor na casa dos 60 anos, vive uma rotina diária aparentemente monótona. Todos os dias são iguais. Acorda em seu apartamento à luz cinza e suave do amanhecer, veste cuidadosamente o seu macacão e sai em uma pequena van para dar início ao trabalho: limpar cuidadosamente os banheiros públicos de Tóquio.

    Interpretado por Kōji Yakusho, o personagem é protagonista do longa Dias Perfeitos, produção que se debruça a mostrar o cotidiano do japonês, mas nos ensina uma das filosofias mais importantes do país: o “komorebi” (木漏れ日).

    Imagine que você está caminhando em um parque público, ou em uma área florestal, durante o dia. Enquanto passeia em meio às árvores e se emaranha nos arbustos, pequenos feixes de luz atravessam as folhas, que servem como um filtro.  O que chega ao solo é um conjunto de raios de sol e sombras que se adequam aos espaços onde conseguem atravessar. Isso é komorebi.

    A palavra, que em japonês significa luz do sol que é filtrada pelas folhas das árvores (em tradução literal), não possui um equivalente em português. Sua importância, no entanto, vai muito além da literalidade.

    Komorebi fala de uma conexão profunda com a natureza e nos convida a vivenciar um momento em escassez nos dias atuais. A pausa. Ter um tempo para descansar, absorver o que acontece ao redor e estar atento so pequenos detalhes, aparentemente insignificantes, é mais importante do que imaginamos.

    Cena do filme “Dias Perfeitos”, com o personagem Hirayama e sua sobrinha admirando o komorebi (Foto: divulgação)

    De onde vem o komorebi?

    A rotina de Hirayama em Dias Perfeitos (2024, 2h 05min) apresenta  uma “lente” que torna as belezas da vida mais visíveis e proveitosas. O personagem não só compreendeu tudo isso, como o transformou no elemento central da sua própria existência: a defesa de uma vida simples.

    O morador da megalópole passa a ver todas as coisas e pessoas igualmente importantes. Seu cotidiano está restrito ao essencial, como ouvir música tocadas em fitas cassete, livros de segunda mão adquiridos em livrarias de bairro, além de uma câmera simples, utilizada para capturar o dia a dia.

    O longa metragem, com direção do cineasta alemão Wim Wenders, demonstra tão bem o significado do komorebi que esse é o título do filme em japonês. A palavra é composta de diferentes partes: “Ko” sgnifica árvore, já “more” diz respeito a algo que vem através ou se infiltra. “Bi”, por sua vez, é a luz ou luz do sol. A palavra remete ao apreço que os japoneses têm pela natureza. Além disso, simboliza a capacidade humana de enxergar beleza no entorno. É um sentimento que nos invade e traz consigo uma imagem mental que remete ao prazer e à paz.

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    Como aplicar o komorebi no ambiente profissional

    No LinkedIn – a rede social que costuma mostrar vidas profissionais retocadas com bordões e frases de impacto –, o pesquisador Cássio Aoqui mostra de que forma o komorebi também pode estar presente na vida profissional. E ele questiona: “o que ilumina o seu trabalho?”.

    O administrador de empresas descreve um período em que esteve no Paraguai para uma imersão que tinha o objetivo de facilitar o intercâmbio de práticas entre profissionais da primeira infância do país e também do Brasil.

    Para ele, foi o início, na prática, de mais uma transição profissional, que revelou um desejo pessoal maior de atuar com pessoas e comunidades que buscam mudanças positivas em seus territórios. “Komorebi não é algo permanente, contínuo – senão perderia valor. Ele também tem um quê de serendipidade, de acaso. Mas precisa existir, aqui e acolá, no trilhar das nossas profissões, das nossas vidas”, escreveu.

    O komorebi em outras culturas

    O komorebi não é a primeira e talvez não será a última filosofia de vida a se espalhar pelo globo. Além dela, há também o Sabai, na Tailândia, que nos convida a olhar para dentro, relaxar e viver em maior harmonia com o mundo. Na Dinamarca, o Hygge é um estilo de vida que valoriza o aconchego, o conforto e o convívio. Na Islândia, o InnSæi estimula a ver o mundo a partir da empatia e da intuição.

    O komorebi, no entanto, desloca o conhecimento ocidental para os saberes do outro lado do hemisfério e traz questões-chave que ainda não foram pensadas, ou pelo menos não ganharam a relevância necessária. No Ocidente, a filosofia sempre nos diz que haverá uma “luz no final do túnel”. Isso está em poemas, músicas, filmes e campanhas publicitárias.

    A filosofia japonesa provoca os saberes consolidados e mostra que é possível se abastecer de pequenos feixes de luz ao longo do caminho, já que a vida é necessariamente uma viagem e não um destino. A palavra nos coloca no “aqui e agora” porque não há qualquer certeza sobre o que virá depois.

    Deixar para outro dia?

    Muitas vezes, costumamos jogar ideias, sonhos e desejos para debaixo do tapete e adiamos para o futuro. “Vou me dedicar à fotografia quando me aposentar do trabalho” (substitua “fotografia” pelo seu hobbie favorito). Esta é uma frase comum de se ouvir, ou até mesmo proferir.

    Komorebi não é só um novo termo para acrescentarmos vocabulário, mas uma palavra-ação que nos convida a viver melhor e com plenitude.

    Ao final do trabalho, ao chegar em casa, Hirayama cuida de pequenas plantas colhidas em um jardim público e se dedica cuidadosamente à leitura, além da música. Sua rotina é um ritual que se repete diariamente em uma melodia que exala o melhor da vida e nos instiga a dar propósito e sentido aos nossos dias.

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