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Entrevista: Thyagi Ryan recomenda respirar para se reconectar
(FOTOS: DIVULGAÇÃO)
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Ei, respira! Isso mesmo, devagar, profundo, o ar entrando e sain­do suavemente pelo nariz. Sentiu o corpo relaxar ao respirar? Muitas vezes, a gente nem se dá conta, mas a ma­neira como respiramos diz muito sobre nós, o que estamos experienciando e como nos colocamos no mundo.

Eu mesma, se estou muito cansada ou com demandas demais, acabo me desconectando um pouco do meu centro. Quando isso acontece, faço exatamente o exercício que citei aqui no começo e tudo parece ficar mais leve. É um cuidado simples, mas consistente.

A respiração consciente nos ajuda a nos reconectar. Isso ficou claro em nosso papo deste mês com o Thyagi Ryan (@thyagi_respirasom), que é terapeuta respiratório, além de mú­sico, musicoterapeuta, hipnotera­peuta com pesquisa no xamanismo brasileiro, coach e crioterapeuta.

“A respiração é o fio condutor de toda a nossa experiência. Basta percebê-la que você já se coloca em xeque. Além disso, vibrar as cordas vocais é curativo”

Na infância, ele sofreu com diver­sas doenças respiratórias. E, como sempre teve alma de buscador, os desafios o motivaram a investigar métodos naturais de cura. De sua inquietude, ele desenvolveu o Res­piraSOM, um sistema que une di­nâmicas respiratórias com terapia do som endógena, utilizando os sons naturais da voz como ferra­menta de autorregulação e cone­xão pessoal.

“Eu queria descobrir a causa das doenças que a alopatia fala que não têm cura. Hoje sei que é uma questão que está impregna­da no meu DNA. Elas viraram mi­nhas professoras, me mostrando como está meu termômetro inter­no’, Thyagi contou.

O bonito é que ele não guardou suas descobertas para si. Vejamos o que mais ele sente e pensa sobre a nossa capacidade de nos compreender e ir além do que nos oprime e desestabiliza.

“A respiração é o fio condutor de toda a nossa experiência. Basta percebê-la que você já se coloca em xeque. Além disso, vibrar as cordas vocais é curativo”

QUAL É A SUA VERDADE?

A minha verdade é um constante desconstruir. E nas vezes em que eu cheguei a falar “poxa, é isso!”, a vida vinha, passava uma rasteira e já não era mais. Então, hoje eu a vejo como se fossem várias ca­madas da cebola. Ainda no berço, recebi minha primeira sementi­nha da fé, da devoção. Essa é uma das minhas camadas. Minha mãe rezava comigo na cama e isso me fortalecia, pois me ligava a um po­der maior. Eu pedia cura, ajuda, mas também questionava: qual é o sentido da vida? Estou aqui para o quê? Só para sofrer? Essas coisas imprimiram o impulso de ir buscar.

VOCÊ JÁ SE DESCONECTOU DELA?

Sim. O trágico da coisa é que eu játinha todas as orientações que eu poderia ter tido, já tinha andado com meus professores, já tinha o caminho das pedras, mas chegou um momento em que eu bati no fundo do poço. E comecei a ali­mentar compulsões, preocupação com grana, com a educação dos filhos, com o que é certo, o que é errado. Eu não estava conseguindo ser exemplo. Então, me deu um tilt. E eu entrei em depressão. Comecei a ficar oco por dentro, a perder a vontade de viver. Tudo ficou cinza.

EM QUE PONTO SE RECONECTOU?

Respirar para se reconectar Transitando com serenidade entre a arte e a cura, Thyagi Ryan faz o que ele chama de “música-medicina”. Com ela ajuda a destravar bloqueios emocionais

Eu me lembro de um professor que falava: “enquanto você não chegar ao fundo do poço, não tem impul­so para subir”. E eu me pegava fa­lando para o alto, como se eu esti­vesse conversando com Deus: “oh, meu amigo, então tá, aperta o eject aí. Acabou a história, eu não estou conseguindo fazer sentido”. Eu melhorava por um tempo, mas voltava nas compulsões e ficava nesse vaivém. Até que chegou uma hora em que a minha companheira fa­lou: “não te levo mais a sério, você precisa de ajuda”. Ela foi uma das minhas mestras. Porque foi nesse momento que eu pedi ajuda. Fui fazer terapia em grupo.

COMO FOI ESSA EXPERIÊNCIA?

Foi um fio de navalha, como ainda tem sido. De assumir fraquezas, vulnerabilidades, fragilidades mi­nhas, mas sem me identificar com elas, porque a maioria das pessoas, quando entra nesses processos, acaba se identificando com a do­ença, com um certo distúrbio. E eu não queria permitir que isso acon­tecesse comigo. Foi mesmo o mo­mento de chegar ao fundo e come­çar a subir. Nessa fase, a respiração passou a ser fundamental, porque teve horas que nem minha fé fun­cionava. Até as crenças espirituais, eu comecei a questionar.

COMO RESPIRAR TE AJU­DOU NESSE PROCESSO?

A respiração é o fio condutor de toda a nossa experiência. A física quântica explica: quando você ob­serva um fenômeno, o fenômeno já muda. É só você perceber a sua respiração que já se coloca em xe­que. Então, o fato de eu começar a praticar técnicas de respiração e depois acrescentar as dinâmicas vocálicas, ajudou muito. Vibrar as cordas vocais é curativo. E eu co­mecei a desenvolver o RespiraSOM, combinando ritmo, dinâmicas res­piratórias de vários tipos, com re­sultados diferentes para cada pes­soa. Todo mundo tem a habilidade de ser terapeuta de si mesmo com a sua voz e com a sua respiração.

O QUE É SER SIMPLES PARA VOCÊ?

Ver cada momento pelo que ele é, em sua necessidade. Se eu quiser colocar o segundo momento, trazê­-lo para o primeiro, já me compli­quei, porque não tenho as respos­tas. Ser simples é quase viver em queda livre. “Ah, mas, então, você não planeja nada?”. Planejo, mas eu tenho a hora de planejar. Nela não estou pensando no futuro: é a hora do presente do planejamento. O resto é elocubração, e isso gasta muita energia. Então, ser simples é viver a vida a cada momento. Para mim é a forma mais simples de estar na presença, aqui e agora. Parece que é um atestado de viver alienado, mas pelo contrário. A economia de energia é tremenda. Você não precisa ficar gastando, preparando-se para a vida.

O QUE É SER GENTE DE VERDADE?

O poeta Rumi disse: “Seja como você é e se apresente como você está”. Então, para mim, ser gente de verdade é você ser o que você está sendo a cada momento. O que é que está sendo necessário nesse momento? E não ter ideias sobre si mesmo, desconstruir essas ideias. É ser na essência. Por isso que eu gosto de andar descalço, de estar no sol com os elementos da natureza. Assim me alinho com aquilo que é. Por mais que a gente possa ficar complexo com as tecnologias, a tecnologia mais crucial para mim é a natureza. E isso conecta com o ser humano, que é natureza, embo­ra, muitas vezes, se esqueça. Saber disso me deixa mais de verdade.

Sobre o Gente de Verdade

GENTE DE VERDADE é um movimento que apoia caminhos de autoaceitação e incentiva a reconexão interior e o encontro com nossa verdade por meio da simplicidade. As entrevistas deste espaço, portanto, têm o objetivo de inspirar cada um de nós a nos reconhecer e nos autoconhecer no mundo. @gente.deverdade

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JACQUELINE PEREIRA tem fé no ser humano. Idealizadora do projeto Gente de Verdade, ela também é especialista em pessoas, terapeuta holística, palestrante e condutora de imersões espirituais.


Conteúdo publicado originalmente na edição 272 da revista Vida Simples

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