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Trabalho voluntário é porta para cidadania e desenvolvimento pessoal
Trabalho voluntário fortalece causas e a solidariedade coletiva (Foto: Joel Muniz/Unsplash)
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Isabelle Barros Alves, 19 anos, teve o primeiro contato com o trabalho voluntário ao ingressar no ensino superior, quando entrou para o curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará.

A jovem passou pelo Programa Salvaguarda, que trabalha com educação, e pela ONG Deixa Fluir, que atua na área da dignidade menstrual. Hoje, ela se dedica à Politize!, organização da sociedade-civil voltada para a educação política, e integra a equipe da 14ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos.

Ela deu os primeiros passos no voluntariado visando sair da zona de conforto e se expor a novas realidades. “Minhas pretensões eram explorar todas as oportunidades e sentimentos que o trabalho voluntário poderia me proporcionar. O que me faz continuar é a sensação de que faço a diferença não apenas para os grupos que participo, mas também para as pessoas que consigo alcançar”, comenta.

Segundo a jovem, o trabalho voluntário contribuiu para que pudesse ter uma visão mais crítica sobre as diversas realidades da sociedade. Além de afetar positivamente sua empatia com as pessoas.

Os voluntariados trouxeram para a estudante vivências únicas e significativas atreladas ao impacto que conseguia presenciar nas ações. Trabalhando no Salvaguarda, por exemplo, ela se maravilhou com o crescimento dos alunos e também com a persistência da vontade de ingressar no ensino superior.

A jovem também relata que o trabalho voluntário a expõe à diversidade e à aceitação, sendo algo que ela considera, portanto, fundamental para o crescimento pessoal e profissional.

“Esses aprendizados significam muito para meu crescimento pessoal, e me fazem ser alguém mais cuidadosa comigo e com os demais. Profissionalmente, aprendi sobre como dialogar em trabalhos colaborativos, que exigem essa capacidade de troca de experiências”, depõe.

O que caracteriza um trabalho voluntário?

Isabelle Barros em ação realizada pela ONG Deixa Fluir. Arquivo pessoal. Isabelle Barros em ação realizada pela ONG Deixa Fluir (Foto: arquivo pessoal)

Leila Herédia, 54 anos, é voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV) desde 2011. Para ela, a experiência de escuta que tem no CVV é de muita profundidade. “É algo diferente de tudo o que vivi anteriormente, mais do que solidariedade. A escuta, a compreensão e a aceitação envolvem nossos próprios valores e sentimentos. A doação do tempo é um momento de profunda conexão com quem busca o CVV.”

Ela define o trabalho que faz de forma direta, mas intensa: pessoas que buscam apoiar pessoas. Mas o que parece simples, não costuma ser fácil. Isso porque é difícil se expor, pedir ajuda e se cuidar, assim como é difícil acolher, compreender e não julgar.

Não-julgamento é a base do trabalho

“Permitir que a pessoa que busca o serviço seja quem ela é, sem medo de críticas ou julgamentos, garantindo o sigilo e o anonimato, faz parte da essência de tudo que fazemos. A ideia é garantir um lugar seguro para ela expressar seus medos, dores, angústias e ansiedades”, comenta.

Estar presente e à disposição para ouvir, de modo que todo o momento é sobre o que a outra pessoa está sentindo e o que ela precisa falar, é o que encanta Leila no trabalho. Para ela, é um ato de demonstração da importância que essa pessoa possui.

“Quando fiz o treinamento para ser voluntária, me chamou a atenção a proposta de não-julgamento. Me perguntei como isso seria possível, já que ele faz parte do cotidiano. Mas no decorrer do curso, fui compreendendo a necessidade de me dispor internamente para isso. Com o passar dos anos, percebi que a pessoa voluntária deve estar aberta ao autoconhecimento. Ao percebermos nossos pensamentos e atitudes, estamos nos aproximando de quem nos procura de forma genuína, na ideia de que pessoas precisam de pessoas, no sentido mais amplo da frase”.

As contribuições sociais de um trabalho voluntário

A bióloga Alice Frota, 31, é coordenadora do Projeto Tartarugas do Futuro, do Instituto Verde Luz, ONG voltada para a conservação ambiental. Ela atua majoritariamente com os esforços de voluntários.

Como uma líder do projeto, ela entende que os voluntários sustentam as atividades e fazem com que as coisas, de fato, aconteçam. “As pessoas que estão ali fazendo um trabalho que você, sozinha, não consegue fazer. É extremamente importante valorizar isso.”

Ela detalha que eles são os principais atores na realização das atividades, que vão desde andar ao longo das praias no processo de busca, identificação e demarcação de ninhos de tartarugas, até ações de educação ambiental e capacitações.

Alice destaca ainda que o trabalho voluntário é essencial para sair do campo teórico e ter vivências e experiências práticas mais próximas do real. Eespecialmente no caso de estudantes da área ambiental.

“É com essas ações que estudantes conseguem sair dessa bolha de estudo em laboratório, onde você aprende a agir em um campo perfeito, com todos os equipamentos. No Verde Luz, por exemplo, fazemos os campos a pé, não temos equipamento, fazemos do jeito que dá, mas mesmo assim temos dados de qualidade”, relata.

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Trabalho voluntário é a chance de se desenvolver

Quem também faz parte da liderança de trabalho voluntário é Caio Marques, 24. Ele é presidente do comitê local da Aiesec de Fortaleza, uma organização internacional que promove intercâmbios voluntários entre jovens.

Para ele, o trabalho voluntário moldou a pessoa que é hoje, por permitir que aprendesse algumas habilidades, valores e comportamentos. Ele considera que o que aprendeu tornou-se um repertório para a vida toda.

“Independente de onde estiver, vou buscar excelência, vou agir sustentavelmente. O trabalho voluntário foi uma formação de caráter, de ética”, conta sobre os aprendizados.

E as experiências se converteram também em aprendizado de hard skills, ou seja, habilidades específicas. “Aprendi a fazer orçamento público, melhorei minhas habilidades de comunicação e oratória. Me desenvolvi na utilização de ferramentas de organização institucional, como planilhas. Também melhorei minhas habilidades com idiomas”.

Conferência de planejamento de ações da Aiesec Fortaleza Conferência de planejamento de ações da Aiesec Fortaleza. Arquivo pessoal.

Você também pode ser voluntário

Ficou interessado em doar um pouco do seu tempo para a causa voluntária? Você pode procurar ONGs e projetos na sua cidade que aceitam voluntários e se inscrever. Não esqueça sobretudo de se atentar a pré-requisitos como idade, conhecimentos específicos ou disponibilidade de horas.

Saiba também que existem iniciativas que aceitam voluntários remotamente. É o caso do CVV, que necessita apenas que os colaboradores tenham uma boa conexão de internet e um local com privacidade. E você, já realizou algum trabalho voluntário? Como foi a experiência? Deixe um comentário abaixo!

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