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Para além do match, internet vem mudando relacionamentos
Se, por um lado, aplicativos de relacionamentos facilitaram a vida, por outro criaram novos motivos para insegurança e abuso nas relações (Foto: Oatawa)
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Caroline Lima começou a usar o Tinder em 2014. A plataforma, que surgiu em um campus universitário nos Estados Unidos, é o aplicativo de relacionamentos mais baixado no mundo. Quando Carol criou sua conta, buscava conhecer pessoas novas, fazer amizades e, quem sabe, encontrar alguém para paquerar.

O que a jornalista e digital influencer não esperava era que, entre os milhares de internautas que usam o aplicativo, ela daria match no seu futuro marido.

“O Flávio tinha me visto em uma festa e ficou interessado em mim. Por um acaso me achou no Tinder e começou a conversar comigo”, relembra Carol, que hoje é casada com o professor Flávio Saron.

Match é o momento em que duas pessoas demonstram interesse mútuo nos aplicativos de relacionamentos amorosos, abrindo espaço para a interação através de mensagens diretas, dentro da plataforma. Isso possibilita que as pessoas se conheçam melhor e, quem sabe, agendem um encontro presencial.

Carol confessa que, inicialmente, não deu muita bola para o parceiro, mas depois resolveu dar uma chance. Um belo dia, o relacionamento saiu do aplicativo e o casal se conheceu pessoalmente em um bar da universidade em que a jovem estudava.

Foto de Caroline Lima e Flávio Saron. Caroline Lima e Flávio Saron estão juntos há quase 6 anos (Foto: arquivo pessoal)

“Não imaginava que iria encontrar um namorado, que agora é meu marido, pelo Tinder. Na época, o pessoal tinha muito preconceito por achar que era um aplicativo apenas para sexo casual, que não levaria a um relacionamento mais aprofundado ou um casamento”, recorda a jornalista.

Foto do casamento de Caroline Lima e Flávio. Os dois oficializaram o relacionamento em 2018, quando se casaram em Santo Anastácio, interior de São Paulo. Foto: Arquivo pessoal.

Aplicativo é febre entre brasileiros

Apesar dos preconceitos contra o Tinder desde seu surgimento, não há mais como negar que aplicativos de relacionamento e a internet mudaram a forma que nos relacionamos.

Além da plataforma, que tem seu terceiro maior público do mundo no Brasil, outros aplicativos como Bumble e Grindr também se popularizaram nesse ramo.

“Um dos fatores que levou a esse sucesso é a facilidade de conhecer pessoas novas”, explica Roberta Lopes de Sousa, psicóloga clínica especialista em terapia de casais e terapia sexual.

“Com o avanço da internet, tem-se a facilidade de encontrar pessoas com gostos parecidos e interessantes em poucos cliques, o que aumenta as chances de se engrenar um relacionamento amoroso”, aponta a especialista.

Além disso, o processo da conquista traz benefícios, como sentimentos de motivação e autoconfiança gerados pela liberação de dopamina e ocitocina, por exemplo.

O imediatismo e a efemeridade dos relacionamentos virtuais

Da mesma forma rápida que esses relacionamentos começam, também podem ser descartados. Segundo Hugo Bento, professor do curso de psicologia da Faculdade Arnaldo e pesquisador de gênero e sexualidade, isso ocorre pela suposta facilidade de conhecer pessoas.

“A sensação de facilidade do acesso, a ideia de que há muitas outras pessoas disponíveis, faz com que muita gente passe a descartar rapidamente o outro – quando este não concretiza suas expectativas imaginárias”, explica o psicólogo.

Para Hugo, um dos efeitos negativos das redes sociais é a alta das expectativas e a baixa manutenção dos relacionamentos, em que as pessoas podem ter dificuldade de lidar com falhas do parceiro.

“Me parece, portanto, que as pessoas iniciam as relações com uma visão muito imaginária sobre quem o outro é e terminam muito decepcionadas quando a visão idealizada contrasta-se com a realidade”, explica o professor.

Ghosting e love bombing: os fenômenos prejudiciais

Para a psicóloga Roberta, com a chegada da internet e o imediatismo das relações, alguns fenômenos que já existiam foram ganhando novos contornos e nomenclaturas. Alguns exemplos são os termos em inglês ghosting e love bombing.

O ghosting pode ser traduzido de forma literal como “tornar-se fantasma”. Refere-se ao ato de terminar uma relação de repente, cortando toda a comunicação. É, portanto, o que as pessoas costumam chamar de “chá de sumiço”: desaparecer sem dar explicações.

E o love bombing, que pode ser traduzido como “bombardeio de amor”, é o ato de demonstrar afeto e atenção em excesso com o objetivo de manipular alguém.

De acordo com Roberta, ambas as experiências podem ocasionar impactos na autoestima, na autoconfiança e no bem-estar emocional.

“Além disso, os casos podem contribuir para a evolução de quadros ansiosos e depressivos, provocando um isolamento social, autodepreciação e sensação de incapacidade de lidar com situações da vida”, diz.

Relacionamentos nas redes provocam insegurança entre casais

Para aqueles que já estão em um relacionamento estável, a internet também pode ter impactos – tanto positivos quanto negativos. Entretanto, casais podem tomar alguns cuidados para evitar que as redes sociais afetem negativamente a relação.

Roberta aponta que a vida amorosa, no contexto online, pode gerar um distanciamento físico, até mesmo entre casais que estão juntos fisicamente. Isso porque as pessoas podem deixar de interagir presencialmente quando estão juntas, para cada uma ficar com a atenção voltada para os respectivos celulares.

Além disso, pode haver um desrespeito ao espaço do outro, ou até mesmo uma insegurança causada pelas interações nas redes sociais. “Alguns podem acreditar que se o par não faz demonstração pública de afeto nas redes, é porque ele não gosta verdadeiramente da outra pessoa”, exemplifica a psicóloga.

Outros exemplos dados pela especialista é quando um dos pares vasculha constantemente as redes sociais procurando alguma pista que ateste uma possível “traição”. Ou quando percebe o parceiro online nas redes sociais e, caso ele não mande nenhuma mensagem, supor que isso seja motivo para desconfianças.

Aplicativos geram conexões e amor

Apesar dos cuidados a serem tomados na internet, ainda existem muitas conexões verdadeiras e histórias de amor que surgem por trás de um match. Segundo o professor, uma vantagem dessas tecnologias é que possibilitam e facilitam encontros, para todos os grupos.

“Não podemos nos esquecer, contudo, que os aplicativos e as redes sociais possibilitam que pessoas socialmente estigmatizadas e que são alvo de preconceitos encontrem parcerias amorosas e experiências sexuais”, relembra Hugo.

“O problema está em acreditar nos perfis que são montados e programados para esses aplicativos de relacionamento. Isso sem levar em consideração as características e as mazelas que nos tornam humanos. Tais características não estarão presentes nesses ambientes, e poderão ser melhor acessadas através da convivência”, aponta Hugo.

Sendo assim, é por meio da aceitação e de nos reconhecer para além do virtual que casais nascem depois de um match, como foi o caso de Caroline e Flávio. Hoje, eles constituem uma família com seus filhos Samuel, de 4 anos, e Bernardo, de 10 meses.

Caroline e Flávio no nascimento de seu filho. Caroline e Flávio no nascimento de seu filho (Foto: arquivo pessoal)

“Eu acredito que o aplicativo teve bom uso para nós, foi essencial para formar a família que temos hoje. Eu faria tudo de novo, e fico muito feliz por ter encontrado o amor da minha vida no Tinder”, finaliza Caroline.

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