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Pessoas introvertidas são mais resilientes e intuitivas
ILUSTRAÇÃO MARCELLA BRIOTTO Judeus Samson
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É belo e complexo viver a experiência introvertida em meio à voracidade da vida moderna. A introversão não apenas proporciona resiliência em tempos desafiadores, mas também abre caminho para um entendimento mais profundo de si. Pessoas introvertidas, ao abraçar a sua natureza introspectiva, encontraram benefícios significativos, desafiando a pressão social para aderir ao ideal da extroversão.

Ao desmistificar a necessidade de corresponder ao estereótipo extrovertido que permeia nossa sociedade, observamos o valor da pausa e do autoconhecimento em um mundo que muitas vezes favorece a busca incessante por visibilidade. Assim, a seguir convidamos você a não apenas celebrar as vantagens da introversão, mas também inspirar uma reflexão sobre como a diversidade de abordagens à vida, seja introvertida ou extrovertida, contribui para a riqueza da experiência humana.

Pessoas introvertidas precisam de mais quietude

O pé no acelerador. Terceira, quarta, quin­ta marcha. Quanto mais eu desejo parar, mais o carro acelera. Não estou falando de trânsito, mas da vida das pessoas introvertidas.

Esses dias, a velocida­de da rotina fez esvoaçar meus cabelos e me lembrei do começo da pandemia em março de 2020, quando tudo parou.

Não que eu de­seje voltar para lá, mas me remeto à nítida sensação de pisar no freio, parar na beira da estrada e contemplar o cavalgar das horas pela janela, dia após dia.

Foi como entrar numa outra dimensão de tempo que eu precisava. Sei que foram tempos difíceis. Não que tenham ficado fáceis desde então.

Mas sinto que um traço da minha personalidade contribuiu para apreciar a pausa de que eu precisava. Pessoas introvertidas como eu têm necessidade de quietude. Menos holofote e mais abajur.

Introvertidos são mais resilientes

Para escrever esta matéria, descobri um estudo de 2020 feito por pesquisadores e médicos da Universidade de Vermont (EUA) com estudantes, comprovando o que eu senti.

Pessoas introvertidas demonstraram maior resiliência ao enfrentar a situação da pandemia de covid-19, como se a introversão amortecesse o impacto.

O que explica esse resultado é simples: fi­camos mais tranquilos e menos culpados por não precisar cumprir uma agenda exter­na de compromissos e socialização intensa a que, muitas vezes, estávamos submetidos.

Já não se fazia necessário arranjar desculpa para escapar da confraternização do escritó­rio ou da festa com amigos. Era oficialmente permitido passar dias e noites em casa.

Levi Wenceslau, psicólogo e autor dos li­vros Cadeira Elétrica e Um Novo Olhar, apro­veitou o momento para realizar o que ele já desejava: trabalhar de casa.

Com uma natu­reza introspectiva desde criança, não estra­nhou a rotina reclusa, o que considerou van­tajoso frente a quem sofria com a ausência de aglomerações.

Precisamos ser extrovertidos?

Sim, ser uma pessoa introvertida tem suas vantagens, ainda que reine o ideal da extroversão na sociedade, como afirma a escritora Susan Cain no livro O Poder dos Quietos* (Agir).

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Basta olhar ao redor: na mídia, nas ruas, nos corredores da internet ou das empresas. Destaca-se quem fica à vontade ao expor a vida e a própria imagem, o tal culto à personalidade.

Mas será mesmo que precisamos corresponder a esse modelo tão propagado? Não tem já palco demais nesse mundo? Para mim é fácil questionar.

Eu fui a adolescente que adorava estar com (poucas) amigas, mas também curtia meu mundinho fechada no quarto, ouvindo rock baixinho. Ainda troco qualquer multidão por um bom livro.

Ninguém é 100% introvertido ou extrovertido

Acredito, porém, que ninguém é uma coi­sa só. Faz bem equilibrar a introversão com habilidades sociais, como tem feito Levi, ca­deirante, tetraplégico e disposto a uma vida comum com trabalho, namorada e amigos.

“Devido à minha condição física, preciso es­tar sempre com pessoas. Venho aprenden­do que a interação com o mundo exterior é fundamental para uma boa convivência.”

Os conceitos de introversão e extroversão foram popularizados pelo psiquiatra Carl Jung, em 1921, na obra Tipos Psicológicos, em que ele abordou as disposições gerais quanto a interesses e habilidades.

A pessoa intro­vertida é aquela focada em seu mundo inte­rior, já a extrovertida necessita do ambiente externo para se sentir energizada. Esses atributos, no entanto, não são imutáveis, como analisa Levi.

“Ambos são importantes, não tem um melhor ou pior do que o outro. Cabe a cada um buscar o autoconhecimento a fim de aprender a se manifestar de maneira adequada às circunstâncias”, observa.

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Ele explica que, por ser mais voltada a si mesma, a pessoa introvertida tende a se conhecer melhor, o que favorece o autoconhecimento e o desenvolvimento da intuição.

“Isso pode auxiliá-la a ser cautelosa, menos intem­pestiva, podendo fazer melhores escolhas e tomar decisões assertivas.”

O mundo anda mesmo carente dessas qualidades. Segundo Susan Cain, as pessoas in­trovertidas preferem devotar suas ener­gias sociais a amigos íntimos e família.

Ouvem mais do que falam e muitas ve­zes sentem que se exprimem melhor escrevendo do que falando”, observa a autora. Leio isso e acredito ter sido dito para mim, só pode.

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Ser introvertido é diferente de ser tímido

A escritora e professora de escrita criativa Tayná Saez, do perfil Sutilezas Atômicas, é mais uma que se sente representada. “Me expresso muito melhor por escrito, com calma e tempo para decantar as palavras.”

Desde criança, ela aprecia momentos de contemplação, conversas íntimas e ob­servação de detalhes que costumam pas­sar despercebidos. Como, por exemplo, a maneira como alguém dobra o guardanapo ou como as formigas carregam gravetos.

O Poder dos Quietos foi um livro que a ajudou no processo de compreender a si mesma. “Uma das coisas mais importan­tes para mim foi entender que ser intro­vertida é diferente de ser tímida.”

Este é, talvez, um dos aspectos que ainda confun­dem as pessoas. Susan esclarece que a “ti­midez é o medo da desaprovação social e da humilhação, enquanto a introversão é a preferência por ambientes que não sejam estimulantes demais”.

Cada pessoa tem seu tempo; basta respeitar

Pessoas como Tay­ná e eu precisam de concentração e silên­cio para trabalhar e tocar a vida. “Escre­ver é contestar a velocidade, e hoje vejo que essa contestação está comigo desde a infância, carimbada em cada desenho que fiz, cada carta escrita à mão, cada casinha que alicercei com palitos de picolé.”

Tenho vontade de desacelerar o carro novamente para também construir casi­nhas nas minhas paisagens internas.

“Em tempos de redes sociais e produção veloz de conteúdo, cheguei a pôr meu próprio ritmo contra a parede. Meu aprendizado em relação à introversão tem sido enten­der que esse tempo de decantar as ideias é reflexo da intimidade que construo com elas”, me diz Tayná.

Sim, concordo. Entre decantar e me encantar com o mundo, sigo no meu tempo. Com a vantagem de ser o que sou.

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LUISA SÁ LASSERRE é jornalista e escritora. Aprecia momentos de silêncio e a companhia dos livros, tanto quanto da família e de amigos próximos.


Conteúdo publicado originalmente na Edição 243 da Vida Simples


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