Convivência intensa precisa ser acompanhada por brigas?
Conviver com o outro costuma oferecer desafios. Edição do BBB, com duplas, tem sido uma representação do que acontece na vida cotidiana: conflitos surgem quando passamos muito tempo com alguém
Seja uma amizade de anos, um parente próximo ou um relacionamento cheio de paixão: independentemente da natureza, as relações podem se intensificar e também se deteriorar devido à convivência prolongada. Tivemos uma demonstração no BBB (Big Brother Brasil) de 2025. Os participantes do reality show apresentado pela TV Globo entraram na casa em duplas – com irmãos, pais e melhores amigos. Mesmo com a proximidade e o amor que sentem um pelo outro, é desafiador se manterem por muito tempo sem discussões.
Vitória Strada e Mateus são um grande exemplo. Os amigos entraram juntos na casa, mas se desentenderam em uma das primeiras madrugada de confinamento. Discutiram e até levantaram o tom de voz na briga que aconteceu após uma dinâmica ao vivo.
Quem assistia a atriz e o arquiteto pode até desconfiar que a amizade da dupla não fosse, de fato, verdadeira. Mas a situação televisionada é comum no mundo offline, mesmo em relacionamentos fortes, quando há convivência intensa.
A convivência leva ao desgaste
Débora Queiroz, psicóloga, explica que a convivência funciona como uma lente. Ela aumenta as personalidades e comportamentos de alguém que, no dia a dia, podem passar despercebidos.
“Pequenas diferenças podem se tornar grandes problemas, e expectativas não comunicadas podem gerar ressentimentos. A ausência de espaço pessoal e o estresse do ambiente intensificam conflitos, mesmo entre pessoas próximas”, pontua a especialista.
De acordo com Alessandra Assis, psicóloga, a hiperconvivência pode levar a um desgaste emocional e à perda da privacidade pode gerar tensão. Um exemplo, cita a especialista, foi o confinamento durante a pandemia, que levou a um aumento do índice de divórcio entre casais.
“Além disso, a falta de comunicação eficaz pode gerar mal-entendidos e conflitos, que normalmente ocorrem por temperamentos diferentes e divergências de opinião”, cita. Alessandra ainda destaca que expectativas irreais ou não comunicadas, diferença de valores, crenças e estilos de vida são outros motivos que podem causar brigas na convivência.
E não apenas isso. Pati Penna, especialista em psicologia positiva e neurociências, ressalta que, dentro dos relacionamentos, estamos sempre aprendendo sobre nós mesmos – e esse autoconhecimento também incomoda.
“Relacionamentos também funcionam como espelhos. Geralmente, algo que te irrita no outro, também é algo que você precisa trabalhar em si. Ou seja, se relacionar por tempo prolongado exige que você olhe para si e se desenvolva, e isso gera conflito e incômodo”, explica.
Como evitar que atritos virem conflitos
Todos os fatores listados acima podem gerar atritos. Mas, com a comunicação e inteligência emocional, é possível evitar que eles se tornem verdadeiros conflitos.
“O atrito é aquilo que vem antes do conflito. O atrito acontece, na física, quando há duas forças em sentidos opostos, gerando uma resistência. Então, quando duas pessoas pensam de forma diferente, elas representam estas duas forças opostas e resistentes, e isso gera conflito”, explica Pati Penna.
Para a especialista, aceitar as diferenças de crenças, valores, opiniões, é a chave para uma vida leve e organizada. Afinal, conflitos drenam nossa energia física, mental, e emocional.
“É normal ocorrerem desavenças. Mas para evitar que se tornem brigas mais severas, procure usar a técnica da ‘não reação”, sugere a psicóloga.
Segundo Pati, essa técnica pode ser facilmente aplicada: “ao sentir o impulso de elevar a voz ou dar uma resposta atravessada, se retire por alguns minutos, e se prepare para responder em outro momento, com presença e domínio próprio”.
Dicas para evitar brigas
Pati indica algumas práticas que ajudam a retomar o controle dos pensamentos e da raiva, como escrever, respirar, tomar um banho, caminhar e, se possível, dormir, para que sua energia cognitiva e emocional seja recarregada.
“Caso esteja com muita raiva, você pode socar almofadas, escrever e ler uma carta em voz alta, colocar a raiva em ação, mas não na direção daquela pessoa, para evitar brigas e consequências das quais você provavelmente se arrependerá”, sugere a especialista.
Trabalhar na sua comunicação também é essencial. Pati reforça que há mil maneiras diferentes de dizer a mesma coisa. Para evitar brigas, opte sempre pela maneira saudável de se comunicar. Também, antes de falar algo, se pergunte: Isso que vou dizer agora é verdadeiro? É útil? É necessário? E como posso dizer isso da maneira mais amorosa possível? Como eu gostaria de receber esta frase se estivesse no lugar desta pessoa?
“Preste atenção ao tom de voz, que não deve ser elevado e nem carregar agressividade. Cheque a sua postura corporal, evitando apontar o dedo, franzir o rosto, ou se aproximar demais, com intenção de ameaça. Escolha sempre a via do elogio no lugar da crítica”, completa.
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