Algumas histórias para te ajudar a superar o fim de uma relação
Aprenda a superar o fim de uma relação amorosa; veja histórias e insights para você lidar com a dor do encerramento
O cartão enfurnado entre as rosas vermelhas anunciava: “Agradeço tudo o que vivemos juntos, mas nosso tempo passou”. Aquelas palavras de fim de uma relação amorosa me feriram como uma surra de espinhos. Sangrei.
Precisei aguar meu lamento por meses até, enfim, compreender que o amor, antes inquestionável em sua solidez, um dia, pode acabar. Os sentimentos mudam, as pessoas descobrem outros interesses e se vão.
Ficamos para trás. Com a gente mesmo. No meu caso, com um ramalhete nos braços. Se uma vidente tivesse me avisado três anos antes, no raiar daquele encontro, que isso aconteceria, eu rapidamente rebateria: “De jeito nenhum. Impossível. Nós nos amamos muito”.
O amor correspondido, pelo menos, em seus dias de plenitude, nos convence de que terá combustível para muitas encarnações. É tão real, visível, pulsante. Em nós e no outro.
Relacionamentos não são eternos
Como assim, acabou? Não tem jeito mesmo? Nenhuma chance? Não. Só nos resta aceitar o fim da relação e nos refazer fiapo por fiapo.
Desde que a pandemia sacudiu o chão do cotidiano, muitos casais se separaram. Seja porque já vinham cambaleantes devido a desgastes antigos e, então, o laço fragilizado se rompeu de vez.
Seja porque a pedreira da rotina sepultou qualquer possibilidade de romantismo ou leveza na vida a dois. Nesse período, muitas pessoas descobriram que o amor não é imortal, como nos alertou o poeta Vinicius de Moraes.
Uma olhadela na história pode nos ajudar a compreender os descaminhos dos amantes. A psicanalista Regina Navarro Lins lembra que até o século 20 eram incomuns os casamentos entre enamorados, já que as famílias escolhiam os cônjuges dos filhos. Sua pesquisa sobre o vínculo amoroso da pré-história à atualidade originou a obra O Livro do Amor – Volumes 1 e 2 (Best Seller),
Por isso, os elos perduravam, empurrados pela imposição social. Quando o amor entra na proposta de uma vida conjunta, automaticamente ele se atrela à felicidade, que, por sua vez, se torna uma razão de ser, o propósito daquele encontro.
Porém, como mostram as estatísticas, raros são os casais que vivenciam, de fato, o “felizes para sempre”. “As expectativas passaram a ser realização afetiva e prazer sexual. Se as pessoas se frustram em alguma delas, ocorre a separação”, sintetiza Regina.
As razões para o fim do romance
Dar-se conta de que um r elacionamento chegou ao fim é um pr ocesso de lut o. De idealizaç ões e pr ojetos interrompidos (Ilustração: @tgouvea)
Tantas podem ser as arestas de uma história de amor, não é mesmo? Traição, ciúmes, tédio, descompasso sexual, diálogo precário, desacordo financeiro, pouco ou nenhum companheirismo…
Também tem divisão injusta de tarefas, interferência da família ou de amigos, projetos de futuro desalinhados e o que mais vier afastar o par.
Ainda assim, bravamente, muitos casais se empenham para reencontrar um ponto de recomeço, uma plataforma para um novo salto, uma tentativa, quem sabe, mais afortunada.
É justo que se queira salvar algo tão precioso, a oportunidade de tomarmos contato com sentimentos verdadeiros e profundos, que, muitas vezes, nem supúnhamos que poderíamos experimentar.
O problema é quando o fim de uma relação, em vez de ser encarado como um ciclo completo, é interpretado como uma derrota pessoal. Aí a persistência pode resvalar na obsessão. Até onde ir sem cruzar a fronteira do patológico?
“Você sabe que é o fim quando já percorreu todas as alternativas, conseguiu ter boas conversas e deu tempo suficiente para possibilitar novos comportamentos e mudanças”, orienta Marina Simas de Lima. Ela é psicóloga clínica especialista em Terapia de Casal e Família e em Sexualidade Humana, além de cofundadora do Instituto do Casal.
Dói, mas também transforma
Se existem pessoas que sofrem ao se despedir de um amigo no portão de embarque do aeroporto, que dirá de um amor findo? Pensando nelas, investigo: existe um jeito, digamos, mais “ameno” de lidar com um término?
“A separação é sempre difícil, pois você perde uma parte que estava acostumada a ter e a viver. Existe um luto e uma quebra de projetos e planos”, afirma Marina.
“O que pode amenizar é ter sua individualidade bem desenvolvida. Manter sempre o seu ‘eu’ forte desempenhando vários outros papéis com o trabalho, amigos e tendo autonomia. Torna-se muito mais complexa a ruptura quando existe uma dependência emocional ou financeira”, complementa.
Na visão do psicoterapeuta analítico Thiago Guimarães, é importante saber que nunca existe um único culpado pelo fim de uma relação. A responsabilidade é sempre dos dois.
Sim, ele acredita em restaurações. Mas, para isso, há que haver uma condição primordial. “Só existe resgate quando ainda existe admiração. O amor é o tijolo e a admiração é o concreto. Uma parede feita somente de tijolos não aguenta muito tempo de pé”, compara.
O que fazer quando o fim de uma relação é inevitável
Se ficou decidido que não tem jeito mesmo, não há por que fugir da dor. Recorrer a anestesias só vai adiar o enfrentamento dessa passagem.
O desamor vai doer, sim, mas também vai nos reformular, se dermos permissão para que essa alquimia aconteça dentro da gente.
“Ficar um tempo sozinho após o fim do relacionamento é fundamental para organizar os sentimentos. Neste momento, a terapia pode ajudar a colocar as coisas em ordem.
E a pessoa deve ingressar numa nova história lembrando que somos seres únicos e que ninguém pode nos fazer felizes, a não ser nós mesmos”, sustenta Thiago.
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A escrita como ferramenta para se curar da dor do fim
Reconhecer que amores começam e terminam nos ajuda a entender que uma nova chama sempre pode acender em nós
Intrigado pelas conversas que rodeiam os fins, o roteirista, publicitário e escritor Daniel Bovolento passou a refletir sobre seus próprios términos.
Misturou e processou experiências pessoais e alheias no livro Depois do Fim (Outro Planeta), dedicado ao processo do luto romântico.
“Escrever foi uma maneira de organizar a dor e conseguir endereçar alguns assuntos que ficavam muito soltos na mente, ao mesmo tempo que me ajudou a ficcionalizar pessoas que nem chegaram a se tornar fins, mas ainda me atordoavam”, ele conta.
O mais difícil para Daniel é a impossibilidade de capturar o instante preciso em que o amor evapora, desaparece. Por passarmos certo tempo nessa zona rarefeita, sem os contornos de antes, os desencontros vão se proliferando no interior da relação.
E dá-lhe angústia para desembolar do peito. “Tem gente que descobre primeiro que o amor acabou e vai vivendo até conseguir cortar a relação. E só nesse momento é que a outra pessoa percebe que há algo de errado e é acometida pelo baque, quando o sofrimento começa. Existem pessoas que entendem, juntas, que o amor vai acabando durante jantares, na falta de preocupação com coisas pequenas do dia a dia, no ato de deixar para lá e, quando vão ver, estão se despedindo”, observa.
Permita-se vivenciar o fim de uma relação
Aos vinte e poucos anos, encharcada no colo de minha mãe, perguntei a ela: “Como faço para esquecê-lo? Por quanto tempo vou me sentir assim tão mal?”.
Daniel também cuidou desse sensível ponto em seu livro. “Você não deixa de amar alguém de uma hora para outra só porque a pessoa foi embora. E é isso que tanto dói nos términos em que alguém ainda ama: a pessoa vai continuar amando a outra, mas sozinha. A materialização desse amor todo não está mais ali, não quis estar mais ali. E quem ficou vai ter de lidar com isso”, reconhece.
Outro aspecto que ele destaca é a polarização suscitada pelos términos, como se, de repente, se montasse uma trincheira de guerra.
“É quase como se fosse obrigatório identificar um vilão e um mocinho para que os sentimentos sejam amortecidos, tanto pelas pessoas envolvidas na relação quanto pelos amigos e familiares. É a forma que os outros têm de dar apoio e tentar ajudar quem sofre a se recuperar”, avalia Daniel.
Para ele, cada um pode encontrar mecanismos para lidar com o fim de um amor, embora não acredite em paliativos. “Acho que não existe um jeito de amenizar nada. Quem sente, sofre. Eu sempre escolhi encarar o luto e me permitir a catarse, a análise do que aconteceu, o respiro entre uma relação e outra. Principalmente, sempre achei que as histórias precisavam de um encerramento. Se algum fim de uma relação ficasse em aberto, a dor continuaria vazando”, confessa o escritor.
O ciclo sem fim do amor
Para minha surpresa, Daniel não resiste e acaba soltando um possível alento para quem está com o coração moído: “Não sei se é verdade, não sinto que seja. Mas lembrar de quantas vezes você já sobreviveu aos amores-fins-de-mundo pode ajudar a passar por mais um. Sempre existe o amor seguinte. Sempre”, encoraja.
Não há como ouvi-lo sem ser tomada pela vontade de reler a memorável crônica O Amor Acaba, de autoria do escritor mineiro Paulo Mendes Campos.
Tanta beleza foi condensada ali que o fim de um romance passa a despertar enlevo, não aversão. Recomendo fortemente a leitura na íntegra. E a releitura, sempre que necessário.
Por ora, deixo você com alguns fios dessa ode à fascinante e, por vezes, enlouquecedora aventura que é amar e ser amado, ou não mais.
“Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança.”
E, adiante, já encerrando a prosa: “Em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.”
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RAPHAELA DE CAMPOS MELLO é jornalista e já viu o amor morrer e renascer algumas vezes.
Conteúdo publicado originalmente na Edição 242 da Vida Simples
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