A importância de criar filhos confiantes e emocionalmente preparados
Com apoio, validação das emoções e liberdade, os pais podem ajudar os filhos a desenvolverem uma autoconfiança que será levada por toda a vida

Criar filhos confiantes é como plantar uma árvore em um jardim que nunca será só nosso. A gente rega, poda com cuidado e protege das tempestades. Mas, em algum momento, precisa confiar que as raízes são fortes o bastante para sustentar o seu próprio voo. Durante esse percurso, a criança também precisa de presença. De alguém a segure quando for preciso, mas que saiba soltar para que ela descubra que é capaz de caminhar com as próprias pernas.
É nesse momento que a autoconfiança surge, no dia após dia, nas pequenas interações entre a criança e os pais. Essa base emocional sólida, formada na infância, reverbera na vida adulta em forma de autoestima, resiliência e equilíbrio emocional. Mas o que realmente fortalece essa segurança interior?
O impacto de uma criança confiante
“Uma criança confiante é uma criança que acredita em si mesma, na sua capacidade de pensar, de agir, de resolver problemas, de lidar com os desafios da vida”, explica a psicóloga Bárbara Couto, especialista em terapia cognitivo comportamental. Essa segurança permite que ela explore o mundo e enfrente dificuldades com a certeza de que será amada e aceita, mesmo quando não acerta.
De acordo com a psicóloga, essa autoconfiança não nasce sozinha, assim como outros tantos sentimentos. “Quando a criança é incentivada, tem suas emoções validadas e pode experimentar com apoio, ela forma uma base interna de segurança. E é essa base que permite que ela se arrisque, aprenda e cresça confiante.”
Essa segurança não se limita à infância. Uma criança confiante automaticamente vai se tornar um adulto confiante, com mais autoestima, autonomia e resiliência. “A pessoa aprende a lidar melhor com críticas, frustrações, rejeições e também se recupera com mais facilidade de situações difíceis. Ela tem menos medo de errar, o que favorece o desempenho acadêmico e o desenvolvimento de habilidades sociais mais saudáveis.”
Além disso, a autoconfiança funciona como uma espécie de escudo emocional, já que não tem uma busca constante de aprovação de outras pessoas. “A confiança protege contra quadros de ansiedade e depressão, porque atua como uma âncora interna do tipo ‘mesmo que seja difícil, eu posso tentar e vou conseguir passar por isso’.”
Proteja, mas não ao ponto de controlar totalmente
Muitas vezes, o medo de ver os filhos sofrerem leva pais e responsáveis a evitarem qualquer frustração. No entanto, a psicóloga alerta que o efeito pode ser contrário: “A superproteção ainda é vista como cuidado, mas na verdade também é uma forma de negligência. Ela impede o desenvolvimento das habilidades fundamentais que a criança vai precisar para a vida”, explica.
Quando os pais resolvem todos os problemas, evitam riscos naturais ou não deixam a criança se frustrar, passam, às vezes sem querer, uma mensagem de incapacidade. “Proteger é oferecer afeto, orientação e suporte. É dar segurança para que a criança explore o mundo. Já superproteger é impedir que ela explore, sinta, erre ou até pense por si mesma.”
Segundo Bárbara, uma boa pergunta a se fazer é: “Essa ajuda é para meu filho ou para aliviar a minha insegurança?”. Se a criança já consegue fazer algo sozinha, ótimo. Isso fortalece o cérebro e a autonomia. O desafio dos pais está em perceber se a ajuda é realmente necessária ou se é motivada por sua própria ansiedade.
Filhos confiantes também merecem errar e se frustrar
Outro ponto essencial é normalizar o erro. “Errar e se frustrar faz parte do amadurecimento. É saudável, por exemplo, deixar a criança perder um jogo, esquecer o material, enfrentar uma dificuldade escolar, desde que ela tenha apoio emocional para lidar com isso”, afirma Bárbara.
Além disso, os pais devem nomear as emoções, acolher o sofrimento e estimular a reflexão de uma determinada situação. “Dizer coisas como ‘eu sei que dói perder, mas você tentou e eu estou orgulhoso por isso’, ensina que o erro nunca vai definir quem ela é”, complementa.
Também é fundamental não comparar a criança com outras, pois esse sentimento é um dos maiores inimigos da autoconfiança. Comparação entre irmãos ou com amigos da escola pode parecer inofensivo, mas mesmo com boa intenção, transmite a ideia de que ela não é boa o suficiente como é e sempre se enxergue pela régua do outro. Isso pode gerar mais rivalidade ou insegurança.
“Não tente ser um pai ou uma mãe perfeita, afinal, isso nem existe. Tente ser uma base segura. Seu filho vai errar, vai se frustrar, mas precisa saber que pode contar com você. Criar filhos confiantes é mais sobre como reagimos aos erros deles do que sobre como celebramos os acertos”, finaliza a psicóloga.
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