O que os estoicos nos diriam?
O estoicismo, na prática, permite-nos rever conceitos, valores e nosso próprio estilo de vida. Como tantas outras pessoas, os pensadores falam sobre viver o agora e um dia de cada vez
“Tudo que há de vir repousa na incerteza. Vive de imediato!”
Depois de passar muito tempo presa em uma determinada fase da vida, aparentemente, despertei-me e procurei por algo que me trouxesse de volta o gosto por viver. Foi então que, estudando alguns movimentos filosóficos, encontrei-me com os pensadores estoicos.
Momento muito parecido vivi recentemente. Diante do isolamento social, depois de tantos dias em casa, alguns sentimentos retornaram ao meu interior. Essa sensação, claro, é uma grande consequência da nossa falta de perspectiva em relação ao futuro. Sentir-se assim parece algo inevitável, mas talvez não seja.
Felizmente, em consonância ao momento passado, os estoicos voltaram a martelar em minha cabeça…
É hora de encarar os fatos e viver pela virtude
Os estoicos despontaram por volta do século III a.C. como uma escola helenística. O pensador que tive contato durante as leituras, em especial, foi Sêneca, que, como os outros, nos diz: viva pela virtude.
Esse fundamento dos antigos nos permite perceber com veemência como a filosofia é, na verdade, algo prático, e que não deve se resumir à teoria ou à academia, deve ser aplicada!
Para os estoicos, então, viver pela virtude é colocar algumas delas em prática, como a sabedoria, justiça, coragem e autodisciplina ou temperança. É vivendo dessa maneira que se alcança uma boa e digna vida.
Não importam seus bens materiais ou títulos e status, pelo contrário, algumas riquezas podem ser opressivas. O que importa, ao viver como um estoico, é o seu caráter, suas ações e seus valores.
O tempo está passando, viva o agora
O legado da filosofia estoica também nos faz perceber que o tempo está passando. E, nesse sentido, deixa um alerta: precisamos viver o agora e não desperdiçar nossa vida. Muitas vezes nos deixamos levar por sentimentos, como preguiça ou medo, e, com isso, fazemos da nossa vida algo breve.
Sêneca, assim, nos faz despertar à medida que percebemos que não dispomos de pouco tempo, mas desperdiçamos muito.
A vida é muito longa. Ampla o bastante para que realizemos os maiores e mais importantes feitos se nos dispusermos a fazer dessa forma. ”É assim que acontece: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos”, diz o estoico e completa: “a nossa existência é bastante extensa para quem dela bem dispõe.”
E como bem dispor dela? Enxergando, de fato, o modo como distribuímos nosso tempo e nossa atenção. No dia a dia, imersos na rotina, aficionados pelo futuro, perdemos o momento presente e confundimos as prioridades.
Aceite o que você não controla
Por fim, diante das fases difíceis, ouvi dos estoicos o que mais precisava ouvir: aceite o que você não controla! E são tantas coisas incontroláveis na nossa jornada que seria mesmo insuportável tentar manejar todas. Assim, se perguntássemos algo agora aos pensadores dessa escola, certamente nos dariam um conselho a respeito das adversidades. Para viver uma boa vida, é preciso focar naquilo que realmente temos controle.
As outras situações acontecendo ao nosso redor, grande parte das vezes, são incontroláveis e inevitáveis. Diante do nosso contexto e momento, esse conselho parece cair como uma luva: aceite as circunstâncias e não desespere-se em vão com aquilo que é indomável.
Em suma, o estoicismo, na prática, permite-nos rever conceitos, valores e nosso próprio estilo de vida. Como tantas outras pessoas, os pensadores falam sobre viver o agora e um dia de cada vez. E devemos repetir esses princípios, sim, porque estamos em constante esquecimento sobre o amanhã ser nossa incerteza certeira.
Sendo assim, imagino que, se nos dessem um conselho agora, os estoicos nos diriam como Sêneca escreveu: “Tudo que há de vir repousa na incerteza. Vive de imediato!”