Maturidade
Que tal dialogar com a criança que um dia você foi? Ela pode ser uma criança, mas sabe melhor do que ninguém quem você é
Que tal dialogar com a criança que um dia você foi? Ela pode ser uma criança, mas sabe melhor do que ninguém quem você é
A sensação que eu tenho é que eu me perdi no caminho entre a criança que eu era e o adulto que eu sou hoje em dia. Eu não sei explicar onde isso aconteceu, mas claramente eu virei na curva errada. Eu era muito mais corajosa, social, tinha uma visão bem melhor da vida, tinha grandes planos como me tornar uma chef, escritora, arqueóloga, diplomata ou astronauta.
Acho que quando veio a adolescência, tudo desandou, porque foi nesse período que a criança que existia adormeceu e quando virei adulta ela simplesmente deixou de existir dentro de mim.
Opiniões
Demorou um pouco, mas ela conseguiu despertar novamente e tudo aconteceu no final de uma noite de domingo, quando eu estava agonizando em algum canto da casa depois de ter exagerado na pizza. Fiquei pensando no porquê de me maltratar tanto, principalmente na questão alimentar.
Então, foi ai que eu comecei a pensar que se eu tivesse um filho eu não o deixaria comer tanta besteira, ele não iria ingerir tanto açúcar, teria uma vida muito melhor e a criança que existe em mim abriu os olhos e depois de 21 anos ela finalmente conseguiu falar:
– Você precisa ter um filho para cuidar dele da melhor forma possível? E você? Você virou um caso perdido? Eu não acredito que você esteja tão velha a ponto de sentar e esperar a morte, porque ela um dia vai chegar e eu só espero que você vá sem arrependimentos. Quando que você vai olhar pra mim e perceber que somos a mesma pessoa e que eu também preciso de carinho? Porque a opinião dos outros é mais forte e importante que a minha opinião?
Voz interior
Essa epifania se passou dentro do minha mente e eu percebi o quanto eu tenho me tratado mal. E não só na questão alimentar, mas também no fato de eu estar sufocando todas as minhas vontades e impulsividades. E ai você pode pensar que calar essa criança é algo bom, porque não tem como ser inocente, impulsiva, descontrolada, sentimental, imaginativa e sonhadora em um mundo como esse. Então como ser uma criança se é preciso ser adulto?
Mas é ai que vem a questão, porque quando calamos essa criança, calamos também a nossa voz interior, a nossa essência, aquilo que somos. Eu sempre me questionei quem eu era e percebi que a pessoa que eu era foi silenciada por mim há muitos anos atrás.
Eu imagino a criança que eu fui dentro de um quarto triste, sem janela, sem televisão, sem brinquedos, só ela e uma cama. E isso me faz chorar porque se eu não faria isso com meus filhos ou com a criança de outra pessoa, porque eu fiz isso com a que existia dentro de mim? Por que eu sou tão dura e insensível comigo mesma?
E é nesse exato momento que você começa a se questionar sobre a vida, alimentação, emprego, relacionamento, etc. É isso que eu quero de fato para minha vida? E ai eu percebi que ter maturidade não é calar quem você foi um dia, mas sim saber equilibrar o que é certo para você.
Talvez você esteja como eu agora, sem a menor noção do que quer da vida, com um medo grande de arriscar, seguir seus sonhos e se cobrando de um movimento em direção a um lugar que você nem sabe qual é. Meu conselho é parar um pouco e respirar fundo.
Em busca do sonho
Que tal dialogar com a criança que um dia você foi? Ela pode ser uma criança, mas sabe melhor do que ninguém quem você é. Então, que tal prestar atenção no que você quer de fato para a sua vida, porque se seu sonho não fere o sonho de ninguém, então porque ele não pode ser seguido?
Eu sei que estamos vivendo em tempos incertos, mas podemos sonhar e planejar. O que você vai fazer quando tudo isso acabar? Será que a pessoa que começou o isolamento é a mesma pessoa que vai sair dele? São muitos questionamentos, mas não tem porque não sonhar como uma criança.
Talvez procurar a carreira que você sempre quis, planejar aquela viagem tão sonhada, ver a possibilidade de morar em outro país, começar a comer melhor e mais saudável, etc. Acho que são inúmeras possibilidades e algumas você pode começar a colocar em movimento muito antes da pandemia acabar. E uma coisa é certa: você precisa deixar essa criança que existe dentro de você falar, porque por mais que ela seja uma criança, ainda tem vontades e cabe a você equilibrar e filtrar o que é melhor pra ela. Afinal você é o adulto, mas ela também precisa ser livre e feliz.