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Estamos ocupados demais para escutar e demasiadamente disponíveis para ouvir. Para escutar, precisamos aprender e até reaprender o óbvio: esperar, atentar, enxergar e aquietar

 

Poucos dias antes de toda essa pandemia invadir nossa vida, que até então parecia normal, livre, sem álcool em gel e cheia de ar para respirar sem máscara, fui buscar minha sobrinha na escola. Então, no caminho para casa ela me disse:

– Tia, aprendi uma coisa legal na escola hoje.

– Ah é? O que, Júlia?

– Que tem diferença nas palavras escutar e ouvir.

– E qual é a diferença?

– Ouvir é quando a gente ouve, mas sem dar muita atenção. Fica, assim, com o pensamento meio voando. E escutar é quando a gente escuta mesmo, prestando atenção.

– Quem te ensinou isso?

– A professora.

Lembro de já ter lido algo a respeito disso, mas não registrei a informação com a mesma clareza de quando escutei a explicação dada por uma criança. Então, percebi que estamos todos, boa parte do nosso tempo, apenas ouvindo. Em diferentes momentos e proporções, é claro, mas com certeza em alguma área da vida – pessoal, familiar, social ou profissional – estamos falhando. Ouvimos muito mais e escutamos bem menos.

Escolhemos ouvir porque escutar dá trabalho. Exige atenção, interesse, respeito, empatia, afeto e uma boa dose de paciência. O mundo tem pressa. Escutamos mais com a cabeça e pouco com o coração. Ouvimos aquilo que a “vista” alcança e pouco escutamos a intuição.

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Temos facilidade em escutar o que está disponível nos stories, feeds, podcasts e na nova onda de lives, mas uma incrível dificuldade em escutar quem está na nossa frente, ao vivo e sempre presente.

Está tudo bem?

Às vezes decidimos só ouvir os próprios sonhos (aqueles que palpitam há tempos lá dentro), mas escutamos atentamente o sonho alheio e que, convenhamos, nem sempre é o que combina com a gente. Assim como os sonhos, nossas vontades, planos e conquistas cabem nas fotos e nos vídeos bem editados, cheios de efeitos especiais e de palavras-chaves usadas para impactar aqueles que nos escutam na vida on-line e nos ouvem na off-line.

Escutamos perfeitamente o que está no celular e reservamos um espacinho do dia para ouvir os filhos, os pais, os amigos, o companheiro e olhe lá. Enquanto isso, há quem acredite que está tudo bem, tudo certo, amém. Nessa (temporária) vida pandêmica, que nos forçou a mergulhar mais fundo nesse mar virtual, muitos escolhem escutar o que é apresentado na internet, ficam convencidos de que são verdades absolutas e concordam que está tudo bem, tudo certo, obrigada.

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Há quem prefira escutar as informações que chegam superficialmente e apenas ouvir aquilo que vem respaldado com argumentos (até mesmo os científicos). Essas informações só “ouvidas” são replicadas, sem investigar, sem questionar, basta compartilhar.

Para escutar, precisamos aprender e até reaprender o óbvio: esperar, atentar, enxergar e aquietar. Cursos e especialistas para ensinar o óbvio não faltam. Me questiono: esta obviedade toda não deveria estar intrínseca? Ser parte integrante da nossa natureza humana?

Estamos ocupados demais para escutar e demasiadamente disponíveis para ouvir. Que bom, Júlia! Você só tem nove anos e entendeu o recado! E que bom a tia ter conseguido te escutar.

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