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Amor faz cafuné
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Desconfio que o amor não pede euforia. Ou não mais. Talvez, seja seu oposto que a que solicita – uma tal de insegurança

 

Primeiramente, sempre acreditei que o amor fosse uma luta constante. Uma batalha a ser encarniçada com unhas e dentes, entre preocupações constantes de fazer-se agradável e agradar o outro. Afastar as eventuais concorrentes com a sutileza de quem sopra dentes-de-leão. Era se vincular para estar sempre presente. Assim, ao longo da vida, fui dando muito murro em ponta de faca, lutando por amores semi-impossíveis que me alimentavam com migalhas. Na verdade, me motivava com o sabor da conquista. Da vitória. De saber que aquela relação que ninguém acreditava dar certo estava na minha mão, mesmo que por um tempo ínfimo. Sentia sensação exaustiva de escalar o Everest em tempo recorde e em seguida jogar-me de cabeça num abismo. Impossível viver sem o frio na barriga, a adrenalina. 

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Tracei duelos com boêmios, hipócritas, mulherengos, instáveis, separados, solteiros. Relacionamentos saudáveis, à distância ou abusivos. Venci todos, machucada e exausta, mas vitoriosa. Me seduziam, além do sabor da conquista, das declarações de amor, do estado de relacionamento nas redes sociais e das postagens de uma vida perfeita abarrotada de pseudo-amor. Mas também havia os olhares curiosos, os comentários a boca miúda, a especulação dos fofoqueiros de plantão.

Amor não pede euforia

No entanto, de tantas pelejas, o coração pediu trégua para, cansado, se recuperar do ultimo amor-decepção-perfeito. Após tratamento intensivo, meses de terapia e mensagens de autoajuda,  borboletas voltam a ruflar no meu estômago num relacionamento que tem tudo para dar errado outra vez. Fugir dessa natureza de batalhas não é uma opção. Não hoje. Porém, agora não disputo o primeiro lugar no pódio. A mágica acontece naturalmente, e deixo-a acontecer. Sem planos de jantares a luz de velas ou viagens a lugares paradisíacos. Sem expectativas e planos para um futuro. Apenas vivo-o. Dia por dia, momento por momento, como uma criança saboreia uma bala. Desconfio que o amor não pede euforia. Ou não mais. Talvez, seja seu oposto que a que solicita – uma tal de insegurança. 

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Mas, também descobri que existe amor tranqüilo-radiante-mar-calmaria. Desses que enviam músicas com um lembrete “essa música parece você”.  Que a frase “amo você” pode ser dita em forma de abraço apertado, com beijo no pescoço. Que o som tirado das cordas de um violão é a declaração mais sublime e que o status de relacionamento mais verdadeiro é uma foto dos seus pés e de seu par calçados e entrelaçados como plano de fundo do celular. Sutil diferença: par x parceiro.

Aprendi que amor não exige. Não esgota. Não diminui. E não cobra. Mas, sim: o amor respeita, compreende e faz cafuné, mesmo após você dormir.

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