Abrace seus dias estranhos
Eu já quis sentir menos. Já desejei mais constância, mais organização interna, mais sentido para minhas emoções. Hoje, acolho todas que vierem
Eu já quis sentir menos. Já desejei mais constância, mais organização interna, mais sentido para minhas emoções. Hoje, acolho todas que vierem
Era segunda-feira, o que por si só não é uma frase muito animadora. Primeiramente, acordei atordoada depois de sonhar com uma infinidade de cenas sem sentido algum. O tempo resolveu acompanhar meu estado de espírito. Ora calor, ora frio. Sol e chuva, vento e calmaria. Céu azul e céu tão preto que parecia o fim do mundo.
Mas o mundo não acabou. Pelo contrário, ele continuou girando sem ligar para a estranheza que se desenrolava dentro e fora de mim. O dia seguiu: trabalhei, escrevi, dei risada, senti moleza no corpo, fiquei animada, fiquei com preguiça. Mais do que tudo, levantei a bandeira branca para a minha montanha-russa interna. Ao sair do escritório, não sabia mais o que esperar do tempo. Por via das dúvidas, coloquei meu casaco e deixei meu guarda-chuva a postos.
O acolhimento
O que me acolheu do lado de fora foi inesperado. Um clima perfeito. Cheirinho de chuva sem chuva. Frio sem vento e sem intensidade. Céu indefinido, mas sereno. E mais uma vez, a natureza entrou em equilíbrio comigo. Acolhemos, juntas, a estranheza do nosso dia. Abraçamos a loucura das mudanças de humor. E entendemos que tudo bem sentir tudo em intervalos tão pequenos. E tudo bem ter dias estranhos. Eles fazem parte tanto quanto os outros.
Sobretudo, eu já quis sentir menos. Decerto, já desejei mais constância, mais organização interna, mais sentido para minhas emoções. Hoje, acolho todas que vierem da forma como quiserem aparecer – e na hora que bem entenderem também. Reconheço o motivo e, na maioria das vezes, lido bem. Percebi que ter um dia bom e um dia ruim é simplista demais. Temos dias com mais momentos bons e dias com mais momentos ruins, e no final das contas, a gente que escolhe como classificá-los. E tem os dias completamente estranhos como essa segunda. Mas nesses, nem vale a pena rotular. Só sentir. Viver. Deixar passar. E, na medida do possível, ficar em paz com a nossa própria estranheza de sentimentos. Afinal, é isso o que conta.