Vamos falar sobre o tempo
Em entrevista exclusiva para a Vida Simples, a apresentadora do Globo Reporter Sandra Annenberg, falou sobre a sua relação com o tempo, que é tema do último programa de 2020
- De onde surgiu o seu interesse sobre o tempo?
- Sua concepção e maneira de aproveitar o tempo mudou com a pandemia? Mais pressa ou mais calma para viver?
- O físico britânico, Julian Barbour, escreveu no seu livro “O Fim Do Tempo: A Próxima Revolução Na Física”, que “se você tentar agarrar o tempo com as mãos, ele estará sempre deslizando por entre seus dedos”. Como você lida com o passar do tempo? Como não tentar agarrar o tempo com as mãos?
- Afinal, como usar com sabedoria o nosso tempo?
- Por um bom tempo fomos “inundados”pelo FAST. Fast food, fast fashion...compre qualquer coisa com um clique. Fomos, de certa forma, acostumados a fazer as coisas com pressa, como se isso fosse sinônimo de qualidade e eficiência. Agora vemos o caminho inverso, das pessoas apostando no SLOW. Apreciam e incentivam a calma e o ócio, valorizam o produto local, feito à mão. Será essa uma tendência? Ou apenas um movimento passageiro e transitório?
- Você acha que a visão individual e a maneira de cada um de gerenciar seu próprio tempo influencia a sociedade em que vivemos?
- Qual seu maior medo em relação ao tempo? Envelhecer, morrer, não aproveitar a vida...
Em entrevista exclusiva para a Vida Simples, a apresentadora do Globo Repórter, Sandra Annenberg, falou sobre a sua relação com o tempo, que é tema do último programa de 2020.
De onde surgiu o seu interesse sobre o tempo?
Antes de responder às perguntas, gostaria de falar um pouco do nosso ‘Globo Repórter’ sobre o Tempo (com direção de Paulo Sampaio e produção de Beatriz Sanson).
Assim que eu saí do JH e fui para o ‘Globo Repórter’, em outubro do ano passado, a diretora, Silvia Sayão, começou a pensar em uma pauta para minha primeira reportagem para o programa.
Ela sugeriu que falássemos do ritmo de vida das pessoas: como a corrida contra o tempo estava deixando todo mundo estressado e o que seria necessário fazer para ir mais devagar.
Encontramos um jornalista escocês, Carl Honorè, que escreveu um livro sobre isso (Devagar: Como um movimento mundial está desafiando o culto da velocidade) e íamos nos basear nele para desenhar a pauta.
Achamos que se encaixaria perfeitamente na mudança de ritmo que eu estava vivendo, ao ir de um jornal ao vivo e diário, para um programa gravado e semanal.
Começamos a gravar em fevereiro. Em março, eu iria para Londres entrevistar o Carl e conhecer uma cidade ao norte da Inglaterra que recebeu o ‘selo de Slow City’. Mas veio a pandemia.
Já tínhamos bastante material gravado e retomamos a produção ao final deste ano. Então, a reflexão sobre o Tempo ficou bem mais ampla e pudemos mostrar como era a vida antes e como está agora, durante a pandemia.
Sua concepção e maneira de aproveitar o tempo mudou com a pandemia? Mais pressa ou mais calma para viver?
Minha concepção sobre o tempo começou a mudar em outubro de 2019, quando saí do ‘Jornal Hoje’, um telejornal diário e ao vivo, para o ‘Globo Repórter’, um programa semanal e gravado. Durante os 18 anos que fiquei à frente da bancada do JH, a vida era correr contra o tempo.
A mudança pode parecer fácil, mas o corpo leva um tempo para se adaptar sem a injeção diária de adrenalina. Quando veio a pandemia, eu já estava colocando o pé no freio, mas de repente tivemos que parar de uma vez. Foi um momento de reflexão para todos nós. E aí veio o grande desafio: aprender a viver um dia de cada vez, sem planejar o futuro e buscar aproveitar cada instante, priorizando só o que é essencial. Difícil, mas esse é um aprendizado diário que pretendo exercitar para o resto da vida.
O físico britânico, Julian Barbour, escreveu no seu livro “O Fim Do Tempo: A Próxima Revolução Na Física”, que “se você tentar agarrar o tempo com as mãos, ele estará sempre deslizando por entre seus dedos”. Como você lida com o passar do tempo? Como não tentar agarrar o tempo com as mãos?
É o que tentamos a todo momento: controlar o tempo. Mas é impossível. Quando nos damos conta, ele deslizou entre os dedos e o presente já virou passado.
No ‘Globo Repórter’ que gravamos, ouvi o Professor Mario Sergio Cortella, que citou Santo Agostinho. Agostinho dizia: “Quando ninguém me pergunta, eu sei o que é o tempo. Mas quando alguém me pergunta, eu não sei explicar.”
O tempo passa para cada um de um jeito. Tento o tempo todo saborear cada instante, mas nem sempre consigo. Tem dias que o tempo voa, em outros parece não ter fim. Acertar os ponteiros desse relógio que não para um segundo é o grande desafio da vida.
Afinal, como usar com sabedoria o nosso tempo?
O que posso responder, na minha humilde condição de mortal, é como eu tento usar o tempo. E digo ‘tento’ porque nem sempre consigo, mas tento não deixar o tempo passar sem sentir. Gosto da sensação de viver intensamente cada instante. Preciso me dizer o tempo todo: calma, respire, sinta, perceba os detalhes, veja com atenção, não deixe passar batido.
Mas sei que não é fácil.
Por um bom tempo fomos “inundados”pelo FAST. Fast food, fast fashion…compre qualquer coisa com um clique. Fomos, de certa forma, acostumados a fazer as coisas com pressa, como se isso fosse sinônimo de qualidade e eficiência. Agora vemos o caminho inverso, das pessoas apostando no SLOW. Apreciam e incentivam a calma e o ócio, valorizam o produto local, feito à mão. Será essa uma tendência? Ou apenas um movimento passageiro e transitório?
Espero sinceramente que não seja passageiro, mas, se for, que passe bem devagar!
As pessoas sabem que a ‘pressa é inimiga da perfeição’, perfeição que não existe, mas que fica ainda mais distante se fizermos tudo correndo. O risco de errar é muito maior. Também sabemos que nem todos podem se dar ao luxo de ir mais devagar. O mundo vai continuar nos exigindo rapidez e nós devemos continuar tentando pegar mais leve.
É uma queda de braço constante, que não vai parar nunca. O importante é que cada um, dentro do seu possível, encontre o que na música se chama de ‘Tempo Giusto’, o Tempo Certo: seu próprio ritmo, seu compasso, sua cadência. Não existe uma fórmula, o jeito de usar o tempo não é igual para todo mundo, por isso cada um precisa procurar a própria felicidade e o que mantém a sua paz.
O que posso dizer é: vá com calma, devagar se vai ao longe.
Você acha que a visão individual e a maneira de cada um de gerenciar seu próprio tempo influencia a sociedade em que vivemos?
Infelizmente, acho o contrário: as exigências da sociedade acelerada é que influenciam a nossa maneira de administrar o tempo. Precisamos nos adequar à correria da vida.
Mas mesmo em um mundo apressado, é vital respeitar nosso ritmo interior. O Professor Mario Sergio Cortella diz uma frase interessante: “Velocidade é uma qualidade, pressa é uma imperícia.”
É uma boa reflexão.
Qual seu maior medo em relação ao tempo? Envelhecer, morrer, não aproveitar a vida…
Tenho 52 anos muito bem vividos.
A cada dia vejo um novo cabelo branco, um novo vinco no rosto, gosto de acompanhar minha transformação, tenho orgulho de me olhar no espelho.
Não tenho medo de envelhecer, pelo contrário. Tenho medo é de não envelhecer, tenho medo de morrer. Meu maior medo em relação ao tempo é o dia em que ele vai acabar. Como diria minha mãe: não me arrependo de nada do que fiz, só do que não fiz. E ainda há tanto a fazer…
Assista ao Globo Repórter, dia 18 de dezembro.
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