Treine sua mente!
O fortalecimento mental, tão falado nas Olimpíadas de Tóquio, não é ferramenta exclusiva dos atletas de alta performance. Todas as pessoas podem e devem treinar a mente para alcançar o equilíbrio em todas as áreas da vida.
Sabia que o fortalecimento mental — tão falado nas Olimpíadas de Tóquio — não é ferramenta exclusiva dos atletas? Pois é, todas as pessoas podem e devem treinar a mente para alcançar o equilíbrio em todas as áreas da vida.
Quando comparamos dois atletas de alta performance com os mesmos recursos, o que define um campeão? Afinal, o que influencia de fato no resultado quando todas as condições são semelhantes e os atletas estão no mesmo nível?
A resposta está na mente. Em uma época em que a vitória é decidida nos detalhes, a cabeça é a grande aliada – ou a maior inimiga – dos atletas.
Na década de 1980, uma pesquisa dividiu atletas soviéticos em quatro equipes. O primeiro grupo dedicou 100% do tempo aos treinamentos físicos. O segundo, 75% aos treinos físicos e 25% a um treino mental, que era basicamente a visualização dos movimentos e dos resultados desejados. O terceiro dedicava metade do tempo para cada tarefa e o quarto grupo, 25% aos treinamentos físicos e 75% ao treino mental.
Estudos e resultados
O resultado veio nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1980, realizados em Nova Iorque, nos Estados Unidos. O quarto grupo foi o que obteve melhores resultados. Em seguida vieram o terceiro, segundo e primeiro grupo. Claro, existem outras variáveis que podem interferir no resultado de uma competição, mas o estudo deixa claro que a parte psicológica influencia na performance e, inclusive, pode ser uma ferramenta para aprimorá-la.
A psicóloga esportiva Maria Cristina Nunes Miguel entende muito bem do assunto. Ela acompanhou o ginasta e medalhista olímpico Arthur Zanetti nas Olimpíadas de 2012 e vários atletas que estiveram em Tóquio, como a judoca Gabriela Chibana e as irmãs Bruna e Giulia, do tênis de mesa.
Maria Cristina revela o que influencia o rendimento esportivo: as emoções sentidas no treino e as sentidas antes, durante e depois das competições. Além disso, situações familiares, pressões de patrocinadores, clube e comissão técnica, saúde, lesão e salário também enchem a cabeça dos atletas.
Crédito: Katerina Jerabkova | Unsplash
Faça o bem, pense o bem
Simone Sanches também é psicóloga esportiva e atende vários corredores brasileiros . Ela explica que o fortalecimento mental no esporte se baseia em ajudar o atleta a se conhecer melhor. A partir disso, começa o trabalho para que ele desenvolva um maior controle das suas emoções, comportamentos e rendimento. E é possível dizer que treinar e fortalecer a mente ajuda não apenas aos atletas, mas também pessoas como eu e você. E, praticamente, todo adulto produtivo que tem boletos para pagar no final do mês.
O psicopedagogo Ronei Santos contextualiza a necessidade de ter equilíbrio mental, independente da profissão. “Sempre digo que uma pessoa nunca estará fisicamente pronta para transformar sonhos em conquistas até que esteja mentalmente preparada”, revela.
Ronei explica que existem três áreas diretamente interligadas: mente, corpo e emoções. “Tudo está conectado, uma área sempre afeta a outra. Quando estamos mentalmente sobrecarregados, por excesso de preocupação, prazos e cobranças pessoais, o lado emocional fica abalado, ou seja, ficamos mais irritados ou tristes dependendo do nível de sobrecarga mental”, comenta.
Em outras palavras, era disso que falava a Monja Coen em uma de suas palestras: “faça o bem, pense o bem”. Ou seja, ação e pensamentos caminham juntos e fortalecem o todo.
Pensar positivo ajuda, mas não resolve
Maria Cristina Nunes Miguel relembra que todas essas questões de pressão e cobrança podem ser vivenciadas em muitos contextos fora do esporte. “Nas profissões, assim como no esporte, a busca sempre é pelo desempenho do indivíduo”, conta.
Afinal, é a mente que controla a ansiedade e dá confiança ao jogador de futebol que caminha para a marca do pênalti em uma partida decisiva. É ela também que te oferece os recursos necessários para confiar no seu potencial e atingir seus objetivos, por exemplo. E ela precisa ser fortalecida.
Desde já, vale lembrar que apenas ter um pensamento positivo não basta para ter um equilíbrio mental. Ajuda, claro, mas não é suficiente.
É que a mente, quando não controlada, tende a divagar em pensamentos caóticos, por vezes agitados e, até mesmo obsessivos. O risco é desenvolver uma “compulsão pelo pessimismo”. Ou seja, esperar o pior acaba virando um hábito, mesmo que em alguns momentos, os tais pensamentos positivos estejam lá também.
Crédito: Giorgio Trovato | Unsplash
Treine sua mente
No esporte, o treinamento mental se dá por uma técnica chamada diálogo interior, em que o atleta aprende a falar consigo mesmo de forma positiva com o intuito de minimizar as pressões externas.
Ronei explica: “esta técnica pode beneficiar a todos nós, tendo em vista que a grande maioria das pessoas possui um diálogo interior disfuncional. Ou seja, cheio de críticas, comparações injustas e cobrança pessoal”.
Ele cita a ginasta americana Simone Biles, que resolveu se retirar das finais da olimpíada por causa das pressões que sentia. “Isso ensina que somente nós sabemos o que é melhor para nós mesmos. E que parar, se ouvir e respeitar nossos próprios limites é um ato de amor-próprio e autocuidado”, completa.
Simone Sanches também fala de autoconhecimento como o primeiro passo para o equilíbrio mental. “Dessa forma, considera-se que um desafio psicológico ainda maior do que chegar no alto nível, é se manter nessa posição”, diz.
Então, bora treinar?
Pois bem, na teoria treinar a mente para atingir o equilíbrio parece algo fácil, certo? Infelizmente, na prática a coisa não é assim tão simples. Mas é possível e o psicopedagogo Ronei Santos dá algumas dicas.
Em primeiro lugar, ele sugere criar uma rotina reparadora, com pequenos prazeres e que nos desconecte de afazeres diários. “Pode ser dançar, correr, joga bola ou até mesmo assistir um filme”, explica.
Rotina ajustada, o próximo passo é tirar sempre a primeira hora do dia para si. “Antes de acordar e fazer algo para os outros, entregue algo para si mesmo”, diz Santos.
E a última dica de Ronei é ter por perto pessoas de confiança para compartilhar os desafios. “Conversar sobre suas angústias ajuda a ver com mais clareza o momento em que vivemos e a encontrar saídas com mais facilidade”, finaliza.
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