Permita-se desfrutar da vida: aprenda a reconhecer seus desejos

Não é incomum encontrar pessoas frustradas com a vida que levam. Aliás, essa é a realidade de boa parte da humanidade. Afinal, quem pode se considerar sortudo o suficiente para viver seus maiores desejos? O que muita gente não sabe é que dá para encontrar caminhos possíveis para viver e expressar nossos desejos autênticos.

O problema, no entanto, começa bem antes de sequer sabermos o que desejamos. Quando vivemos no automático, não olhamos para dentro e deixamos de lado as nossas vontades. Podemos incluir aqui desde os desejos mais simples – como o de comer um chocolate depois do almoço – e até os mais profundos – tal qual a mudança de carreira que vivemos adiando.

O que você mais deseja?

Quem decidiu investigar esse assunto e mostrar caminhos para mudar essa realidade foi a escritora Charlotte Fox Weber. Em seu livro “Você sabe o que realmente deseja?”* (Editora Rocco), ela mergulha nas histórias de seus pacientes do consultório de psicanálise e mostra que, mesmo percorrendo jornadas completamente distintas, todos eles têm uma coisa em comum: o medo de expressar seus desejos.

Em Connecticut, nos Estados Unidos, Charlotte se dedica a observar em seus clientes as nuances que encobrem essa questão. Não vivemos autenticamente por conta das pressões sociais? Pelo medo de desagradar alguém que amamos? Ou por outra razão completamente desconhecida – mas que pode ser entendida por meio do autoconhecimento?

No livro, por meio de exemplos práticos, a autora descreve situações comuns e nos ajuda a encontrar caminhos para viver nossos próprios desejos. Vida Simples entrevistou Charlotte para entender mais sobre o assunto.

Perceba o que faz seu coração bater mais forte. Quem sabe depois de ler esse texto você não decide ficar mais atento aos desejos mais profundos do seu ser?

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Você menciona no livro que passou anos na terapia esperando os terapeutas perguntarem sobre seus desejos mais profundos. O que a motivou a inverter o jogo e começar a explorar os desejos mais profundos das outras pessoas?

Sou impaciente e curiosa, e descobri que as pessoas estavam dispostas a falar de maneira profunda e pessoal se lhes fosse dada a chance. Eu sempre admirei a profundidade da terapia e as revelações que eram possíveis.

Você aborda o conflito entre nossos desejos secretos e as expectativas sociais. Como podemos encontrar um equilíbrio entre essas duas forças para expressar nossos desejos autênticos?

Estamos sempre negociando normas sociais e nossos desejos menos civilizados. Acredito que é sempre um trabalho em andamento para entender o que parece certo pessoalmente e o que é aceitável para os outros. Quando olhamos para as pressões sociais, às vezes seguimos crenças culturais incorporadas que estão desatualizadas e têm a ver com figuras de autoridade do passado. Competimos pela aprovação de pessoas que talvez nem conheçamos e fazemos escolhas por influências que não consideramos. Prestar atenção às pressões culturais permite mais liberdade para viver uma vida que esteja de acordo com os valores pessoais.

Frequentemente “armazenamos nossos desejos secretos em uma espécie de depósito psicológico – nossas vidas não vividas”, segundo o livro. Como uma pessoa pode começar a recuperar esses desejos ocultos desse “depósito” e torná-los realidade?

Fantasias de “Um Dia” e fantasias de “Se Apenas” nos dão uma ideia de nossas vidas não vividas. Pegue-se imaginando o que faria se algo tivesse acontecido de maneira diferente. Pergunte a si mesmo o que você adoraria fazer, mas tem medo de tentar. O medo é geralmente o que nos impede de fazer o que realmente queremos, então examine seus medos e considere as consequências de perseguir seus desejos secretos. Você tem medo de julgamento, rejeição ou fracasso? Tem medo do sucesso? O medo do sucesso é muito mais opressivo e comum do que percebemos. Por mais que pensemos que somos criaturas egoístas, temos maneiras de nos convencer a não viver as vidas que queremos e podemos ser estranhamente desautorizados. Permitir-se desfrutar da vida é estranhamente difícil e totalmente válido.

Sem dúvidas, um elemento-chave em toda essa autodescoberta é a autoconsciência. Como você vê a importância de olhar para dentro nos tempos de hoje, em que as pessoas frequentemente vivem no piloto automático?

De certa forma, acho que precisamos ser surpreendidos pela vida, espantados com nossa própria existência. Perguntar a si mesmo o que você quer pode abrir estranhas descobertas e insights. É realmente sobre consciência e percepção – perceber onde você está e o que é interessante. Infelizmente, esquecemos de nos sentir maravilhados com a vida, e é uma tragédia silenciosa passar os dias correndo e evitando isso.

Finalmente, como escritora e psicoterapeuta, que conselho você daria a alguém que deseja embarcar em uma jornada de autodescoberta e autenticidade para revelar seus verdadeiros desejos?

Acredito que precisamos de coragem emocional. Arrisque-se em conversas ou mesmo em sua própria mente, desafiando-se a enfrentar algo que pode ser constrangedor ou desconfortável. Acho que é preciso coragem para admitir o tédio real e fazer ajustes em relacionamentos. Se você perceber que deseja algo tabu ou impossível, vale a pena encarar. Nem sempre você conseguirá o que deseja, mas algo sempre é possível.

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