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O que nos une?
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É assustadora a quantidade de pessoas que sofrem no subterrâneo, sem que quase ninguém ao redor perceba. Quando ouço uma história complicada, me surpreendo ao perguntar se a pessoa já se abriu com mais alguém. Se estamos sempre nos encontrando, por que tal espaço não surge? Pode observar: no trabalho, temos problemas profissionais que recebem soluções profissionais em uma conversa corporativa. O mesmo acontece no casamento ou entre amigos no bar. Esse funcionamento ignora nossa dimensão mais profunda, com uma infinidade de aflições mais fundamentais e sonhos mais elevados, pedindo por outros espaços (concretos e sutis) que hoje em dia mal conseguimos imaginar, muito menos encontrar ou abrir. Nossos encontros são motivados por genética, classe social, consumo, crença, política, afinidade cultural, objetivo profissional, estilo de vida? Na internet, por exemplo, a maior rede social é baseada na amizade e nos obriga a adicionar ou remover as pessoas. Tudo o que nos une desse modo condicionado é exatamente o que nos separa, causa confusão, preconceito e eventualmente violência. Mas o que nos aproxima a todos, sem exceção? Os grandes sábios sugerem algo tão simples que parece bobo: não queremos sofrer, queremos ser felizes. Não tem ninguém que não se identifique com isso, da formiga ao pedófilo, do bebê ao ancião de qualquer lugar. Claro, ainda que a motivação seja a mesma, o modo como estamos buscando uma vida melhor acaba nos separando. Então qual seria essa felicidade cuja busca não nos faz competir e colidir? Uma condição disponível a todos, que possa ser oferecida sem pré-requisitos? Falta conversar mais disso, pessoal. Se você pegar as conversas em cima da mesa da cozinha ou do escritório, todos nós estamos discutindo coisas muito avançadas, como se já estivéssemos tocando o mesmo chão. Mas não estamos. Não temos clareza alguma sobre o que realmente vale a pena. Precisamos abrir mais espaços de encontro que não convidem profissionais ou familiares ou amigos, cujo ponto de contato não seja um conjunto de identificações específicas, mas o simples desejo de cultivar uma felicidade genuína. Nesse encontro não haverá estranhos nem conhecidos, mas parceiros além de qualquer bolha, que vão se reconhecer em nosso chão mais básico. Se você me apresentar seu projeto, talvez eu não me identifique. Mas se você falar como está trabalhando com a ansiedade, estou dentro! Essa é a única conversa que já começamos abertos e iguais.

Gustavo Gitti trabalha com TaKeTiNa e outros processos de transformação. Seu site é gustavogitti.com

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