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O caos não gosta de planos
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Neste ano que passou, nossos planos tombaram, um a um, como peças de dominó. Os anos no mar nos acostumaram com a mistura entre padrões e caos do ambiente que nos envolve. Tudo muda, o tempo todo. Planos são apenas estudos de cenário, uma forma de nos prepararmos para realidades possíveis. Nossos esforços iam em direção de balancear nossa vida no mar com períodos de trabalho em terra. Também queríamos mesclar temporadas de educação a bordo com a escola Waldorf que nossas filhas frequentam na Nova Zelândia. A ideia era nos dividirmos: Sandra cuidaria delas na Nova Zelândia enquanto eu realizaria travessias para Fiji e Austrália. De Fiji, Sandra seguiria para São Paulo, onde ofereceria uma série de consultorias, enquanto eu ficaria responsável pelas meninas. Entre as navegadas, nos reuniríamos por algumas semanas no Santa Paz.

Só nos esquecemos de avisar o caos sobre nossos planos. O imponderável tomou conta. Meu sogro sofreu uma cirurgia de emergência e Sandra teve de voar às pressas para o Brasil com as crianças. Eu, depois de levar o veleiro para Fiji, precisei ir ao Brasil buscar as meninas. Clara está com 12 anos e Júlia com 9. As quatro semanas que ficamos juntos a bordo foram intensas. As moças e eu dividimos as tarefas de Sandra e nos adaptamos bem. Começávamos nossas manhãs com ioga ou aulas de natação. Na sequência, atividades escolares e depois cozinhávamos o almoço juntos. Tínhamos as tardes para conhecer a gente local e explorar esta terra tão diferente. Estabelecemos um ritmo gostoso. Quando faltava uma semana para a chegada de Sandra, zarpamos de onde estávamos para perto do aeroporto, em Nadi, nas ilhas Fiji. Navegamos dois dias e duas noites sem paradas, com as meninas fazendo turnos de navegação e me ajudando. Chegamos cansados, mas com uma sensação de conquista. Aí veio o baque: o pai de Sandra teve nova internação. Além da preocupação com ele, tivemos de adiar a vinda da San em mais uma semana. O caldo azedou. O cansaço acumulado e a saudade nos deixaram impacientes. Foi uma semana difícil. Ainda me surpreendo como é delicado o equilíbrio. Basta uma gota para transbordar. Os cinco dias que tivemos reunidos ajudaram, mas a nova partida das minhas garotas foi doída. No ano que vem, vamos avisar o caos sobre nosso planejamento para ele não atrapalhar. Para ajudar, iremos atrás de planos mais simples.

LUCAS TAUIL DE FREITAS é casado com Sandra Chemin e pai de Júlia e Clara.  A família vive no veleiro Santa Paz.

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