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Caminhos da conexão emocional: como fortalecer os laços afetivos
Marco Bianchetti
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A conexão emocional é uma poderosa catalisadora para o estabelecimento de laços afetivos duradouros e enriquecedores. Quando nos permitimos mergulhar nessa jornada emocional, descobrimos a magia que há em compreender e ser compreendido, transformando nossas interações em um tecido de autenticidade, empatia e carinho mútuo.

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Desde que uma amiga minha se separou, algo curioso vem acontecendo: alguns familiares, com os quais ela tinha pouco contato, passaram a procurá-la para desaguar mazelas de suas relações. É como se, de alguma maneira, ela tivesse passado a ser a pessoa certa a quem confiar algo íntimo, até então sufocado. Por falta de empatia ao redor? Pela ausência de um interlocutor confiável? Por vergonha da própria vulnerabilidade? Por medo do julgamento alheio? Por tudo isso embaralhado?

Ilustração mulher se preparando para salto ornamental

Ilustração Tiago Gouvêa / @tgouvea

 A importância da conexão emocional nas relações humanas

Muitas podem ser as grades que nos levam a trancafiar nossos incômodos em vez de soltá-los. Mas, quando o fazemos, ah, que descompressão fabulosa. Falar sobre nossas dores não as faz desaparecer, claro. Mas o peso, que até então suportávamos sozinhos, de repente se ameniza; descobrimos que há espaço em nossa mente e em nosso coração para sermos benevolentes com a gente mesma. Uma fresta se abre e o ar volta a circular.

“Depois de uma conversa com alguém que soube escutar, a angústia parece um pouco menor. O barulho interno se acalmou. Você conseguiu dar nome aos seus medos e recebeu apoio em cada um deles. Alguém enxergou a sua dor e ajudou a olhar para ela”, pontua a psicanalista Elisama Santos no livro Conversas Corajosas: Como estabelecer limites, lidar com temas difíceis e melhorar os relacionamentos através da comunicação não violenta * (Paz & Terra).

Agora mesmo podemos cavar em nossas relações esse lugar tão caro no qual a conexão emocional floresce, garantindo a sustentação necessária para as nossas travessias. Seguimos mais aprumados e firmes, pois a troca de afeto genuíno valida quem somos, do jeito que somos, e o que sentimos, seja lá o que for. Acontece que, sem abertura e coragem para estar por inteiro numa relação, com nossas luzes e sombras, a intimidade nos escapa. Não nos mostramos por receio de sermos rejeitados e, com isso, perdemos a chance de deixar o outro à vontade para se mostrar também.

“Conversas verdadeiras acontecem quando abrimos mão do desejo de controlar o outro e o que ele deve pensar. Quando abrimos mão do desejo de controlar como vamos nos sentir. Quando abrimos mão do desejo de saber o que dizer, quando dizer e como dizer”, destaca Elisama. Seja sincero. Quantas vezes você esperou que o outro desse o primeiro passo para que você se sentisse encorajado a se abrir? Acho que já deu para perceber que o aprendizado maior está em confiar na própria coragem de se revelar, certo?

Ilustração mulher fazendo salto ornamental. Ilustração Tiago Gouvêa / @tgouvea

Os primeiros passos para a conexão emocional

Anos atrás participei de uma dinâmica em grupo que propunha aos participantes formarem duplas para uma troca de confidências. Cada qual tinha de contar ao par uma memória dolorida. Na minha vez, desatei a falar, jorrando nos ouvidos daquele ser, disposto a me ouvir sem interrupções, minhas impressões do ocorrido e como elas me abalavam até hoje. Foi fácil. Extremamente fácil. Não convivia com aquela pessoa no meu cotidiano, ela não conhecia ninguém dos meus círculos familiar e social; era, portanto, uma tela em branco pedindo para eu arremessar minhas tintas sem pensar nas consequências. Se à minha frente estivesse alguém próximo, conhecedor de cada página do livro da minha vida, aí o orgulho, a vaidade e a onipotência apareceriam para editar o que sairia da minha boca. Pode acreditar nesta aquariana que persegue a independência a qualquer custo.

Porém, às vezes, precisamos dos saltos de fé, no escuro mesmo, com risco, sim, com insegurança, muito provavelmente, para quebrarmos o que nos engessava num molde que se supunha feito de aço. Mas como convencer a vergonha e o medo a nos alforriarem? Vamos a eles. Você não é a única pessoa do mundo a se equivocar, a falhar, a ter dificuldade para resolver um problema ou lidar com uma característica espinhosa de sua personalidade. Num mundo imperfeito, não deveríamos sentir vergonha de nossas imperfeições. No entanto, nos envergonhamos. E como! Mas até quando?

“Ser vulnerável não é ser fraco, não é ser inferior, é simplesmente ser humano, reconhecendo que necessitamos uns dos outros e que estamos interligados numa rede de interdependência”, defende Fábio Otuzi Brotto, cofundador do Projeto Cooperação e pioneiro em Pedagogia da Cooperação no Brasil. Então a primeira coisa a se fazer, segundo ele, é reconhecer e aceitar que certas fragilidades estão nos visitando naquele momento. “Quando eu me vejo incapaz de lidar com alguma situação sozinho, preciso aceitar que o receio de não ser amado como eu sou está presente. E abraçar a mim mesmo, este que sente vergonha, medo, tem dúvidas, preocupações”, ele sugere.

Talvez, assim, fique mais fácil, em seguida, procurar alguém com quem você se sinta confortável para partilhar suas aflições. De preferência, uma pessoa capaz de afastar o julgamento e a crítica, dando espaço para a empatia e a compaixão lhe afagarem. Isso significa sentir junto, com o olhar presente, quem sabe, dentro de um abraço macio, o que é bem diferente de querer salvar o outro preenchendo suas faltas com soluções apressadas.

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Ilustração mulher finalizando um salto ornamental Ilustração Tiago Gouvêa / @tgouvea

Pontes no lugar de muros

Definitivamente, ninguém precisa dar conta de tudo sozinho, por mais que a gente tenha sido levado a acreditar que vitorioso é aquele que tudo alcança por si mesmo, ainda que haja um baita sacrifício. “Podemos reaprender que ser capaz é ser capaz com as outras pessoas. Ser capaz de pedir ajuda, ser capaz de aceitar ajuda, me abrir para colaborar com você e permitir que você colabore comigo confiando que, para além de todos os limites, nós podemos, juntos, encarar tudo o que vem pela frente”, incentiva Fábio.

Agora, ninguém vai demolir bravamente suas defesas se atrás delas ainda existirem machucados latejantes, um trauma feroz, uma crença que turva o visor para as boas perspectivas da vida. Dá muito medo sentir aquela dor de novo. Por isso, instintivamente nos protegemos com muros; em alguns casos, muralhas. “Só podemos nos abrir se cuidarmos das nossas feridas”, avisa a psicoterapeuta Neiva Bohnenberger. “Só posso estar com o outro quando cuido das minhas dores e aceito as cicatrizes de minhas batalhas, das muitas vezes que venci meu medo de não ser bom o bastante, assim como minhas vergonhas”, ela complementa.

Isso quer dizer que, se chegamos ao ponto de partilhar nossas partes mais sensíveis, é porque não só confiamos na escuta acolhedora do outro, como também nos responsabilizamos por cada coisa sentida. Afinal, somente nós podemos fazer algo a partir do que nos revolve por dentro. Nesse sentido, nossa rede de apoio se soma às capacidades e aos recursos que já residem em nós.

Mas tem um detalhe. Conexão emocional implica olhar para o espelho que o outro tem nas mãos e que reflete o nosso verdadeiro eu, não a imagem idealizada de nós mesmos, que, aliás, tanto gostamos de cultivar. “A intimidade nos resgata desse mundo de faz de conta. Esse é um dos motivos pelos quais a evitamos. Muitas vezes preferimos estar com nossas fantasias a viver no mundo real”, afirma o líder espiritual Matthew Kelly, autor de Os Sete Níveis da Intimidade – A Arte de Amar e a Alegria de Ser Amado* (Sextante).

Veja que curioso. O que para muitos é motivo para fechar as fronteiras afetivas, para Neiva é o néctar dos encontros. “O melhor de um relacionamento é o quanto aproveitamos para reconhecer padrões repetitivos de menos valia e mudar nosso autoconceito e a nossa autoimagem”, ela opina. Nesse estágio, nos interessando mais por aquilo que podemos descobrir sobre nós e nossas relações do que pelas seduções da vitimização.

Para os mais reservados, a conexão emocional pode se dar de forma gradativa. Como orienta Matthew Kelly, podemos começar dividindo fatos da nossa vida, sem grandes análises. Mais para frente, vêm as opiniões, que revelam como enxergamos o mundo. Então podemos adicionar a sutileza dos sonhos e das esperanças, para, em seguida, adentrarmos as searas do desejo e do sentir. É aí que o outro pode ter acesso ao nosso avesso de fato. Quando nos sentimos seguros para escancarar, por exemplo, o medo de ser abandonado ou o pavor de fracassar, já estamos emocionalmente nus. Sinal de maturidade. Uma bonita conquista.

Por fim, podemos informar aos nossos companheiros de jornada, da maneira mais amorosa possível, quais são nossas necessidades legítimas, que podem ser físicas, emocionais, intelectuais e espirituais, e convidá-los a ser parte desse cultivo, que fará desabrochar o nosso melhor e o do outro também. O relacionamento, então, se transforma numa colaboração dinâmica, num pouso confortável para a gente se abrir mais e mais.


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