Aula de improviso
Antes de mais nada, preciso contar: eu já era jornalista quando decidi brincar de interpretar e assim realizar um sonho de infância. O que percebi durante os dois anos de formação do curso de ator é que, no palco, me sinto exposto e desconfortável.
Antes de mais nada, preciso contar: eu já era jornalista quando decidi brincar de interpretar e assim realizar um sonho de infância. O que percebi durante os dois anos de formação do curso de ator é que, no palco, me sinto exposto e desconfortável. Sabendo disso, você pode imaginar os meus nervos quando decidi fazer uma aula de improvisação teatral na Casa do Humor, em São Paulo. Nessa modalidade, os atores entram em cena sem texto e ação programados, partindo de um tema definido na hora – muitas vezes, pela plateia. Dessa forma, os intérpretes precisam desenvolver uma conexão imediata para se manter atentos. Para que isso aconteça, há uma regra básica: embarcar na ideia do outro. Porque, se você recusa o que o colega propõe, a cena não anda. Então, se o seu parceiro dá a entender, por exemplo, que você é um pato, é preciso agir como um. Daí o improviso favorecer o estado de presença, porque a atenção precisa permanecer no agora. Participei de uma aula para iniciantes. E, na véspera, soube que o professor titular (Allan Benatti), conhecido na área, estava participando de um festival no México. Ele foi substituído pela atriz colombiana Adriana Ospina, que tem 14 anos de experiência. Eu recebi de bom grado a mudança, ciente de que, para improvisar, é preciso estar aberto a imprevistos. A aula começou com uma brincadeira com uma bola, que é uma metáfora pertinente para atores que precisam ficar atentos ao que recebem dos colegas em cena. Eu participei dos exercícios todo desengonçado, rememorando a cada bolinha perdida para o ar por que nunca virei um ator (ou atleta) de verdade. Mas, quando começaram os jogos de improvisação, comecei a me encontrar na brincadeira – e a encontrar o outro. Fui uma engrenagem de máquina (nem todo personagem é humano, ora), um pai de família e um noivo inconveniente. Cada vez que entrava em cena, não sabia no que ia dar. Isso pode parecer assustador no começo, mas acaba sendo igualmente libertador. Sem texto decorado, sem papel definido, a gente precisa se reinventar. Mais ou menos como pode ser a vida quando você respira fundo e se enche de coragem para se abster do personagem.
Casa do humor – casadohumor.com.br
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