Em busca do melhor
Que mais cedo ou mais tarde a gente aprenda cada vez mais a ouvir e a olhar para o outro como um igual e que, a partir daí, tenhamos um país melhor
Que mais cedo ou mais tarde a gente aprenda cada vez mais a ouvir e a olhar para o outro como um igual e que, a partir daí, tenhamos um país melhor
Como em um jogo de palitos, tiram-nos um direito por vez. Sai o palito amarelo e congelam-se os investimentos em educação e saúde por 20 anos. Com o palito azul vai-se a legislação trabalhista. Tascam o marrom e é a aposentadoria que escorre pelo ralo. Sai o verde e uma área de proteção ambiental do tamanho da Dinamarca é abolida na Amazônia.
A cada mês quando chega o momento de escrever esta coluna me pergunto quando virá o basta. Qual vai ser a gota d’água? Talvez a carcaça tenha mesmo de estourar para que as pessoas percebam que o privilégio e a exclusão não beneficiam ninguém. A realidade que emerge do privilégio vai afundar o planeta. Nas profundezas somos todos comida de peixe não importa se viajávamos na primeira ou terceira classe do Titanic. Na Espanha o leite entornou no 15 de maio de 2011 na ocupação da Praça Catalunya. Já em Taiwan foi a ocupação do Parlamento em março de 2014. Na Espanha estabeleceu-se o Movimento 15 M e em Taiwan, a Revolução Girassol.
Estamos em toda parte
O que nos ensinam os indignados ibéricos e os hackers de Taiwan? Ambos os movimentos emergiram de protestos que aglutinaram ativistas de diferentes causas. Um encontro que resulta de uma reação de nojo frente à corrupção e ao abuso do privilégio econômico. Com as memórias de Franco ainda vivas, e uma tradição de movimentos sindicais e anarquistas, a Espanha vê o renascimento da participação cívica. Movimentos como Podemos e Barcelona en Comú surgem como um novo tipo de parti- do, ou confluência, como preferem os catalães. Em Taiwan começa a experiência de desenvolvimento de um conjunto de tecnologias cívicas de participação democrática direta, o Taiwan.
Tanto na Ásia com na península o foco esteve na gestão municipal, perto das pessoas, no processo de articular as comunidades e dar voz às pessoas. Mesmo quando há pressa, os processos levam tempo. A cada dia emergem lideranças e fortalecem-se os movimentos de base.
No Brasil, nossa democracia mal saída da adolescência foi derrubada por um golpe rasteiro do privilégio. O último suspiro de forças reacionárias que não respiram no ambiente transparente que vem aí. Não é de estranhar que, em seu réquiem, deteriorem ainda mais nossas cambaleantes instituições. Querem manter as rédeas a qualquer custo. O que não entendem é que não há mais cavalo, não nos montam mais. Estamos em toda parte, em cada esquina.
Mais cedo ou mais tarde, o basta vai tomar as ruas. Que essa ruptura aglutine nossos ativistas de cada maré, como aconteceu em Barcelona e em Taipei, e que emerja em cada uma de nossas cidades uma centena de movimentos de base dispostos a ouvir as cidadãs e cidadãos que vão construir um Brasil de ar puro.
Lucas Tauil de Freitas sabe que a esperança dança na corda bamba de sombrinha.
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