Estátua!, de Gabriela Amaral de Almeida
Necessidade, aflição, pena e medo. Sentimentos controversos se misturam em Isabel e em nós, espectadores tão bem conduzidos para dentro do drama da babá grávida e recém-contratada para cuidar de uma menina estranha
Necessidade, aflição, pena e medo. Sentimentos controversos se misturam em Isabel e em nós, espectadores tão bem conduzidos para dentro do drama da babá grávida e recém-contratada para cuidar de uma menina estranha
Os medos de uma mulher grávida podem resultar na superproteção ao bebê ainda não nascido e na tensão da espera pela grande responsabilidade de ser mãe.
Estátua! mostra a aflição da babá Isabel (Maeve Jinkings), grávida de seis meses. Ela deve tomar conta de Joana (Cecilia Toledo), uma menina aparentemente dócil e que gosta de brincar de “Estátua!”, por poucos dias. A missão, a princípio muito simples, muda de cor quando Joana se revela possessiva e passa a ter comportamentos estranhos, disputando com o bebê pela atenção de Isabel.
A diretora do curta, Gabriela Amaral Almeida, faz um cinema de sensações, que se pretende climático e envolvente, dentro de um gênero (o suspense ou o terror/horror) pouco explorado no cinema brasileiro. Sobretudo em formatos de curta duração, erguer uma atmosfera realmente angustiante não é nada fácil; pede desenvoltura na condução do ritmo e sensibilidade na gradação dos calafrios, tarefas que Gabriela tira de letra.
O pesadelo crescente com que se depara a babá Isabel é alimentado por um desenho de som aclimatado, pela sintonia entre as duas atrizes e, principalmente, por um inteligente uso do espaço. No decorrer da narrativa, o já pequeno apartamento vai ficando cada vez mais claustrofóbico e sua iluminação, baixa e facilitadora de sombras, ajuda a falsear o espaço, insinuando um lugar incerto. Os enquadramentos de Gabriela catalisam tal sensação ao colocarem em plano quinas e portas entreabertas. São figuras gêmeas do inconsciente de Isabel, hesitante em sua condição de grávida e, agora, rumo ao desespero.
Estátua! dialoga com a obra de Juliana Rojas e Marco Dutra, montador do filme, na tentativa de trazer frescor narrativo ao cinema autoral brasileiro de hoje e no flerte com o cinema de gênero. Mais do que um belo exercício expressionista, o curta é demonstrativo do talento de uma cineasta que deve aumentar bastante sua projeção nos próximos anos.
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