Aves, cores e flores: a beleza do Cerrado contada em livro
O Cerrado, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta, cobre cerca de 25% de todo o território brasileiro. Apesar disso, segue sendo pelo desmatamento pela fronteira agrícola e pelas ações intensificadas por meio das mudanças climáticas. Para registrar a sua beleza, os autores Nicolas Behr e Therese von Behr uniram as aves, cores e flores em livro, criando um espaço de memória e resistência sobre o Cerrado.
Aves, cores e flores, o que essa junção de três elementos, à primeira vista, diferentes, têm em comum? Apesar de distintas, possuem conexões e estão muito mais próximas umas das outras do que podemos imaginar, ainda mais quando se fala do Cerrado. O bioma, que é considerado a maior savana em biodiversidade do mundo, ocupa cerca de 25% do território nacional e conserva espécies da fauna e flora que são únicas.
Para preservar essa memória, as conexões entre as aves e as flores, além da beleza natural do Cerrado, Nicolas Behr – um poeta e ambientalista nascido no Cerrado – e Therese von Behr, uma aquarelista lituana que fez sua vida no Brasil -, registraram em livro as particularidades, diversidade de cores e a conexão dos pássaros com a flora do bioma.
Muito mais que artístico, Nicolas explica que a relação entre a vegetação e os animais da região é intrínseca e interdependente, “as duas evoluíram juntas, muitas espécies do Cerrado são polinizadas por aves com um bico específico para aquele tipo de flor”, conta à Vida Simples enquanto se desdobra com o seu trabalho em uma pequena loja de mudas na cidade de Brasília. Nascido em Cuiabá, o poeta já foi publicitário, iniciou um hobby de plantação que virou o seu negócio, fez parte de movimentos ambientalistas e nos últimos anos se dedicou a expandir os conhecimentos acerca do bioma.
Perservação e pertencimento
Aves, flores e cores do Cerrado* (Mais Amigos) surgiu exatamente como um livro que instiga a conhecer mais sobre o bioma, se apropriar dos conhecimentos em torno dele e defender a sua preservação em meio às ameaças de extinção de diversas espécies. A obra apresenta uma amostra da rica fauna e flora do Cerrado, para que os leitores as conheçam, admirem e ajudem na defesa do bioma, assim as próximas gerações terão o mesmo privilégio de poder estudá-las nos livros e contemplá-las na natureza.
A grande paixão de Therese, a aquerela, foi utilizada para retratar o Cerrado e ilustrar o livro que hoje incentiva a preservação do bioma. Foto: Reprodução / Editora Mais Amigos
Inspirado nas pinturas de sua mãe (Therese von Behr), Nicolas uniu uma escrita simples, didática e acessível para criar um pequeno acervo das aves e flores do Cerrado. Desde que chegou ao Brasil, Therese viveu apenas neste bioma, primeiro em Minas Gerais, depois em uma fazenda na cidade de Diamantino (MT) e por último em Brasília.
Nascida na Lituânia, a artista é filha de uma consagrada aquarelista polonesa, Anna Romer, e veio parar no Brasil por uma série de acasos na vida. Embora tenha crescido em Vilnus, a capital do seu país, Therese enfrentou a II Guerra Mundial, mudou-se para o Canadá, se apaixonou por um jovem estoniano e após longas trocas de cartas decidiu pegar um navio de Nova Iorque para Santos em busca de Anatol von Behr, com quem se casou no Brasil.
Assim como o Cerrado, que se metamorfoseia, morre e renasce todos os anos, a vida de Therese também foi seguindo esse fluxo, depois dos muitos problemas vividos na Europa em decorrência das guerras e conflitos, deixou o continente para viver no Canadá, veio ao Brasil em um época onde o único meio de comunicação era a carta e refez sua vida a cada novo momento. “A vida dela é uma eterna reconstrução“, conta Nicolas, que tem mais dois irmãos, também ambientalistas.
Therese von Behr é aquarelista e ilustrou as páginas do livro. Foto: Museu do Cerrado
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Memória e semente
Com apoio do governo distrital, o projeto de Nicolas e Therese recebeu apoio cultural e circulou por escolas da região para incentivar o conhecimento do Cerrado, o contato com o bioma e despertar o interesse pela preservação desse ecossistema. “São sementinhas que a gente deixa”, explica Nicolas, destacando a importância de levar essa memória e o legado da região para as novas gerações.
Para ele, a espontaneidade das crianças, a curiosidade e a facilidade de abrir-se para o novo são coisas que o interessam e motivaram a levar o trabalho para esse público. O próprio livro, voltado para o Ensino Fundamental, foca nas crianças e adolescentes que serão os novos defensores do Cerrado, embora o público que o livro pretende atingir seja todas as pessoas, afinal, a defesa do bioma se constrói na coletividade e união de diferentes grupos.
O poeta e ambientalista Nicolas Behr levou o livro às escolas públicas do DF com apoio do governo local. Foto: Divulgação
Por outro lado, o desmatamento e o avanço da distruição do Cerrado avançaram nos últimos meses. Só entre janeiro e julho deste ano, segundo uma pesquisa divulgada com o Sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), o bioma perdeu 4091,6 km² de vegetação nativa, 28,2% maior que os sete primeiros meses do ano passado e 50% maior do que em 2020.
Em Ser tão Velho Cerrado (2018), um documentário brasileiro disponível no streaming, um grupo de defensores da natureza se reúne na Chapada dos Veadeiros para desenvolver técnicas de manejo e de preservação ambiental que respeitem o bioma e mostram que há outras formas possíveis de reproduzir a vida que não incentive a destruição do ecossistema.
Assim como esses ativistas, Nicolas e Therese contribuíram para a construção da memória do Cerrado, estimularam a sua preservação, mostraram a sua beleza e imprimiram em aquarela, texto e cores a fauna e flora únicas de um lugar que reúne vidas inteiras hoje ameaçadas de extinção.
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