Qual é o preço da conveniência?
O que acessamos de forma fácil, às vezes, cobra de nós um preço maior que o expresso em dinheiro. Afinal, qual é o limite da conveniência?
O que acessamos de forma fácil, às vezes, cobra de nós um preço maior que o expresso em dinheiro. Afinal, qual é o limite da conveniência?
Ah, é fácil. Você nem precisa pagar, desce do carro, o motorista finaliza a corrida e pronto está pago. Como? No seu cartão de crédito. Então, eu pago sem ver? Sim. Mas sente depois, na fatura do cartão. Não precisa fazer o jantar, a gente pede no delivery. Se já teríamos que comprar a comida mesmo, melhor comprar pronta, né? Pode ser hambúrguer e fritas?
Por falar em compras, e se ao invés de ir ao supermercado no fim de semana, pedíssemos naquele aplicativo que alguém faz as compras no nosso lugar? Ótimo, eu acho importante escolher algumas coisas, mas não tem problema.
Diálogos fictícios, inspirados em situações bem reais. O mundo digital trouxe a conveniência com tudo para nossas vidas. No entanto, quantas vezes paramos para pensar o que isso significa? Quais são os impactos ou será que só existem pontos positivos? Todos nós temos uma lista de tarefas diária em nossa cabeça, coisas que precisamos fazer, que vão desde escovar os dentes à ajuda na lição das crianças.
Mais conveniência, por favor
Acontece que as tarefas se multiplicam, o tempo não. Além disso, como Freud já sabia e dizia, se pudermos diminuir a dor e aumentar o prazer, melhor. É aí que entra essa palavrinha a nos entregar aquilo que atende nosso gosto e necessidade. E, ainda, de um jeito que não me exija nenhum ou pouco esforço. Não por acaso, conveniência é uma das maiores prioridades do consumidor, segundo pesquisa global da PwC divulgada este ano. Para 80% das pessoas entrevistadas, é um fator essencial na hora da compra. Faz sentido, né? Conveniência é tudo de bom, não é?
Depende.
Depende do que levamos em consideração, quando pensamos em algo conveniente. No curto prazo, sem dúvida, ter alguém riscando uma tarefa na lista por nós, ou tornando-a mais fácil, é algo maravilhoso. Maravilhoso. Todavia, não é de graça. E olha, nem estou falando apenas de dinheiro. Apesar do dinheiro também precisar fazer parte da conta, uma vez que a conveniência torna, na maioria das vezes, o produto ou serviço mais caro. Preço que estamos dispostos a pagar sem pensar duas vezes, também de acordo com estudos. Tanto que os serviços de conveniência tem uma boa contribuição para o aumento do endividamento.
Outro dia, conversava com uma especialista em finanças pessoais e ela fez uma excelente provocação nesse sentido: precisamos nos alimentar, não precisamos do delivery. No entanto, acabamos confundido uma coisa com a outra e acreditando que o serviço de entrega é tão essencial quanto a própria comida.
Mais consciência, por favor
Além do dinheiro, existem outras contas a serem pagas, quando optamos pelo que é mais conveniente. Muitas vezes, deixamos de lado comportamentos importantes e valores preciosos para nós, em função do mais fácil ou do esforço que não queremos fazer. Aí surgem coisas mais convenientes e menos sustentáveis. Mais convenientes e menos justas para funcionários e parceiros. Mais convenientes e menos humanas.
Pode até parecer até esse ponto, mas não sou contra a conveniência trazida pela tecnologia. Aliás, os exemplos fictícios lá do início nem são tão fictícios assim. A ideia não é nos tornarmos novos ludistas e lutarmos contra o avanço da tecnologia e das possibilidades que ela traz. Quero apenas provocar reflexões sobre as consequências do seu uso no nosso dia-a-dia, porque apesar da conta inicialmente parecer invisível, ela sempre chega.
TIAGO BELOTTE é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas e no Uni-BH. Seu Instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.
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