Como será o futuro do trabalho? É hora de entender essa revolução
Vivemos a transição "da vida que antes se encaixava no trabalho, para o trabalho que agora se encaixa na vida". Leia o texto de estreia da colunista Andrea Janér.
Como será o futuro do trabalho? Andrea Janér é especialista em identificar as transformações antes mesmo que elas aconteçam no mundo. Ela trabalha estudando tendências e fazendo curadoria de inovações. Agora, traz para Vida Simples o seu olhar atento e detalhado sobre como essas mudanças podem impactar nosso dia a dia. Andrea fala sobre a revolução do mercado de trabalho. Como ela mesma diz, vivemos a transição “da vida que antes se encaixava no trabalho, para o trabalho que agora se encaixa na vida”.
A pandemia expôs frustrações antigas, vocações mal descobertas, carreiras infelizes, empregos medíocres, chefes abusivos. Os números de burnout – considerada doença ocupacional a partir deste ano – explodiram. Empresas tentam oferecer aulas de yoga, meditação, massagens e apoio psicológico para reter uma força de trabalho esgotada. Elas não enxergam sua responsabilidade neste fenômeno, causado por jornadas extenuantes, ambiente competitivo, falta de reconhecimento e ausência de flexibilidade.
Hoje, nos vemos diante de várias pendências com as quais teremos que lidar por muitos anos, como o aumento das desigualdades, o declínio da saúde mental, a polarização em torno das vacinas, e a lacuna na educação de milhões de estudantes no mundo todo.
Ao mesmo tempo, existe uma revolução acontecendo no mundo do trabalho, e que muitas empresas se recusam a ver.
Revolução no mundo do trabalho
Para muitos trabalhadores da economia do conhecimento, cujo ofício depende basicamente de um computador, a vida em home office começou difícil, mas acabou se tornando, com o passar do tempo, um arranjo melhor do que o esperado.
Moradores de grandes cidades, reféns de um custo de vida alto e de uma qualidade de vida nem tanto, se mudaram para cidades do interior ou litorâneas em busca de espaço, sossego e simplicidade.
Jovens, solteiros ou casados, mas sem filhos, colocaram o laptop na mochila e saíram pelo mundo como nômades digitais, aproveitando os vistos especiais oferecidos por governos como da Espanha, Portugal, Croácia e até mesmo do Brasil.
Mulheres, expelidas do mercado de trabalho aos bandos durante a pandemia, estão deixando o mundo corporativo e se aventurando no empreendedorismo, em busca de um maior equilíbrio entre a maternidade, o trabalho, a casa, as contas e a realização pessoal.
Grupos minorizados encontraram nas videoconferências o refúgio que os protegeu das microagressões sofridas por anos no ambiente profissional.
Essas são mudanças que vão redesenhar o mercado de trabalho na próxima década, e que são a parte visível de um movimento mais profundo.
A nossa relação com o trabalho
Pela primeira vez desde a revolução industrial, estamos diante da oportunidade de repensar nossa relação com o trabalho. Podemos tentar fazer com que ele se encaixe na nossa vida, em vez de encaixar nossa vida em torno dele como vínhamos fazendo até aqui.
A solução pode ser o trabalho híbrido. Neste formato, as pessoas passam a maior parte do tempo trabalhando de qualquer lugar – não necessariamente de casa, mas de um coworking, de um café, da praia, ou de qualquer lugar onde haja um bom wifi. Cerca de uma vez por semana, elas vão ao escritório para executar tarefas que funcionam melhor presencialmente, como sessões de brainstorm.
Com isso, os escritórios podem ser menores, mais atraentes, e até mesmo dispersos por várias localidades, para receber funcionários em diferentes cidades. O trabalho pode ser feito de forma remota e assíncrona, acomodando pessoas em diferentes fusos horários. Entram em cena novas ferramentas digitais, que permitem a colaboração e a eficiência dos times.
Amigos dentro e fora do escritório
Ah, mas e a socialização?
Com mais tempo livre, ou com uma maior flexibilidade de horários, as pessoas poderão finalmente fazer as coisas que compõem uma vida equilibrada: esportes, hobbies, cursos, leituras, voluntariado, apenas para citar alguns exemplos. E vão poder encontrar pessoas em todas estas atividades, expandindo seu círculo de amizades e trazendo mais diversidade para seu convívio.
O trabalho só virou nossa maior fonte de relacionamentos porque passamos tanto tempo no escritório, que não sobrava tempo para conhecer pessoas em outros lugares.
Para essa teoria funcionar, no entanto, é preciso desaprender o jeito antigo de trabalhar e reaprender um jeito novo. Desapegar da fórmula do passado – até porque o modelo anterior estava longe de ser perfeito – e se abrir para as infinitas possibilidades que esta reestruturação pode nos trazer.
Para quem estiver disposto a encarar esta reinvenção, as recompensas serão transformadoras, e o resultado, uma vida mais simples, prazerosa, leve e plena.
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Um pouco mais sobre mim
Olá, sou a Andrea Janér, e depois de uma carreira de mais de 20 anos no mercado corporativo, trabalhando com branding, acabei fazendo uma transição de carreira para mergulhar no mundo da inovação. Hoje, viajo pelo mundo atrás de festivais como o SXSW, o Web Summit, C2 e RISE para entender para onde o mundo está caminhando e quais os grandes desafios que teremos que enfrentar como humanidade.
Compartilho esses aprendizados com uma comunidade de lifelong learners na Oxygen, uma plataforma de conteúdo em inovação, e me sinto realizada por termos hoje reunido pessoas curiosas, interessantes e interessadas em se conectar ao zeitgeist.
Sou casada e mãe de três filhos adolescentes, que me provocam todo dia a ser uma pessoa melhor. Afinal é para isso que estamos todos aqui, não? Evoluir sempre, como indivíduos e como sociedade.
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ANDREA JANÉR (@andrea.janer) é empreendedora e apaixonada pela conexão entre inovação, conteúdo e educação. Acredita que repertório é a chave que muda o mindset das pessoas. Tem um olhar particular para a curadoria de tendências e vem ajudando pessoas e empresas a se engajarem nos grandes temas que vão impactar o mundo por meio da Oxygen (@oxygen.brasil), uma plataforma de conteúdo em inovação que oferece aulas, encontros online, sessões de debates e viagens.
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