Nada é por acaso: a força da vida em perspectiva
Existe uma certa teia que nos conduz e que nos coloca exatamente no lugar em que deveríamos estar. Como nos lembrou Albert Einstein, "Deus não joga dados com o Universo". Tudo tem um sentido, um propósito maior.
Existe uma certa teia que nos conduz e que nos coloca exatamente no lugar em que deveríamos estar. Como nos lembrou Albert Einstein, “Deus não joga dados com o Universo”. Tudo tem um sentido, um propósito maior.
A vida é perfeita em sua “imperfeição”. A frase pode parecer um pouco etérea, mas se ao invés de interpretá-la você senti-la, tenho certeza que irá lhe encontrar de alguma maneira nesta minha coluna de hoje em Vida Simples.
Quero lhe convidar para olharmos as coisas em perspectiva, por alguns minutos. Talvez assim seja mais fácil encontrarmos o interruptor de luz quando surgirem os quartos escuros da nossa vida.
Demorei um bom tempo para assentar em mim um sentido e um significado mais profundos sobre tudo que me aconteceu ao longo da vida, principalmente com aquilo que inicialmente entendia como algo ruim, algo que me levava a confrontar com uma realidade dolorosa e para a qual a “natureza perfeita do Humano” não gosta de abrir espaço.
Temos dificuldade em aceitar quando perdemos a estrada reta da vida. Aliás, nesses tempos pandêmicos, quantos de nós não estão sendo obrigados a procurar outros caminhos e direções?
Talvez o trecho de retomada da vida esteja agora cobrando muitos pedágios, mas é preciso ganhar alguma rodagem para entender o porquê das novas rotas. Elas também nos conduzirão ao que a vida nos pede.
Tudo isso para dizer que estou cada vez mais convencido de que nada é em vão, tudo tem um sentido, um propósito maior. Existe uma certa teia que nos conduz e que nos coloca exatamente no lugar onde deveríamos estar.
Como diz um provérbio chinês, “nada é permanente, exceto a mudança“, seja qual for a mudança que possamos abraçar.
Você pode estar se perguntando de onde vem essa minha confiança no “tudo é perfeito”. E lhe respondo dizendo que é na própria vida. Na minha própria vida e de tantas outras vidas que cruzam o meu caminho e, imagino, o seu também.
Não me canso de dizer que a vida conversa com a gente o tempo todo.
Olhar em perspectiva
Mês passado, conheci a história de Bruno Mahfuz, fundador do Guia de Rodas, uma ferramenta gratuita e colaborativa para consultar e avaliar a acessibilidade de locais públicos e privados.
Cadeirante desde os 17 anos, quando ficou tetraplégico após um acidente de carro, hoje ele é uma referência na área de acessibilidade, colecionando prêmios ao redor do mundo e tendo sido, inclusive, reconhecido pelo MIT como um dos principais inovadores com menos de 35 anos. O seu app está ganhando o mundo e ajudando muita gente.
No papo que tivemos no meu podcast, o 45 Do primeiro tempo, Bruno abriu seu coração e repassou pela sua história de forma muito madura, sem julgamento, sem ser piegas.
Ao ouvi-lo, além de despertar em mim uma lembrança marcante da minha própria história, fiquei pensando também como alguns acontecimentos parecem surgir para desencadear movimentos e projetos que precisam simplesmente nascer.
Há sempre algo mais profundo pedindo passagem. É incrível isso! É a tal da teia a que me referi há pouco. Como disse Einstein “Deus não joga dados”. A vida é soberana. Lembre-se, não a interprete, sinta-a.
Num determinado momento da nossa conversa, Bruno disse: “Se eu pudesse voltar atrás e impedir que aquele acidente acontecesse, eu não voltaria. O processo de conscientização é doloroso. Além das questões físicas, leva tempo, mas também é prazeroso. Isso me trouxe muito amadurecimento e um outro olhar sobre a vida. Quando a consciência se expande ela nunca mais volta ao mesmo lugar“. Uau, no ponto!
Bruno conta que muita gente o olha como alguém fadado a enfrentar uma vida mais difícil do que as outras pessoas por ser cadeirante. Ele não nega seus desafios diários, mas nos mostra o que é ser humano neste planetinha chamado Terra: “Quem aqui nesse mundo não tem os seus acidentes e seus desafios também? A diferença é que o meu é visível”.
A dor ensina
Ao ouvir o relato de Bruno logo me veio à mente um período da minha própria vida em que também me vi diante de um grande desafio e que, num primeiro momento, achei que não suportaria. Demorei a encontrar o interruptor no meu quarto escuro.
Olhando hoje em perspectiva, não escolheria viver nada diferente do que vivi e enfrentei. Vou lhe contar.
O ano era 2004 e, quatro meses depois do casamento, minha mulher recebeu um diagnóstico de um câncer extremamente agressivo. Ainda em “Lua de Mel”, fomos obrigados a redesenhar nossas vidas. Enquanto amigos desenhavam novos projetos, viajavam pelo mundo e constituíam família, nós lutávamos em outras frentes. Foi um período muito intenso de nossas vidas.
Foram precisos dois anos para que tudo se realinhasse. Doença curada, continuamos juntos por mais um bom tempo até que a vida nos colocou em estradas diferentes. E tudo bem.
Quando me lembro daquela época, vejo o quanto cresci, o quanto descobri das minhas reais potencialidades.
Eu conto essa história em um dos capítulos do meu livro, o “45 Do primeiro tempo”. É interessante olhar esse “bailar” da vida Se não fosse aquele episódio, talvez eu nem seria colunista aqui de Vida Simples. Talvez não teria escrito meu livro, não teria descoberto a importância das pausas, não teria trocado de trabalho e tantas outras coisas que me constituem hoje nessa incrível aventura humana.
Conexão sutil
Ao trazer a história do Bruno e passar também por um período emblemático de minha jornada, reforço para mim o sentido da vida. Claro que ninguém precisa perder a mobilidade ou se deparar com uma grave doença para achar sentido na existência. A vida em si é bela.
Acontece que alguns “chamados” da vida têm a capacidade de nos conectar com algo mais sutil ou… Vou além, “a vida é perfeita em sua ‘imperfeição'”.
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PATRICK SANTOS (@patricksantos.oficial) é jornalista, escritor e apresentador do podcast 45 Do primeiro tempo que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. Depois do sabático em 2018, tem se permitido voltar um pouco ao passado para entender que a vida nunca erra.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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