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Exposições imersivas: você ama ou torce o nariz?
Redd | Unsplash
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Neste artigo:

Nessa coluna, Iasmine nos conta a sua visão sobre o boom das imersivas, que segue dividindo opiniões entre o público e os especialistas.  


A menos que você faça parte da pequena parcela de indivíduos que não possui rede social, deve ter visto, ou, como eu, sido bombardeado (o algoritmo não me perdoa quando o assunto é relativo à arte) com projeções de girassóis e noites estreladas como pano de fundo para selfies animadas e sorridentes.

Desde que duas exposições imersivas passaram a disputar a audiência do público no eixo Rio-São Paulo, perguntas relacionadas a programas dessa natureza lotam a minha inbox do Instagram. E, nesse ponto, preciso confessar: fiquei feliz quando o reels que produzi em uma visita ao Beyond Van Gogh foi alçado à posição de um dos mais assistidos e compartilhados do perfil.

Mas o que isso quer dizer? Por que, de repente, essas mostras parecem estar em todo lugar, do Oiapoque ao Chuí?

Ops, postei. Tenho culpa no cartório? Serei julgada pelo tribunal de artsy-esnobes da internet?

Calma. É tudo culpa da Emily em Paris!

A multiplicação de exposições em multimídia no mercado global está na conta da jovem do seriado “Emily em Paris”, que, em algum momento de sua trajetória visita “Van Gogh, Starry Night”, no L’Atelier des Lumières. Eu não sei o que teria acontecido de tão especial nesse episódio, mas, subitamente, imersivas passaram a dominar os noticiários de arte. Aqueles que ainda restam, claro.

Van Gogh e Monet saíram na frente, mas até a Gioconda, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, aquela que recentemente teve atirado contra si um pedaço de torta, estreou no mundo da realidade virtual em uma exposição em Paris, em parceria com o Museu do Louvre. Frida e Gustav Klimt são outros que não escaparam de ter obras apresentadas nesse contexto tecnológico arrebatador.

O TEAM LAB (@teamlab), coletivo interdisciplinar de arte do Japão, tem promovido e divulgado imersões inacreditáveis.

Querida, encolhi os museus. Emily poderia ter dito.

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O sussurro dos tradicionais: deixem os mortos em paz!

Na tentativa de definir se programas dessa natureza podem ser considerados arte, ou até mesmo exposição, lá fora virou moda referir-se ao gênero como artertainment, situado em algum lugar confuso entre arte e entretenimento. E a quantidade de empresas despontando nesse ramo é proporcional a de críticos que reprovam a iniciativa. Acreditem, já escutei/li todo tipo de discurso que quase sempre leva ao mesmo lugar: acham apelativas e/ou populares demais.

Espetacularizam e exploram a arte, dizem. Jason Farago, crítico do The New York Times, chegou a escrever que exposições imersivas são adequadas ao gosto de bebês e sugeriu que as pessoas fossem ao MOMA. É certo que a maior parte dos programas fica devendo na abordagem educativa e atende exclusivamente aos interesses de uma indústria lucrativa do mercado de massa.

Mas, não parece também nocivo esse discurso que retira a diversidade do gosto pela arte, dos mais intelectuais aos mais simples e sensoriais? Afinal, quem é o dono da verdade quando o assunto é contemplação estética?

Exposição imersiva, autorretrato de Van Gogh. Foto: Redd | Unsplash

Ir ou não ir: eis a questão!

É hype oferecer uma experiência. Da compra do hortifruti da semana pelo aplicativo do celular (um salve para quem inventou isso!) à roupa da moda pela internet – que espalhará na sua casa um cheiro marcante delicioso, possivelmente acompanhada de mimos e um cartãozinho escrito à mão -, serviços tentam envolver afetivamente o consumidor. Por isso não vejo com grande surpresa o boom das imersivas. E, sendo assim, se elas chegaram à sua cidade, sugiro que vá consciente e aproveite o que uma experiência comercial pode oferecer de melhor.

Não espere altas doses de conhecimento ou nada próximo da emoção de ver de perto a magia da tinta espessa saltando da tela. Apenas divirta-se.

Eu fui

Venci as filas e, como não achei espaço vazio entre a multidão, sentei-me no chão, dividida entre dar atenção às imagens que piscavam flutuantes e garantir que não perderia lá dentro a Teodora, que corria para perseguir lírios.

Não consegui uma imersão inesquecível (senti, aliás, como se alguém tivesse me enfiado dentro do aplicativo do Google Arts & Culture), mas adorei observar o comportamento feliz e excitado das pessoas. Fiquei pensando se elas também gostam de visitar museus.

Levantei-me, saí e comprei uma caneca de girassóis na grande loja que me aguardava ao fim das projeções.

Leia todos os textos da coluna de Iasmine Souza em Vida Simples.


IASMINE SOUZA é advogada e entusiasta de arte, autora do perfil @minutodearte. A paixão por esse mundo foi tamanha que agora está cursando uma especialização em Crítica e Curadoria de Arte na PUC-SP. Há grandes chances de encontrá-la em alguma exposição. No tempo livre, escreve.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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