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Ver além do óbvio está ao seu alcance
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É com alegria, e com alguma dúvida, que busquei a melhor forma de me apresentar neste novo espaço. Estrear falando sobre o que faço poderia ser um equívoco, já que isso mudou inúmeras vezes ao longo da minha carreira e, se tudo der certo, seguirá mudando. Começarei, portanto, com o que não pode ser alterado, e é essencial para mim: a origem. Sou carioca, e passei a amar a minha cidade saindo dela.

Costumo ser feliz por contraste e a favor da coragem como modus vivendi. Jornalista de formação, sem jamais (até agora) ter exercido a profissão, encontrei na palavra (inclusive a cantada) a melhor forma de ex-pressão, no sentido de colocar a pressão para fora. Sou uma buscadora inquieta e curiosa. Pretendo escrever aqui sobre transformação e liderança criativa na vida e no trabalho, temas que tenho pesquisado e vivenciado intensamente nos últimos anos. Vamos, então, ao que está além e, ao mesmo tempo, ao alcance.

Caminhos traçados e destinos imprevisíveis

A mão invisível do destino por vezes interferiu eloquentemente nos meus caminhos, de modo que não é possível – para mim – ignorar a sua existência. Há várias formas de tradução do que não é visível aos olhos – inconsciente, correntes marítimas, graça divina, matrix, leis dhármicas, algoritmo, karma, campos eletromagnéticos -, mas o seu efeito é sempre o mesmo: a condução do conhecido-conhecido para o desconhecido-desconhecido.

Nesse sentido, interessantemente, o que mais nos afeta é justamente o que não podemos ver. “Milagre”, por exemplo, é o nome dado a um ato ou acontecimento fora do comum que, apesar de inegável, é inexplicável pelas leis naturais. Que tal então darmos um salto de fé, ousando considerar outras possibilidades que estão além, mas também ao alcance?

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O comovente documentário The Overview Effect mostra bem isso ao contar a história de astronautas escalados para irem à Lua que desenvolvem um novo tipo de (auto)consciência ao ver a Terra como um ser único. Do conhecido ponto de origem (Terra) para o destino conhecido-desconhecido (Lua), emergiu inesperadamente o desconhecido-desconhecido: a Terra vista de fora. E, a partir desse “efeito panorama”, os tripulantes daquela missão foram arrebatados por uma inusitada expansão de consciência.

Pensar o inverso para enxergar novas possibilidades

Naturalmente, o poder da perspectiva e da transcendência não depende de uma viagem à Lua. O apetite para ver além e fugir do pensamento ordinário – no sentido de comum – está sempre disponível, e por vezes revela que os problemas costumam conter também as soluções. Isso se tornou evidente para mim quando me deparei pela primeira vez com a expressão Upside Down Thinking (“pensar ao contrário”, em tradução livre) em uma história contada pelo Keith Reinhard, então presidente da agência de publicidade DDB Worldwide. Keith defendia a ideia de que pensar exatamente o oposto traz todos os tipos de possibilidades.

Para ilustrar esse argumento, ele contava a história de um homem que amava o seu trabalho, mas odiava seu chefe. E chegou ao ponto em que esse sujeito realmente não achava que poderia continuar naquela empresa (quem nunca?); ele estava muitíssimo infeliz. Então, pensando com algum distanciamento do problema, decidiu buscar um headhunter. Em vez de fornecer seu currículo, entregou o currículo de seu chefe. O resultado é que o headhunter conseguiu um novo emprego para o chefe e o homem conseguiu manter o emprego que amava.

Essa história me marcou por ter mostrado como acessamos de forma limitada as vastas possibilidades que sempre estiveram ao nosso alcance. Pensar de forma inversa ao senso comum não é natural, mas pode trazer soluções inéditas e efetivas tanto para indivíduos quanto para organizações em momentos de mudança.

No avesso do que é óbvio, podemos encontrar a possibilidade nova, o que ainda não tinha sido visto por olhos (e sistemas) cansados. 

O desconhecido-desconhecido é o “lugar” simbólico da borda, do ex-cêntrico, do que está na margem, do tempo-espaço em que se vai além de si, ou do que se sabia até então de si, com resultados, eventos, circunstâncias ou consequências futuras que não podemos prever e tampouco nos planejar para. Nós nem sabemos quando e onde procurá-los. Mas é preciso admitir: é nessa borda invisível, por trás da concretude e das aparências, que nasce o novo e o movimento começa.

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Para mim, viajar (e não “turistar”) sempre foi a principal forma literal e simbólica de ir além. Mover-se – mesmo que na própria cidade – com um toque de aventura e de loucura faz bem, e é mais uma questão de coragem do que de qualquer outra coisa. Trata-se de se entregar ao desconhecido-desconhecido com fé e curiosidade, acolhendo a intuição como forma de inteligência e potente seta para os novos caminhos.

Em suma, seja como nobre busca ou escapismo genuíno, viajar é encontrar o que não imaginamos. Não por acaso, neste momento em que escrevo, me preparo para ir para um lugar cujo magnetismo da Terra é tão forte que as bússolas não funcionam. Estar oficialmente sem rumo me parece um ótimo ponto de partida. É ver para crer, ou crer para ver.

Estratégias que estão ao seu alcance para você ver além

  1. Exercite a perspectiva: se não pode ir à Lua, visite um Planetário próximo a você e permita-se arrebatar pela beleza do cosmos, sentindo uma conexão com algo maior que nós mesmos.
  2. Desconecte-se: pelo menos um dia analógico já está valendo.
  3. Conecte-se: com estranhos e note que eles também podem se interessar por você. Diálogos significativos, novas perspectivas e aprendizados estão sempre disponíveis. Encontro é sorte, mas também é conquista.
  4. Expresse-se: cante, escreva, pinte, dance. Cultivar uma vida criativa naturalmente levará a um trabalho criativo.
  5. Duvide: de tudo que escrevi. Busque o que está além e ao alcance com a sua própria autoria e criatividade. E me conte tudo depois. 🙂
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