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Uma fato essencial sobre propósito que quase ninguém comenta
Meiying Ng | Unsplash
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No processo de elaboração do meu primeiro livro, me lembro do editor me dizendo: “Patrick, a palavra ‘propósito’ tem que estar na capa, afinal, sua história de transição de carreira e busca por novos caminhos profissionais tem muito a ver com ela e pode seduzir mais o leitor”. Em 2018, ano em que comecei a escrevê-lo, a palavra “propósito” era uma das mais buscadas no Google, o que provavelmente motivou aquela observação.

Aceitei a sugestão da editora que estava bancando o livro e, meses depois, chegou às livrarias “45 Do primeiro tempo – O que o sabático me ensinou sobre propósito de vida e carreira”. De fato, os argumentos estratégicos e comerciais colocados pela editora se confirmaram. O livro teve uma boa vendagem e logo ganhou uma segunda edição.

De lá para cá muitas coisas mudaram em minha vida e a maneira como entendo o significado de “propósito” não é mais a mesma. Penso que a palavra está um tanto banalizada hoje, a ponto de ser usada sem qualquer critério por profissionais das mais diversas áreas para atrair engajamento, bem como por organizações em seus discursos, sempre embalados pela tríade: “visão”, “missão” e “valores”. Falta um pouco de profundidade na sua propagação.

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Mas o que é ter “propósito” de verdade?

Bom, mais do que tentar trazer alguma definição sobre seu real significado, acho que convém ir um pouco mais além e trazer a palavra “propósito” para um âmbito mais existencial, pois creio que assim ela possa ganhar amplitude e menos recorte.

O campo do “existir”

Tenho percebido que essa constante necessidade de “busca por um propósito de vida” tem adoecido aqueles que não conseguem “achar” o seu, como se “propósito” fosse algo que pudesse ser adquirido, bastando apenas esticar o braço até uma prateleira qualquer e colocá-lo num carrinho de compras. E em tempos em que tudo está conectado com tudo, se alguém vê na sua timeline que um amigo ou um conhecido “achou” o seu propósito e ela não, a angústia aumenta e o coração aperta.

Nestes últimos anos, ouvindo os convidados do meu podcast, pude conhecer histórias incríveis de pessoas que vivem felizes suas vidas no âmbito pessoal e profissional. Já ouvi boas definições sobre o seria esse tal “propósito”. Coisas do tipo: “propósito é quando seus talentos se encontram com as necessidades do mundo”, ou “propósito é quando você faz aquilo que dá sentido e significado para sua vida”. Mas, ninguém definiu tão bem para mim a questão do propósito quanto a psicóloga e escritora, Patricia Gebrim, a ponto inclusive de me levar a escrever sobre esse tema na coluna deste mês em Vida Simples.

Nosso propósito é viver

No papo que tivemos recentemente no podcast 45 Do primeiro tempo, Patrícia provocou: “Sabe qual o propósito de uma vida? O propósito de uma vida é a própria vida. Ponto final. Se existimos, esse é o propósito”.

Uau, que forte e, ao mesmo tempo, direto ao ponto.

Claro que, nesta colocação, Patrícia não está dizendo que, num sentido mais prático, não devemos buscar dentro de nós aquilo que nos move, que nos leva a uma sensação mais plena de realização e de entrega ao mundo. Isso é uma condição necessária para qualquer um se localizar melhor na vida e encontrar sentido nela.

Mas, ao trazer nosso olhar para um âmbito maior de existência, ela nos mostra que tem algo mais profundo sempre pedindo passagem em qualquer vida humana. E esse é o ponto que muitas vezes deixamos de enxergar quando queremos buscar propósito simplificando demais as coisas.

Patrícia me disse que toda vez que ela se vê perdida em pensamentos sobre por quais caminhos e direções seguir, quando a dúvida lhe acossa e o medo lhe ronda, ela recorre sempre a um curto de vídeo, de pouco mais de 10 minutos. Nele, o já falecido economista, Oswaldo Oliveira, que por anos inspirou uma geração de empreendedores a materializarem algumas das mais importantes experiências de organização em rede do Brasil, fala sobre abundância e propósito de vida num tom mais verdadeiro.

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Entregar ao Universo

Dada a intensidade e a profundidade da conversa que tive com Patrícia sobre vários assuntos e que se estendeu por toda uma tarde, pedi para que ela me enviasse o tal vídeo.

Pouco tempo depois me transportei por um campo mais sutil ao ouvir a fala de Oswaldo durante uma série-documentário intitulado: “O porquê das pessoas fazerem o que são”.

Ao dizer ao interlocutor que às vezes ele ficava incomodado quando a questão do propósito era explorada de forma um tanto reduzida e banalizada, Oswaldo oferece uma resposta para além do palpável: “A gente recebe a vida do divino e entrega a ele a experiência. Essa que é a nossa relação com o Universo. E a gente vem programado para viver uma experiência que vai gerar uma entrega para o Universo que é única. Que só a gente, por ser único, vai ter aquela experiência de vida”, colocou Oswaldo para, logo em seguida, concluir de uma maneira que nos coloca em um sentido maior para todas as coisas. “É meio como se o Universo falasse assim: ‘Olha, tamo precisando de você. Você precisa ir lá para, com essa configuração, viver tal coisa e incorporar esse aprendizado em nós’. O universo aprende através da gente”.

Pesquisando um pouco mais sobre a vida Oswaldo, que faleceu em 2017, descobri que ele costumava responder a quem lhe perguntasse: “De onde você é?”, ele dizia: “Da Terra”. A pergunta continuava: “O que você faz?”, ele não tinha dúvidas: “Faço o que posso”.

Fazer o que dá, fazer o que é possível na vida, pode ser uma boa maneira de diminuirmos o ímpeto de querer alcançar tudo numa busca frenética por propósito que só tem nos adoecido.

Quando penso em propósito atualmente, tento sempre levar para um caminho que não me deixe ficar preso a uma compreensão limitada do seu real sentido.

O desafio, porém, é acreditar sempre que ele já está dentro de nós.

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