Um olhar crítico sobre a solidão na velhice
Animais robóticos têm sido usados para diminuir a solidão de idosos, mas será que isso é efetivo? Relações sociais não podem ser esquecidas
A solidão é um problema global e, cada vez mais, uma realidade dolorosa que afeta idosos, trazendo consigo consequências graves para a saúde física e mental. Nos últimos anos, diversas iniciativas têm buscado combater esse problema, incluindo a distribuição de animais de estimação robóticos para idosos.
Mas até que ponto essas soluções tecnológicas são eficazes e adequadas?
O impacto da solidão na saúde dos idosos
A solidão na velhice é mais do que um sentimento desagradável; é uma questão de saúde pública. Pesquisas indicam que a solidão pode ter um impacto tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia. Ela está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares, demência, acidente vascular cerebral, depressão, ansiedade e morte prematura.
Em entrevista para o ABC News, Julianne Holt-Lunstad, professora de psicologia e neurociência, explica que a desconexão social aumenta a ativação no cérebro, o que pode levar a uma resposta inflamatória crônica, contribuindo para o desenvolvimento de várias doenças.
A tecnologia para solidão: animais de estimação robóticos
Em resposta ao crescente problema da solidão entre os idosos, o Escritório de Envelhecimento do Estado de Nova York (Nysofa) distribuiu mais de 31.500 animais de estimação robóticos, incluindo cães, gatos e pássaros.
Esses animais, embora não substituam a interação humana, oferecem conforto e um senso de companhia. Para muitos idosos, como Helen Macura, de 101 anos, um cão robótico chamado “Friendly” se tornou uma presença reconfortante e constante em sua vida.
No entanto, a eficácia desses animais de estimação robóticos vai além do conforto emocional. Estudos mostram que eles podem ajudar a reduzir o estresse e a agitação, especialmente em pacientes com demência. Eles fornecem estimulação visual e sensorial, promovendo interações que podem melhorar o humor e o bem-estar geral.
Críticas e limitações
Apesar dos benefícios observados, há críticas quanto ao uso de tecnologia para enfrentar a solidão. Alguns argumentam que estamos terceirizando a conexão humana para robôs, uma prática que pode não oferecer a qualidade de interação social necessária para combater efetivamente a solidão.
A solidão é um impulso biológico, assim como a fome e a sede, e a solução deve envolver conexões sociais consistentes e significativas.
A importância da autonomia e do envolvimento social
Além das soluções tecnológicas, é crucial considerar a autonomia dos idosos. A antropóloga Mirian Goldenberg, em seu livro A Invenção de uma Bela Velhice, destaca que a autonomia e a amizade são desejos fundamentais para uma vida satisfatória na velhice.
Autonomia significa ter a capacidade de tomar decisões e controlar aspectos da própria vida sem interferência excessiva dos familiares.
Infelizmente, em muitas situações, os filhos, na tentativa de proteger seus pais, acabam restringindo suas atividades, como idas ao supermercado, resultando em isolamento e uma sensação de invisibilidade. Aliás, para muitos idosos, a perda de autonomia é comparável a uma “morte simbólica”.
O caminho para frente
Para combater a solidão na velhice de maneira eficaz, é necessário um equilíbrio entre o uso de tecnologias de apoio e a promoção de interações sociais significativas.
Além disso, é essencial ouvir as vozes dos idosos, respeitar sua autonomia e incentivar a participação ativa na comunidade. Todos nós precisamos de ajuda em algum momento da vida, mas é vital reconhecer que os idosos sabem o que é melhor para eles e merecem ser tratados com dignidade e respeito.
A solidão pode ser um desafio complexo, mas com abordagens multifacetadas podemos criar um ambiente mais acolhedor e saudável para os idosos. Inovações tecnológicas e ações com foco na autonomia e nas relações sociais auxiliam nesse processo.
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