Todo mundo tem seu próprio processo criativo
Descobri que não existe receita ou fórmula certa para ter boas ideias, mas existem quatro etapas que podem te ajudar muito a descobrir o que funciona para você.
Descobri que não existe receita ou fórmula certa para ter boas ideias, mas existem quatro etapas que podem te ajudar muito a descobrir o que funciona para você.
Já perdi as contas de quantas vezes ouvi pessoas dizendo que não são criativas. Sei que ouço isso com frequência, porque essas mesmas pessoas consideram que, ao contrário delas, eu sou. E para tornar a história um pouco pior, em muitas situações elas dizem isso, porque estamos passando juntos por um processo que exige criatividade. E elas querem de antemão se justificar por não conseguirem entregar nada brilhante. Mesmo que não tenha ninguém esperando isso delas. Mas a gente sempre acha que tem, não é?
Por fim, olhamos para as outras pessoas, procurando padrões, fórmulas ou receitas de como fazer a criatividade fluir. Eu já fiz isso. Quando estava na faculdade de design, ouvia admirado grandes profissionais da área contando como eram seus processos. Achava genial e pensava: é isso. Se eu fizesse como ela, certamente chegaria a soluções maravilhosas. Já tentei copiar algumas atitudes e comportamentos dessas pessoas, para ver se minhas ideias melhoravam. Melhoraram? Não. No entanto, foi um ótimo exercício para descobrir a necessidade de criar meu próprio caminho criativo.
As quatro fases do processo criativo
Entretanto, talvez você precise ao menos de algumas pistas por onde seguir para não se perder, certo? Então, no início do século passado, Graham Wallas – educador, psicólogo social e cofundador da London School of Economics – desenvolveu uma teoria sobre as quatro fases do processo criativo considerada válida até os dias de hoje. Infelizmente eu só descobri a teoria de Wallas mais recentemente, todavia, é incrível como meu processo criativo se encaixa perfeitamente em cada um dos momentos que ele descreve.
Assim, a primeira fase é a Preparação. Antes de mais nada, é um momento de explorar e investigar em todas as direções. Tem gente que gosta de sair andando por aí. Outras pessoas preferem navegar pela internet, entrando e saindo de sites. Conheço pessoas que mergulham no mundo da arte, através de museus, galerias e catálogos. Meu processo começa por livros e revistas físicos e depois se expande para o ambiente digital, onde passo a explorar sites, vídeos e me perco em muitas abas do Google. Em seguida, me acho, e vou organizando os achados, vou mergulhando em pontos que me interessam mais ou parecem mais promissores. E aí paro tudo e vou cuidar de outras coisas.
Combinações inconscientes
Logo depois, começa a Incubação, segunda fase descrita por Wallas. Você pára de pensar sobre o problema objetivamente, se abstém de tentar resolvê-lo e vai fazer outras coisas. Parece contraproducente, mas enquanto você desfoca, sua cabeça vai organizando as informações e o que é mais importante: é nesse momento que outras coisas que a princípio não tinham nada a ver com seu desafio ou sua exploração, começam a se conectar aos seus achados. De acordo com o poeta T. S. Eliot, o inventor do telefone Alexander Graham Bell e o escritor Lewis Carroll reforçaram a importância dessa fase anos mais tarde. Lewis a chamava de mastigação mental, uma bela metáfora para entendermos que a ideia está ali sendo processada, sem que precisemos dedicar atenção a ela.
Na sequência, vem a Iluminação. A terceira fase é um acontecimento. Como um flash ou um encaixar das peças. De repente, algo novo surge, ou melhor, passa a ser visto. Parece algo mágico, mas é simplesmente o resultado das etapas anteriores. Eu dou uma forcinha para ela, fazendo atividades que me permitam abrir espaço para o meu pensamento, como caminhar, tomar um banho ou simplesmente olhar para o horizonte.
De volta a ação
E aí, finamente, é hora da Verificação. Uma etapa que demanda esforço consciente, tempo e energia, como a primeira e diferente das duas que a precederam. É na validação que a gente se esforça para dar forma, testar, corrigir e validar a ideia. Aqui eu costumo testar possibilidades e compartilhar com pessoas próximas para ouvir a opinião delas sobre os pontos que tenho dúvidas. Reza a lenda que Tim Maia ao terminar uma música, ia na rua e pegava uma pessoa para ouvi-la e dizer se gostou.
Quando minhas dúvidas sobre as alternativas acabam, eu reviso tudo, para ter certeza de que o desafio do início encontrou uma boa solução no final. E é assim meu processo criativo, mas não precisa ser assim o seu. Que pode ser do jeito que mais combina e faz sentido para você. Hoje eu sei que o que faz meu processo ser bom é eu respeitar minha forma de construi-lo e repeti-lo.
Tiago Belote é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas e no Uni-BH. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.
*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login