Temos nosso próprio tempo
Cada vez mais entendo a importância de respeitar meus próprios tempos, a equilibrar as atividades em prol do bem estar. Tricotar sem pressa, curtir o sossego que o fazer manual proporciona...
A semana começa, a gente pisca e já é sábado. Louco isso, né?! Que tempo é esse que engole os minutos do dia, sem sequer pedir “com licença”? Ando atenta a esses próprios movimentos, tentando equilibrar os dias entre compromissos com horários e algo que neutralize qualquer pressa, e, ao me auto observar, questiono o respeito ao meu próprio tempo.
Há certa altura da vida tive muita pressa pra viver, fazia mil coisas concomitantes, planejava formas mágicas de aproveitar cada minuto do dia. Talvez associasse a pressa com a vida adulta, talvez apenas atropelasse meus dias por acreditar que esse lifestyle fosse tendência.
Confesso, não sou das pessoas mais tranquilas que conheço e vivo em constante negociação com minha nata inquietação ariana. Porém, cada vez mais entendo a importância de respeitar meus próprios tempos, além da necessidade de equilibrar as atividades em prol do bem estar. Poderia ter pensado nisso antes? Lógico que sim, mas o meu tempo para essa mudança chegou recentemente.
Lembrei de uma época em que tricotei uma malha de lã em poucos dias; o desejo de ter a peça pronta era maior do que o prazer em tecê-la. Logo, o que era para ser prazer virou cobrança. Por que um hobby me exigiria tamanha pressa?
Atualmente meus tricôs têm sido experiências gostosas. Aprendi a tricotar sem pressa, a desmanchar (sem sofrer) em caso de erro, a curtir o sossego que o handmade me proporciona. Têm vezes que tricoto sem sequer saber qual peça exatamente nascerá dali. Isso pra mim é puro poder! Fazer devagar, curtindo ponto a ponto, vendo a peça nascer.
Outro exemplo; por anos tomei café passado pela Sra. Cafeteira. Além de prático, julgava ser um hábito que me daria mais tempo livre, afinal, me preocupava em agilizar as rotinas. Mas pra que eu queria mais tempo? Possivelmente para arrumar ainda mais atividades.
Esse olhar mais atento e generoso talvez seja a minha própria passagem do tempo, quem sabe maior maturidade, ou um resgate de tempo de qualidade. Hoje priorizo um café passado na hora, no coador de pano. Aliás, café pra mim é mais que sabor, é um ritual, e enseja pausa.
Sei que não estou sozinha no mundo dos que querem desacelerar, e sugiro um rápido exercício: feche os olhos, inspire e expire com tranquilidade, e mentalize a exótica voz de Renato Russo cantando Tempo Perdido.
Ligue sua máquina de costura e permita-se brincar, sem aguardar resultados incríveis. Assista aquele vídeo no youtube e ensaie uns pontos de crochê, de tricô, de macramê; se errar, desmanche e recomece!
Converse com um estranho na rua, com o motorista que lhe atende no aplicativo. Escreva à mão uma carta, um bilhete que seja. Apenas experimente e desfrute a sensação de não ter pressa.
Há quem afirme que temos todo o tempo do mundo; há quem acredita que não temos tempo a perder. Qual é o seu time?
Beijos meus!
Lu Gastal trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. Advogada por formação, artesã por convicção. É autora do livro “Relicário de afetos” e participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor. Seu instagram é @lugastal.
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