Sobre chegar lá

“O jeito que a gente valoriza o nosso prazer está diretamente relacionado a como a gente se realiza na vida”. Foram mais ou menos essas palavras que escutei de uma terapeuta sobre sexo e potência do feminino uns bons anos atrás. Sabe aquelas frases que resetam nossa mente e a gente pensa “uau, faz todo o sentido?”.

Eu nunca tinha pensado que nos apropriarmos da nossa energia sexual tinha total ligação com a nossa maneira de ter mais prazer em outras áreas da vida. E vice-versa. Mas não é novidade que o assunto (e a prática) é um grande tabu, especialmente entre as mulheres. Ao contrário delas, os homens estão muito mais autorizados a falar e a fazer – e, curiosamente, a ter papéis de mais destaque na vida profissional e a cultivar mais hobbies e outras práticas satisfatórias na rotina.

“Fecha as pernas”, “Pare de rir tão alto” – que mulher nunca as escutou? E exemplifico com essas duas frases não por acaso: o riso, o humor e o prazer sexual estão intimamente ligados, desde a antiguidade. Entregar-se ao prazer, nosso convite desse mês, é redescobrir uma energia vital que se expande em nossa rotina. Começa (ou termina) entre os lençóis, e alimenta muito do que a gente deseja, para além do sexo.

Trata-se de resgatar um estado de presença na vida. É saborear o café da manhã, é sentir um pouco da brisa de um fim de tarde, é nutrir um hobby no qual você se sente mais criativa. É se permitir gargalhar com as amigas sobre assuntos impublicáveis. É sentir o prazer do toque, do beijo, do olhar e das sensações que essa entrega íntima entre duas pessoas reverbera em nosso corpo – na cama e para além dela.

Desnudar-se e se autorizar, entretanto, pode ser um desafio. Daí olhar para nossas crenças, experiências e até traumas são tão essenciais para que o gozo e o riso nos encontrem. Assim, chegaremos lá podendo dizer que foi bom. Para mim, para você, para nós.