Será que você também está sofrendo com a “dezembrite”?

Sofrendo de “dezembrite”, Estéfi Machado explora as emoções turbulentas deste mês. Entre desafios e preciosidades, ela revela as nuances da vida real, onde perdas e conquistas se entrelaçam, destacando a beleza que emerge da resiliência cotidiana. Confira no texto a seguir:

Dezembrite

Peguei uma dezembrite.
Forte.
Quem dera fosse assintomática, mas não.
Veio com tudo, e além de vir com tudo, veio logo em novembro.

De repente me vi acelerada.
Permanentemente 10 minutos atrasada, virei a pessoa que eu mais temia: a que buzina de desespero quando não consegue sair do lugar.
Perdi a hora, perdi o brinco, não consegui terminar aquele livro.
Passei calor, perdi o fôlego, perdi o prazo dessa coluna.
Fiquei em dúvida entre descolar um look para o fim do ano ou um look para o fim do mundo.
Me senti culpada por estar aflita por ainda não ter arrumado um biquíni para as férias enquanto crianças morrem na guerra.
Chorei pelas mães da guerra, me alienei das notícias da guerra.
Xinguei a Taylor, não consegui não chorar pela mãe da Ana Clara.
Não consegui parar para apreciar o por-do sol-com a família e fazer aquelas fotos lindas com luz dourada. Afinal, a essa hora eu ainda nem tomei o banho do dia e sobre minha cabeça paira um coque amarfanhado e uma poça de suor escorrendo debaixo do peito.
Não consegui organizar as gavetas que paquerei desde a primeira semana de agosto, nem aprender uma nova língua enquanto durmo.

Também não consegui um tanto de coisas, mas consegui ver meu filho se apresentar na escola.
Tenho conseguido tocar violão com a família e contar causos enquanto a gente come macarrão-risoto-cuscuz-repita.
Consegui tomar suco verde quase todos os dias e fui ver o Caetano caetanear.
Tomei milkshake numa terça-feira inocente e vi uma irmã re-casar.
Abracei meus cachorros, sonhei um ninho novo, comemorei com meu parceiro e quem diria, teve até dia que me senti muito da bonita.
É, não consegui um monte de coisas.
Mas consegui um montão de outras delas.

Dezembrei.

❤️

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