Relacionamentos ideais x realidade a dois
Precisamos estar mais entre mulheres que conversam sobre a vida de verdade, sobre a dor e a delícia das relações que vivem entre altos e baixos.
Precisamos estar mais entre mulheres que conversam sobre a vida de verdade, sobre a dor e a delícia das relações que vivem entre altos e baixos
A boa parte das mulheres ainda tem como foco de realização e felicidade os relacionamentos amorosos. Assim como nos contos de fadas, novelas e filmes, onde o roteiro é baseado nos encontros e desencontros entre um casal – e o final com os dois juntos e felizes para sempre – vivemos muitas vezes tentando recriar o mesmo cenário na vida real.
Mas a vida real é feita de pessoas reais também. Cada uma com suas histórias, dores, angústias e expectativas. O que torna essa idealização toda o motivo de muitas frustrações.
Viver a dois não é um mar de rosas. O que também não quer dizer que constatar isso deva acabar com os sonhos ou esperanças de alguém. Muito pelo contrário. Estarmos conscientes de que a vida a dois está muito longe dos contos de fadas e que os conflitos são caminhos de autoconhecimento e alinhamento entre o casal, torna tudo mais prático, aceitável, flexível e fácil de lidar, pois elimina boa parte das expectativas e frustrações que podemos vir a criar e viver quando estamos centradas em um ideal de relacionamento.
Acompanho muitas mulheres desencadeando quadros depressivos por conta de expectativas criadas em torno de suas relações. Mulheres que transformaram suas vidas priorizando as vontades dos parceiros(as) esquecendo de suas próprias vontades, necessidades.
Elas acabam desenvolvendo problemas graves de saúde e síndromes como a do pânico ou crises de ansiedade ao lançarem a responsabilidade de suas realizações pessoais nas relações. O ideal de felicidade desmorona e elas não têm preparação emocional para se reequilibrarem e reencontrarem o caminho de volta a si mesmas – já que a única alternativa de caminho sempre foi moldada em direção ao outro.
Entender como fazer o retorno e cuidar de si mesmas parece impossível… E seus maiores companheiros passam a ser os medicamentos – e por longos períodos de muita dor.
Quando baseamos nossa felicidade na dependência do amor de outra pessoa, ficamos fadadas a nunca encontrarmos de fato essa tal realização. O primeiro relacionamento ao qual devemos centrar nossos esforços é o relacionamento com nós mesmas.
Assim como boa parte das mulheres tem sofrido bem mais do que se realizado na busca pelo par perfeito, a maior parcela dessas mesmas mulheres desconhece o amor-próprio, não sabe reconhecer seu valor, e não faz ideia sobre como trabalhar a autoestima.
Precisamos aceitar que o ideal é só uma ideia mesmo. Algo criado pelo sistema e cheio de influências utópicas. A verdade precisa ser reconhecida, aceita e abraçada com a naturalidade que merece.
Precisamos estar mais entre mulheres que conversam sobre a vida de verdade, sobre a dor e a delícia das relações que vivem entre altos e baixos. Precisamos de mais grupos terapêuticos com escutas sem julgamento e que vão nos ajudar a desconstruir um modelo de relação, criando novas possibilidades de nos amarmos para então estarmos preparadas para aceitar o que é viver a dois.
Compreender que o amor começa dentro de nós muda tudo.
Somente uma pessoa que se ama, se aceita e reconhece seu valor poderá, então, atrair e conectar-se com alguém que vive o mesmo consigo. Essa é a verdadeira chave para formar uma relação saudável, incondicional. E o mais bonito é que quando vivemos esse amor por nós mesmas, deixamos de buscar a felicidade fora, pois não precisamos do outro para encontrarmos o que já temos. E quando menos esperamos, aí alguém, sem máscaras, aparece.
Sem ideal e sem expectativas é que o amor verdadeiro entre duas pessoas pode fluir.
Kareemi é criadora da Ginecologia Emocional, autora do livro Viva Com Leveza (Gente) e palestrante motivacional. Nesta coluna, quinzenalmente, trará reflexões sobre os comportamentos, emoções, corpo e alma femininos. Seu instagram é @ginecologiaemocional
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