Qual o impacto de deixarmos as crianças sem tempo para brincar?
Seus filhos vivem com a agenda cheia? A infância não é um ensaio para a idade adulta, é um período de vida único e mágico que precisa ser respeitado e preservado.
A infância não é um ensaio para a vida adulta, não pode ser. Infância tem seu próprio tempo e suas próprias experiências. Ainda que a infância seja parte de um caminhar para um Eu adulto, a infância não deve possuir elementos de adultização. Sem saber o quanto é prejudicial, seguimos erguendo muros impenetráveis em torno do tempo livre de nossos filhos.
Sofia, uma criança com uma agenda sobrecarregada de atividades extracurriculares, mal tinha tempo para brincar. No mesmo prédio, Lucas ansiava por diversão e amizade. Entre atividades escolares e extracurriculares, todos os horários foram contabilizados. As mães se esforçaram para conseguir uma brecha nos dias seguintes e, com muito esforço, conseguiram marcar uma data para brincar em cinco semanas.
Essa não é uma história incomum, ela é real em nossa vida e, principalmente, na vida de nossas crianças que precisam cumprir não só suas própria atividades como também a agenda dos adultos ao seu redor.
Concordo que permitir com que as agendas dos pequenos fiquem livre, não é uma tarefa das mais simples. Isso porque, muitas vezes, significa ocupar o nosso precioso tempo com a criança, mas vale ficarmos cientes de quanto isso é prejudicial.
As crianças estão ficando sem tempo livre para brincar
De acordo com um recente levantamento do psicólogo do desenvolvimento David Elkind*, as crianças enfrentaram uma diminuição de mais de 12 horas de tempo livre por semana nas últimas duas décadas.
Um relatório intitulado “Crise no jardim de infância: a importância do brincar na escola“, divulgado pela Alliance for Childhood, apontou que os alunos do jardim de infância em Nova York e Los Angeles estão agora gastando quase três horas diárias em aulas de leitura e matemática, enquanto reservam menos de meia hora diária para o “o brincar livre”.
O excesso de atividades estruturadas vem afetando negativamente tanto a saúde mental quanto a física das crianças. Essa realidade levanta preocupações sobre o equilíbrio entre as atividades e o tempo livre para brincar durante a infância (veja também o posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte).
Um risco para a criatividade das crianças
Com o excesso de atividades, também é possível observar uma diminuição dos níveis de criatividade entre as crianças e adolescentes. Mas, não são as atividades direcionadas que prejudicam a criatividade, mas sim, a falta de tempo livre para a criança exercitar o seu lado criativo.
A maioria de nós acredita que, como pais, somos os principais responsáveis por garantir o sucesso na vida dos nossos filhos. Racionalizamos que iniciar as aulas de futebol aos 5 anos é uma boa ideia, então começar aos 3 anos deve ser melhor ainda. Que passar a tarde na aula de ballet é mais produtivo do que desenhar com giz no quintal de casa. Que fazer aula de judô aprimora suas habilidades com mais eficácia do que brincar livremente com os amigos. As agendas das crianças estão tão ocupadas que quando elas se vêem com 30 minutos livres, elas já não sabem do que brincar, a tal da criatividade não existe e o mais fácil é recorrer às telas.
Se brincar é a única parte do mundo da criança em que ela é capaz de expressar livremente o seu controle, porque então retiramos dela algo tão benéfico?
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Em um evento importante de psicologia nos EUA um pai fez a seguinte pergunta à palestrante principal: “Como sabemos o quanto devemos incentivar nossos filhos nos esportes e atividades quando eles querem desistir?”
Sua resposta foi: “Mozart sempre seria Mozart”. Não importasse o que seus pais fizessem, ele teria encontrado qualquer coisa que o levasse para o caminho da música. A mensagem dela foi clara, não precisamos pressionar nossos filhos. Precisamos oferecer espaço, liberdade para brincar e apoio quando demonstrarem seus interesses pessoais.
O que os adultos podem fazer para se libertarem da autocobrança
Esse movimento tem inicio com a libertação da nossa auto pressão, da culpa e da obrigação que colocamos sobre nós próprios em dar aos nossos filhos mais do que eles precisam. É estarmos atentas e escolher sabiamente nossos sim e não. E o principal, priorizar o tempo em família, querer passar a infância junto e estar verdadeiramente com eles, não apenas fazer coisas por eles. Permita-se o tempo!
Lidar com o vazio não é fácil. Muitas vezes, tentamos preenchê-lo com distrações, buscando constantemente novas experiências ou tentando encontrar algo ou alguém que nos faça sentir completas novamente. No entanto, pode ser importante reconhecer que o vazio faz parte da vida e que é uma oportunidade para a reflexão e a transformação. (O que é esse vazio que sentimos?)
Como preservar a magia da infância
A infância não é um ensaio para a idade adulta, é um período de vida único e mágico que precisa ser respeitado e preservado. E aqui eu te deixo um convite para que você possa olhar novamente para a agenda da criança e perceber qual a porcentagem de espaços em branco existem em sua vida para que ela tenha liberdade em pintá-los com as cores que escolher.
Para te auxiliar nesse caminhar, quero te fazer 3 indicações bem especiais:
Para ler: Pais e mães conscientes*, por Shefali Tsabary: sobre a importância dos pais cultivarem a consciência e a autenticidade em si mesmos para, em seguida, transmitir esses princípios de empoderamento aos seus filhos. Tsabary argumenta que ao se libertar das expectativas sociais e culturais, bem como do controle excessivo sobre os filhos, os pais podem criar um ambiente mais saudável e enriquecedor para o crescimento de suas crianças, permitindo que elas se tornem indivíduos autênticos e capacitados.
Para assistir: Brincar é mais do que diversão é vital, Stuart Brown, em sua inspiradora palestra TED apresentada em 2009, destacou a importância de brincar não apenas como uma forma de diversão, mas como uma necessidade vital para o desenvolvimento e bem-estar de todas as pessoas, independentemente da idade. Em sua apresentação, ele compartilhou sua pesquisa e experiências como fundador do Instituto Nacional para o Brincar.
Para ouvir: Meu PodCast – Mariana Wechsler: um podcast de histórias reais, de todos os tipos de pessoas e como elas se encontram, se amam e enfrentam a vida ao lado das crianças que convivem. Eu ouço a história, compartilho o meu conhecimento e juntas construímos histórias que cuidam de você, de mim e de todas.
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