Por que a geração Z está sofrendo com medo da vida?
O medo está presente entre os jovens. A geração Z tem sofrido também com estereótipos ruins e excesso de pressões.
Nesta semana de volta às aulas, em uma sala repleta de estudantes da geração Z, aproveitei o momento inicial dos encontros de educação socioemocional para fazer uma dinâmica: pedi para escreverem uma grande angústia de suas vidas, anonimamente. Na próxima semana, com os papéis embaralhados, vou ler cada um deles em voz alta e os estudantes vão comentar se já sentiram algo parecido, se conseguem se identificar e até podem oferecer conselhos uns aos outros. A ideia principal é fazer com que eles percebam que – muitas vezes – não estão sozinhos em seus pensamentos e tensões diante do mundo. Mais do que nunca, desta vez, o sentimento que mais apareceu foi o medo.
Esses foram apenas alguns dos exemplos reais que consegui colher e que me chamaram muita atenção:
- “Medo de não conseguir ser nada na vida”
- “De decepcionar meus pais”
- “Medo de não fazer amigos”
- “De nunca conseguir emagrecer”
- “Medo de ninguém gostar de mim”
- “De parecer algo que não sou”
- “Medo de descobrir que meus pais só estão juntos por minha causa”
- “De a minha mãe ser infeliz”
- “Medo de descobrir que não tenho nenhum talento”
- “Do futuro”
Por que eles estão com tanto medo? O que podemos fazer para ajudá-los a superar esse sentimento? E, diante de tantas possibilidades, destaco uma solução que se mostra cada vez mais urgente: precisamos parar de estereotipar a geração Z.
Estereótipos da geração Z não fazem bem
Nas redes sociais, tem sido comum aparecerem vídeos de adultos enumerando as características da nova geração com um determinismo cruel: são egocêntricos, autocentrados, individualistas, excessivamente vaidosos. Nas publicações sobre trabalho, também não faltam críticas: não gostam de trabalhar, preferem ficar desempregados a estarem em um emprego que não tem propósito. São fracos, pouco resilientes, reclamões. Por que estamos tão ressentidos com os mais novos?
Portanto, é impossível não lembrar de Paulo Freire: quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.
Parece que nos esquecemos do quanto é difícil crescer e o quanto isso se torna mais amedrontador e penoso quando tem alguém criticando todos os ideais, as ideias e as características da nossa existência.
Cada geração teve um estigma associado e, se fizéssemos o mínimo esforço honesto para lembrar o quanto as críticas definitivamente não foram determinantes para a nossa evolução, já teríamos um bom caminho andado.
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Os estereótipos escondem as qualidades dos jovens
Além disso, é bastante estranha essa nossa ilusão generalista de que uma geração inteira é igual. Tenho alunos e ex-alunos que trabalham e estudam incansavelmente, lutam pelo próprio sustento desde muito novos (e isso não está necessariamente certo), são responsáveis e cuidadosos. Lutam por causas sérias, são empáticos e preocupados com o futuro coletivo e individual. Conheço, também, jovens egocêntricos, egoístas e autocentrados. Assim como conheço adultos e idosos com as mesmas características e posturas diante da vida. Não é geracional, é essencialmente humano.
Quando rotulamos toda uma geração, estamos ignorando suas lutas reais e desvalorizando suas experiências, além de sermos injustos. O medo que expressam não é um capricho, um drama, mas uma manifestação legítima de suas preocupações e incertezas em um mundo complexo e em constante mudança. Inclusive, nós também tivemos as nossas e também estamos constantemente assustados. Imagine para quem está começando a dar os primeiros passos na vida adulta.
O medo da juventude tem raízes genuínas
Eles enfrentam desafios únicos. A crescente pressão acadêmica, a instabilidade econômica e um panorama social marcado pela polarização e pela incerteza. Assim como redes sociais que adoecem, medicalização excessiva e uma pandemia no meio disso tudo, saúde mental em frangalhos. Portanto, em vez de julgá-los com base em estereótipos superficiais, por que não olhar com mais carinho? Acolher, escutar, fazer com eles o que gostaríamos que tivessem feito conosco?
Então, já passou da hora de substituir os preconceitos e nostalgias bobas por empatia e compreensão.
Em vez de criticar de forma superficial, por que não focar em criar espaços seguros e inclusivos onde eles possam expressar suas preocupações e encontrar apoio mútuo? Será que nosso medo é descobrir que não temos nada a acrescentar?
Adultos estimulam o medo nos jovens
Escuto muitos adultos dizendo “o mundo é cruel, eles precisam estar preparados”. Quão incoerente é isso? Se o mundo é cruel, quem o deixou assim? E, se reconhecemos a crueldade, por que não estamos preocupados em apoiar a nova geração para que ela torne o mundo menos hostil, em vez de prepará-los para o pior?
Um crescimento traumático não desenvolve resiliência, apenas dor e consequências muitas vezes irreversíveis. Se a sociedade anterior fosse, de fato, melhor do que a atual, estaríamos satisfeitos com o cenário que temos hoje e não me parece que estamos sequer perto dessa conclusão. A geração atual tem muito a ensinar sobre o mundo que vem sendo desenhado; se estamos agindo como se não tivesse, talvez a falha esteja em nós mesmos.
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